Sob pressão dos EUA, Panamá cancela investimentos da China
6 de fevereiro de 2025
País anunciou que sairá da Nova Rota da Seda, programa chinês de investimento em infraestrutura, mas precisou desmentir informação falsa de que suspenderia tarifas para barcos americanos no Canal do Panamá.
Presidente do Panamá, José Raúl Mulino, (esq.) recebe secretário de Estado americano, Marco RubioFoto: Panama's Presidency Press Office Handout/AFP
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O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou nesta quinta-feira (06/02) que vai retirar o país da Nova Rota da Seda – programa do governo chinês para financiar obras e investimentos em países da América Latina e de outras partes do mundo para impulsionar o comércio.
A decisão vem a público quatro dias depois de Mulino se reunir com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que viajou ao país centro-americano como parte da agenda expansionista de Donald Trump na região.
No domingo (02/02), o presidente panamenho havia manifestado que não renovaria o acordo, o que estava previsto para acontecer em 2026. A decisão anunciada nesta quinta antecipa em alguns meses e oficializa a saída – segundo a carta de entendimento entre Panamá e China, qualquer uma das partes pode rescindir o acordo, mas só depois de três meses da notificação.
A Nova Rota da Seda foi criada em 2013 por Xi Jinping e tem um orçamento trilionário para construir e reformar estradas, ferrovias, portos, aeroportos, infraestrutura de energia e telecomunicações.
Em 2017, o Panamá foi o primeiro país latino-americano a aderir ao programa, que teve a adesão de mais de cem países desde seu lançamento. A crescente abertura à China nos últimos anos ajudou a alimentar a desconfiança dos Estados Unidos sobre a influência de Pequim no país.
O anúncio vem após meses de ameaças de Trump de "retomar" o Canal do Panamá – hidrovia que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, uma das rotas de navegação mais importantes para o comércio global. Ele alega que há um tratamento "injusto" a embarcações americanas e que a China, maior exportador global, passou a controlar a passagem.
O Canal do Panamá é operado por uma agência do governo panamenho, não por chineses. Os EUA supervisionaram a construção do canal no início do século 20 e o controlaram até o fim de 1999, quando concordaram em passar a gestão para o Panamá.
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EUA afirmam que navios terão passagem livre; Panamá nega
A viagem de Marco Rubio causou também ruídos. O governo americano divulgou que o Panamá havia concordado inclusive em não cobrar pelo trânsito de navios americanos no canal, o que foi negado na quarta-feira (05/02) pelo presidente panamenho e pela agência que controla a passagem.
"Estou muito surpreso com a declaração do Departamento de Estado [dos EUA] de ontem, porque eles estão fazendo declarações importantes com base em uma falsidade e isso é intolerável, simplesmente intolerável", disse Mulino em entrevista coletiva.
Ele acrescentou que seu cargo não lhe dá o poder de controlar os pedágios da passagem.
"Em resposta a uma publicação divulgada pelo Departamento de Estado dos EUA, a Autoridade do Canal do Panamá, que tem autoridade para estabelecer pedágios e outras taxas para transitar pelo Canal, anuncia que não fez nenhum ajuste nessas taxas", disse a agência responsável em um comunicado.
A autoridade acrescentou, em tom conciliatório, que está "pronta para estabelecer um diálogo com as autoridades americanas relevantes em relação ao trânsito de navios de guerra dos EUA".
Embarcações militares dos EUA têm prioridade de passagem pela hidrovia, de acordo com um tratado de neutralidade de 1977. Mas todos os navios, independentemente da origem, destino ou bandeira, devem pagar pedágios, que variam de acordo com o tamanho e o tipo da embarcação.
sf (EFE, Lusa, Reuters)
O mês de fevereiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: John Macdougall/AFP/Getty Images
Donald Trump impõe tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio
Presidente dos EUA, Donald Trump, assina ordem executiva determinando imposição de tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio, o que poderá afetar as exportações brasileiras. O decreto de Trump cancela isenções e cotas isentas de impostos para os principais fornecedores, em uma medida que pode aumentar o risco de uma guerra comercial multifacetada. (10/02)
Foto: Kyodo/picture alliance
Hamas anuncia retirada do exército israelense do corredor de Netzarim, em Gaza
O corredor de Netzarim é uma faixa de terra que divide o enclave palestino em norte e sul. Ele foi estabelecido por Israel quando o conflito em Gaza começou e até agora era militarizado pelo exército israelense. Como parte da trégua entre Israel e o Hamas, o exército israelense se comprometeu a se retirar do corredor e, assim, permitir que os palestinos retornem ao norte de Gaza. (09/02)
Prisioneiros palestinos libertados são saudados por uma multidão ao chegarem à Faixa de Gaza depois de serem libertados de uma prisão israelense. Israel e o grupo extremista Hamas concluíram neste sábado a quinta troca de reféns e prisioneiros, como parte do acordo de cessar-fogo em curso. (08/02)
Foto: Abdel Kareem Hana/AP/picture alliance
Rio vermelho
A água do rio Sarandí, na província de Buenos Aires, ganhou um tom vermelho vivo. A suspeita é de que o fenômeno tenha sido causado pelo vazamento de corante da indústria têxtil ou de resíduos químicos de uma fábrica próxima ao rio, que atravessa o município de Avellenada, a quase 10 quilômetros de Buenos Aires. (07/02)
Foto: Rodrigo Abd/AP/dpa/picture alliance
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O ministro da defesa de Israel, Israel Katz, ordenou que o exército prepare um plano para a saída de "qualquer residente de Gaza que deseje sair", após declarações do presidente americano, Donald Trump, sobre um possível deslocamento dos habitantes de Gaza. (06/02)
Foto: Dawoud Abu Alkas/REUTERS
Milei segue passos de Trump e retira Argentina da OMS
Presidente da Argentina, Javier Milei, segue exemplo de seu colega em Washington, Donald Trump, e retira o país da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele acusou a entidade de "crime de lesa humanidade" ao intervir nas soberanias nacionais e repetiu acusações do líder americano de "má gestão da saúde". (05/02)
Foto: Tomas Cuesta/Getty Images
Atirador deixa mortos em escola na Suécia
Um atirador matou cerca dez pessoas em um ataque a uma escola para adultos em Örebro, na Suécia. A polícia informou que o agressor também estava entre os mortos. A Suécia vem enfrentando uma onda de tiroteios e ataques a bomba resultantes do problema endêmico no país de crimes de gangues. (04/02)
Governo federal regulamenta poder de polícia da Funai
Decreto regulamenta o poder de polícia de agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A função foi prevista na lei que criou o órgão, em 1967, mas nunca havia sido regulamentada. Funcionários poderão usar a força para combater violações como ataques ao patrimônio cultural, invasões e atividades de exploração exercidas por terceiros dentro de terras indígenas. (03/02)
Foto: Reuters/Handout FUNAI
Multidão protesta contra fim do "cordão sanitário" em Berlim
Protestos eclodiram em toda a Alemanha após partido conservador CDU acatar votos da ultradireita em projeto anti-imigração, rompendo o isolamento da sigla AfD no parlamento alemão. Polícia registrou confrontos com manifestantes. Na capital alemã, 160 mil pessoas se reuniram e direcionaram palavras de ordem contra o candidato a chanceler federal Friedrich Merz. (02/02)
Foto: John Macdougall/AFP/Getty Images
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O ex-presidente da Alemanha Horst Köhler morreu aos 81 anos em Berlim. Ele foi o nono presidente alemão do pós-guerra, entre 2004 e 2010. Enquanto esteve no cargo, ele se dedicou a temas voltados para as relações exteriores, projetos de desenvolvimento na África e mudanças climáticas. Antes de entrar para a política, Köhler foi economista e diretor do FMI. (01/02)