Atentado em Bagdá com mais de 100 mortos é o pior dos reivindicados pelo "Estado Islâmico" no último ano no país, onde grupo extremista vem perdendo território. EUA reiteram apoio a forças iraquianas.
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Um ataque a bomba numa área comercial de Bagdá deixou cerca de 120 mortos na madrugada deste domingo (03/07), sinalizando que o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) ainda é capaz de atingir a capital iraquiana, apesar de uma série de perdas sofridas em batalhas no país.
O ataque – perpetrado em Al Karrada, região de Bagdá predominantemente xiita – foi o mais mortal dos reivindicado pelo EI desde julho do ano passado, quando um caminhão-bomba causou a morte de ao menos 115 pessoas na província de Diyala.
O "Estado Islâmico" assumiu a autoria do atentado deste domingo num comunicado divulgado na internet, afirmando que o alvo foram xiitas, classificados de hereges pelos extremistas.
Um suicida detonou os explosivos quando passava de carro no meio de uma multidão reunida perto da sorveteria mais popular e antiga da capital iraquiana. As pessoas se aglomeravam para fazer compras na véspera do final do mês sagrado muçulmano do Ramadã. Segundo autoridades, 11 pessoas estão desaparecidas, e 187 ficaram feridas.
Um segundo ataque na capital iraquiana neste domingo, num mercado popular na região de Al Shaab, também de maioria xiita, deixou cinco mortos e 16 feridos. Nenhum grupo reivindicou o atentado.
Perda de território
Entre os ataques reivindicados pelo "Estado Islâmico" no Iraque neste ano estão uma série de atentados a bomba em Bagdá no último dia 11 de maio, que deixaram mais de 90 mortos, e outro em um mercado do distrito de Sadr City, também na capital, que deixou 28 mortos e 62 feridos em 28 de fevereiro.
A onda de violência parece ser uma resposta do grupo extremista às perdas territoriais sofridas no país nos últimos meses. Com o apoio dos bombardeios da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, as forças iraquianas vêm garantindo uma série de vitórias contra o EI desde o ano passado. O governo recuperou das mãos dos extremistas as cidades de Tikrit, Ramadi e Fallujah, declarada livre do grupo na semana passada.
No entanto, o grupo vem conseguindo realizar ações de larga escala em território fora da linha de frente. As autoridades iraquianas haviam ligado a operação para retomar Fallujah a uma melhora da segurança em Bagdá, citando o grande número de fábricas de explosivos na cidade a uma hora da capital.
No entanto, detectores de bomba desacreditados e forças de segurança fragmentadas não têm conseguido proteger Bagdá. Muitos iraquianos culpam os líderes políticos pela violência.
Após o ataque deste domingo, o primeiro-ministro Haider al-Abadi ordenou mudanças nas medidas de segurança na capital, incluindo o abandono do uso dos detectores de bomba não funcionais.
EUA e ONU reagem
Os EUA condenaram "energicamente" os ataques terroristas "atrozes" ocorridos em Bagdá neste domingo. "Seguimos unidos com o povo e o governo iraquianos em nossos esforços combinados para destruir o EI", afirmou Ned Price, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Price ressaltou que tais ataques somente fortalecem a determinação dos EUA de "apoiar as forças de segurança iraquianas à medida que continuam recuperando território dos jihadistas".
John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado americano, afirmou que os EUA continuarão lutando contra o jihadismo radical, "para eliminar seus refúgios na Síria e no Iraque e desfazer suas redes globais".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também condenou o atentado que deixou cerca de 120 mortos em Bagdá, apelando para que o povo iraquiano "rechace qualquer tentativa de aumentar o medo e minar a unidade do país".
LPF/efe/dpa/ap/afp/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.