Sobrevivente do Holocausto condena elo entre CDU e AfD
31 de janeiro de 2025
Albrecht Weinberg, de 99 anos, quer devolver medalha da Ordem do Mérito que recebeu do Estado alemão em protesto contra aproximação entre conservadores e ultradireita. "Não aprenderam nada com a Segunda Guerra Mundial?"
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Um sobrevivente do Holocausto de 99 anos afirmou nesta quinta-feira (30/01) que devolverá a medalha da Ordem do Mérito que recebeu do governo da Alemanha em protesto contra a colaboração entre o partido conservador União Democrata Cristã (CDU) e o ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) no Bundestag (Parlamento alemão), que resultou na aprovação de uma moção que propõe uma rigorosa reforma nas políticas migratórias do país.
"Quero devolvê-la, pois os partidos uniram forças com os radicais de direita", disse Albrecht Weinberg, que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz junto com seu irmão e irmã. Ele disse que decidiu "muito espontaneamente" devolver a medalha porque "estava muito chateado com a votação no Bundestag".
"Você conhece a história alemã? Você sabe então como algumas pessoas se passando por democratas em 1933 abusaram do processo político legal para chegar ao poder? O que aconteceu no Bundestag na quarta-feira me lembrou a Alemanha em 1933, de como Adolf Hitler e o partido nazista conseguiram chegar ao poder por meios legítimos", declarou.
Weinberg, que fará 100 anos em março, passou 60 anos morando nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial antes de retornar à Alemanha, há 20 anos.
"Não aprenderam com a Segunda Guerra?"
Em 2017, Weinberg recebeu a maior honraria concedida pelo Estado alemão por seu trabalho de conscientização sobre o Holocausto nas escolas, onde compartilhou as histórias da perseguição de sua família pelos nazistas.
"A experiência que tive quando jovem foi muito perigosa e horrível para mim", disse Weinberg. "Os nazistas queriam se livrar da minha família. Embora fôssemos cidadãos alemães, eles conseguiram assassinar meus pais e quase mataram a mim e meus irmãos. Agora, esses políticos querem expulsar todos de quem não gostam. Eles não aprenderam nada com a Segunda Guerra Mundial? Eu realmente me pergunto se devo fazer as malas novamente", questionou.
Luigi Toscano, fotógrafo cujo projeto Lest We Forget compartilha histórias de sobreviventes do Holocausto, também disse que irá devolver sua medalha de Honra ao Mérito em protesto contra a votação dessa quarta-feira.
"A CDU traiu nossos valores democráticos com uma moção e o apoio de um partido que é parcialmente designado como extremista de direita", escreveu Toscano em postagem no Instagram, na qual também mencionou a decisão de Weinberg.
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CDU rompe tabu histórico
Com a aprovação da moção, a CDU violou o chamado "cordão sanitário", uma diretriz adotada pelos principais partidos alemães que os impediria de colaborar com legendas extremistas.
A medida apresentada pelo líder da CDU e candidato à chanceler nas eleições gerais de fevereiro, Friedrich Merz, somente pôde ser aprovada com os votos dos parlamentares da AfD. O texto surgiu após dois ataques ocorridos no país, onde os supostos agressores eram requerentes de asilo rejeitados que estariam na lista das autoridades para serem deportados.
A votação de quarta-feira – ocorrida a semanas das eleições gerais alemãs marcadas para 23 de fevereiro – foi realizada logo após os parlamentares realizarem uma cerimônia em homenagem às vítimas do regime nazista, e dois dias após uma cerimônia em Auschwitz que marcou o 80º aniversário da libertação do campo de extermínio pelo exército soviético em 1945.
A moção não é juridicamente vinculativa, portanto, o governo alemão não é obrigado a acatá-la. Ainda assim, o papel da AfD em aprová-la foi simbolicamente relevante e gerou uma onda de repúdio dentro e fora da Alemanha.
rc (AFP, Reuters, ots)
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.