Sobrevivente do Holocausto de 100 anos recebe prêmio
5 de julho de 2022
Margot Friedländer foi condecorada com o Prêmio Walther Rathenau por sua atuação na política externa alemã. Há mais de 10 anos, ela conta sua história em escolas para evitar que os horrores nazistas sejam esquecidos.
Anúncio
A sobrevivente do Holocausto Margot Friedländer, de 100 anos, recebeu nesta segunda-feira (04/07) o Prêmio Walther Rathenau por sua contribuição para esclarecer a perseguição e o extermínio de judeus durante o nazismo.
Na cerimônia em Berlim, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, honrou a coragem de Friedländer, bem como sua dedicação em compartilhar sua história com os jovens e o compromisso de garantir que os horrores do Holocausto não sejam esquecidos.
Friedländer nasceu e foi criada em Berlim. Ela e sua família foram perseguidas pelos nazistas por serem judeus. Sua mãe e irmão foram assassinados no campo de concentração de Auschwitz. Seu pai também foi morto.
Ela se escondeu em Berlim por 15 meses, mas acabou sendo capturada pelos nazistas e enviada para o campo de concentração de Theresienstadt. Lá conheceu o marido - ambos sobreviveram ao nazismo.
Em 1946, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, o casal mudou-se para os Estados Unidos, onde viveu por décadas. Friedländer ficou viúva em 1997 e, em 2010, aos 88 anos, resolveu retornar a Berlim.
Na Alemanha, Friedländer começou a falar regularmente em escolas e organizações sobre a perseguição nazista e suas experiências durante o Holocausto.
"Não podemos mudar o que aconteceu, mas isso nunca deve acontecer novamente", disse Friedländer nesta segunda-feira.
Friedländer já foi agraciada com vários prêmios e homenagens estatais. Retratos dela foram pintados, bustos foram lançados, e sua história tem sido contada em exposições, filmes, livros e até em história em quadrinhos. A Fundação Schwarzkopf, criada para capacitar jovens a se engajarem na política, fundou, em 2014, um prêmio anual em sua homenagem.
A jornada de Friedländer em Berlim foi registrada em uma trilogia de documentários feitos por Thomas Halaczinsky, um cineasta alemão que vive em Nova York. Friedländer também escreveu um livro de memórias, intitulado "Tente viver sua vida" (tradução livre).
Anúncio
Steinmeier: Antissemitismo não pode ser tolerado
Na cerimônia, Steinmeier elogiou a coragem de Friedländer – especialmente sua difícil decisão de retornar à Alemanha.
"Desde seu retorno, a senhora tem sido incansável em contar sua história de vida, em trabalhar pela democracia e pelos direitos humanos e na luta contra o ódio e todas as formas de antissemitismo e preconceito", disse Steinmeier.
"Nossa democracia precisa de mais pessoas como você", afirmou o presidente alemão ao entregar o prêmio.
Ele condenou veementemente a violência e a discriminação antissemita na Alemanha, dizendo que se tornaram mais aparentes durante os protestos contra as restrições impostas para conter a disseminação da covid-19.
"Me enfurece o quão descaradamente o antissemitismo está mais uma vez levantando a cabeça em nosso país, nas ruas, nos pátios das escolas, na internet", disse o presidente.
"Sim, uma democracia liberal precisa de debate, e precisa de disputa. Mas quando o ódio e a incitação ao ódio são semeados, ou mesmo quando a violência é usada, então uma linha foi cruzada. Não podemos e não vamos tolerar isso", enfatizou Steinmeier.
O que é o Prêmio Walther Rathenau?
O Prêmio Walther Rathenau é concedido anualmente a uma figura pública por suas contribuições nas áreas da política externa.
O prêmio leva o nome do primeiro ministro das Relações Exteriores judeu da Alemanha, que foi assassinado em 1922 por agressores de extrema direita apenas alguns meses depois de assumir o cargo. A Alemanha marcou o 100º aniversário do assassinato de Rathenau em junho.
Nos últimos anos, entre os ganhadores do prêmio estiveram a ex-chanceler federal alemã Angela Merkel, o ex-primeiro-ministro polonês Donald Tusk e o ex-presidente israelense Shimon Peres.
le (AFP, dpa)
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.