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Sobreviventes não perdoam "Contador de Auschwitz"

Ben Knight, de Lüneburg (av)22 de abril de 2015

Admissão de "culpa moral" no primeiro dia do julgamento não satisfaz a ex-presos do campo de extermínio, chegados de várias partes do mundo para o processo. Para advogado deles, declaração soa como deboche do Holocausto.

Foto: Reuters/J. Stratenschulte

Sobreviventes pedem justiça no caso de Oskar Gröning

03:33

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"Não posso perdoá-lo": assim o sobrevivente de Auschwitz Max Eisen resume suas impressões do primeiro dia do julgamento de Oskar Gröning na pequena cidade de Lüneburg, na Baixa Saxônia. O morador de Toronto, de 86 anos, é um dos mais de 60 autores da ação coletiva contra o ex-sargento da SS, hoje com 93 anos.

Na audiência de terça-feira (21/04), Gröning reconheceu pelo menos sua responsabilidade moral no genocídio perpetrado no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau: "Eu reconheço essa culpa moral aqui, diante das vítimas, com arrependimento e humildade. Sobre a culpa jurídica, os senhores devem decidir."

Atividades comprometedoras

No período em que trabalhou no campo, de 1942 a 1944, ele admite ter testemunhado uma execução por gás. Entre suas tarefas constava recolher o dinheiro das malas dos detentos chegados ao campo e entregá-lo à organização paramilitar SS, em Berlim – atividade que lhe valeu a alcunha "Contador de Auschwitz" na imprensa alemã.

Outra atribuição de Gröning era retirar, da rampa aonde chegavam os trens, as bagagens dos designados à câmara de gás. Na visão do Ministério Público, ele ajudou, desse modo, a apagar os vestígios da matança em massa de judeus – por exemplo, os vindos da Hungria no início de 1944. Por isso, é agora acusado de cumplicidade em pelo menos 300 mil casos.

Malas em Auschwitz: esperança de seguir viagemFoto: Reuters/P. Ulatowski

Após um dia longo, Gröning foi um dos primeiros a deixar a sala do tribunal, aparentando fragilidade ao ser levado pelos cuidadores até o automóvel. "Foi muito cansativo para ele", comenta seu advogado, Hans Holtermann.

"Mas eu acho que ele ficou aliviado de poder falar sobre os seus atos", diz o jurista, que declinou de opinar se considera o nonagenário suficientemente saudável para participar de todas as 27 audiências programadas.

Ignorância questionada

Gröning "mentiu à beça" no primeiro dia do processo, criticou Max Eisen. "Ele meio que deu a impressão de não estar realmente sabendo. O fato é que [Gröning e seus assistentes] ficavam lá na rampa e não havia como não saberem, já que todo o pessoal da SS morava nas mesmas barracas", afirmou o sobrevivente.

Eisen tampouco aceita a alegação do idoso de que "estava confuso ao chegar a Auschwitz". "Eu tinha 15 anos quando cheguei lá, e não estava confuso", rebateu.

Os avós, a mãe e os três irmãos de Eisen foram para a câmara de gás assim que desembarcaram no campo de extermínio, hoje território polonês. Ele, seu pai e o tio foram selecionados para os trabalhos forçados. Eisen se diz enojado por o réu ter se esquivado de responder ao juiz se, com o seu trabalho na época, ele contribuíra para o extermínio dos judeus.

Max Eisen: "Eu tinha 15 anos quando cheguei a Auschwitz, e não estava confuso"Foto: DW/B. Knight

Culpa real versus "culpa moral"

"Ele tenta lidar com a própria culpa", relativiza Eva Korr, outra ex-detenta de Auschwitz, vinda dos Estados Unidos para o julgamento na Baixa Saxônia. "Ele poderia ter se escondido nas sombras, como milhares de outros nazistas. Poucos tiveram a coragem de ir a público."

Assim como parte dos autores do processo, o representante jurídico de 31 deles, Thomas Walther, se revela decepcionado com o depoimento de Oskar Gröning: para os seus clientes, a mera admissão de "culpa moral" soa como um deboche do que realmente aconteceu.

"É preciso entender que os meus clientes têm estado convencidos, pelos últimos 70 anos, da culpa real de um crime extremamente profundo", afirmou o jurista. "Falar em 'culpa moral' diante do assassinato dos seus pais: como é que você se sentiria?"

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