Admissão de "culpa moral" no primeiro dia do julgamento não satisfaz a ex-presos do campo de extermínio, chegados de várias partes do mundo para o processo. Para advogado deles, declaração soa como deboche do Holocausto.
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Sobreviventes pedem justiça no caso de Oskar Gröning
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"Não posso perdoá-lo": assim o sobrevivente de Auschwitz Max Eisen resume suas impressões do primeiro dia do julgamento de Oskar Gröning na pequena cidade de Lüneburg, na Baixa Saxônia. O morador de Toronto, de 86 anos, é um dos mais de 60 autores da ação coletiva contra o ex-sargento da SS, hoje com 93 anos.
Na audiência de terça-feira (21/04), Gröning reconheceu pelo menos sua responsabilidade moral no genocídio perpetrado no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau: "Eu reconheço essa culpa moral aqui, diante das vítimas, com arrependimento e humildade. Sobre a culpa jurídica, os senhores devem decidir."
Atividades comprometedoras
No período em que trabalhou no campo, de 1942 a 1944, ele admite ter testemunhado uma execução por gás. Entre suas tarefas constava recolher o dinheiro das malas dos detentos chegados ao campo e entregá-lo à organização paramilitar SS, em Berlim – atividade que lhe valeu a alcunha "Contador de Auschwitz" na imprensa alemã.
Outra atribuição de Gröning era retirar, da rampa aonde chegavam os trens, as bagagens dos designados à câmara de gás. Na visão do Ministério Público, ele ajudou, desse modo, a apagar os vestígios da matança em massa de judeus – por exemplo, os vindos da Hungria no início de 1944. Por isso, é agora acusado de cumplicidade em pelo menos 300 mil casos.
Após um dia longo, Gröning foi um dos primeiros a deixar a sala do tribunal, aparentando fragilidade ao ser levado pelos cuidadores até o automóvel. "Foi muito cansativo para ele", comenta seu advogado, Hans Holtermann.
"Mas eu acho que ele ficou aliviado de poder falar sobre os seus atos", diz o jurista, que declinou de opinar se considera o nonagenário suficientemente saudável para participar de todas as 27 audiências programadas.
Ignorância questionada
Gröning "mentiu à beça" no primeiro dia do processo, criticou Max Eisen. "Ele meio que deu a impressão de não estar realmente sabendo. O fato é que [Gröning e seus assistentes] ficavam lá na rampa e não havia como não saberem, já que todo o pessoal da SS morava nas mesmas barracas", afirmou o sobrevivente.
Eisen tampouco aceita a alegação do idoso de que "estava confuso ao chegar a Auschwitz". "Eu tinha 15 anos quando cheguei lá, e não estava confuso", rebateu.
Os avós, a mãe e os três irmãos de Eisen foram para a câmara de gás assim que desembarcaram no campo de extermínio, hoje território polonês. Ele, seu pai e o tio foram selecionados para os trabalhos forçados. Eisen se diz enojado por o réu ter se esquivado de responder ao juiz se, com o seu trabalho na época, ele contribuíra para o extermínio dos judeus.
Culpa real versus "culpa moral"
"Ele tenta lidar com a própria culpa", relativiza Eva Korr, outra ex-detenta de Auschwitz, vinda dos Estados Unidos para o julgamento na Baixa Saxônia. "Ele poderia ter se escondido nas sombras, como milhares de outros nazistas. Poucos tiveram a coragem de ir a público."
Assim como parte dos autores do processo, o representante jurídico de 31 deles, Thomas Walther, se revela decepcionado com o depoimento de Oskar Gröning: para os seus clientes, a mera admissão de "culpa moral" soa como um deboche do que realmente aconteceu.
"É preciso entender que os meus clientes têm estado convencidos, pelos últimos 70 anos, da culpa real de um crime extremamente profundo", afirmou o jurista. "Falar em 'culpa moral' diante do assassinato dos seus pais: como é que você se sentiria?"
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.