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'OMS fomenta medo'

11 de maio de 2009

Jean Ziegler, ex-relator especial da ONU, considera desproporcionais os alertas da OMS para os riscos da gripe suína. Doença matou algumas dezenas de pessoas, enquanto 100 mil morrem de fome a cada dia, critica.

Imprensa mundial estaria sendo manipuladaFoto: AP

O sociólogo suíço Jean Ziegler criticou duramente a forma como a Organização Mundial da Saúde (OMS) está lidando com a gripe suína, oficialmente conhecida como gripe A/H1N1. Em entrevista à agência de notícias DPA, Ziegler afirmou que a campanha da OMS apenas fomenta o medo e não possui relação com a realidade.

"De 6,2 bilhões de pessoas [no mundo] morreram cerca de 45 dessa gripe nas últimas semanas. Mas 100 mil pessoas morrem diariamente em consequência da fome", declarou. Segundo ele, a cada cinco segundos uma criança com menos de 10 anos morre de fome no mundo. "Isso encaramos friamente como se fosse normal."

Ziegler disse ser "um descaramento" que um alto representante da OMS se dirija à imprensa para dizer que 2 bilhões de pessoas estão ameaçadas pelo novo vírus mutante. "Quem vê como a doença se desenvolve e diz tal coisa age de forma irresponsável", declarou.

Imprensa manipulada

Jean ZieglerFoto: AP

Ele disse que não coloca em dúvida as responsabilidades da OMS em relação à saúde da população mundial. "Mas ela deve manter as coisas dentro das suas proporções e não espalhar o medo entre as pessoas", afirmou Ziegler, que foi relator especial da ONU para o Direito à Alimentação.

O sociólogo disse que há 953 milhões de pessoas subnutridas no mundo. "Para elas não há entrevistas coletivas à imprensa nem mobilização internacional", criticou Ziegler, lembrando que todos os dias a OMS convoca a imprensa mundial para divulgar boletins sobre a situação da gripe suína. "Quando se trata da existência dos abastados, a consciência mundial é alarmada. Isso evidencia nossa cegueira e, por fim, também nossa profunda insensibilidade e nosso cinismo."

Ele alerta que a imprensa mundial está sendo manipulada de forma "espantosa" e disse que não ficaria surpreso se por trás disso houvesse grandes grupos farmacêuticos. Estes se encontram em dificuldades financeiras por causa da crise econômica, argumenta o sociólogo, e lucrariam por deter as patentes dos remédios antigripais.

AS/dpa

Revisão: Rodrigo Abdelmalack

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