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Social-democratas à beira de um ataque de nervos

(sv)30 de setembro de 2003

No momento, a tarefa do premiê Gerhard Schröder não é enfrentar a oposição, mas dissidências dentro do próprio partido. A gota d'água: o voto contrário de seis parlamentares social-democratas à reforma da saúde.

Premiê Schröder: contra a parede pelo próprio partidoFoto: AP

O tom das negociações entre os parlamentares social-democratas alemães não tem sido dos mais amenos nos últimos dias. Desde que seis deles, pertencentes a um grupo intitulado Rede, votaram na última sexta-feira (26) contra a reforma do sistema de saúde, apresentada pela coalizão de governo do próprio partido, os ânimos não mais se acalmaram.

Renúncia de Schröder –

O ápice da discussão levou o jovem parlamentar Hans-Peter Bartels, porta-voz da Rede, a sugerir até mesmo que Gerhard Schröder renunciasse à presidência do partido. A frase de Bartels ecoou pelos quatro cantos do país, provocando reações imediatas da cúpula do partido e desencadeando uma série de comentários repressores.

As declarações do parlamentar foram taxadas de "bobagem" a "disparate" e o partido tratou de varrer imediatamente da mídia a mais remota possibilidade de renúncia do premiê. Os representantes da Rede acabaram por se redimir, apontando as palavras de Bartels como "opinião pessoal". E a família social-democrata voltou à se sentar harmônica à mesa. Pelo menos por enquanto. Um eventual afastamento de Schröder, afirmou a deputada Andrea Nahles, outra representante do grupo, "não creio que seria útil".

Andrea Nahles, uma entre os seis parlamentares que votaram contra a reforma do sistema de saúdeFoto: AP

Reformas e mais reformas –

Passada a primeira batalha interna, no entanto, a coalizão social-democrata-verde sabe que dias melhores não estão por vir. Após a luta pela aprovação da reforma da saúde pelo Parlamento, várias outras mudanças radicais precisam do aval do Parlamento: do orçamento à reforma fiscal, passando por modificações nas leis que regem o mercado de trabalho, o governo pretende mudar aqui e ali o curso que o país vem seguindo.

Justiça social –

Tanto dentro do próprio Partido Social Democrata (SPD) quanto entre este e os Verdes, o consenso não é a palavra de ordem. E ao contrário do que ocorreu no caso da reforma da saúde, em outros setores conta-se com uma ferrenha oposição democrata-cristã.

Tudo leva a crer que a social-democracia no país terá que rever e redefinir um de seus pilares: o conceito do que se entende sob o signo de "justiça social". Muitas das mudanças anunciadas pelo governo, como a privatização parcial e gradual da previdência e da saúde, são vistas pela ala à esquerda do partido como uma traição às premissas básicas da social-democracia.

Uma espécie de transferência para o "outro lado". O que não parece claro para a cúpula da facção é que um bom contingente de parlamentares nada lentamente em direção à outra margem do rio. E pode até optar por desistir no meio do caminho – como os seis deputados que deram na última semana o não à reforma da saúde.

Grande coalizão –

Até fins deste ano, Schröder pretende ter conseguido aprovar boa parte das reformas propostas. E 2004 não vai ser diferente neste sentido. De uma coisa, estão todos cientes – tanto os parlamentares fiéis quanto os "rebeldes": um racha da coalizão seria para os social-democratas o mesmo que dar adeus ao poder. E isso por uns bons anos.

A tentativa de uma "grande coalizão", envolvendo social-democratas e democrata-cristãos e liberais, por outro lado, significaria certamente o fim político de Schröder. Pois nem tão fisiológico é o perfil de seu partido.

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