1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Adeus, Solana

6 de julho de 2009

Criticado como reservado demais, espanhol não mais concorrerá ao cargo de alto representante da UE para a Política Externa e Segurança Comum. Seu sucessor poderá ter mais poderes, se o Tratado de Lisboa entrar em vigor.

Javier Solana: convicção, apesar de críticasFoto: AP

Dez anos atrás, a União Europeia (UE) introduziu o posto de "alto representante da União Europeia para a Política Externa e Segurança Comum", muitas vezes referido como "chefe diplomático da UE". Até o momento, o ex-ministro espanhol das Relações Exteriores e ex-secretário da Otan Javier Solana fora o único a ocupar o posto.

Suas principais funções têm sido coordenar a política externa e de defesa do bloco, e vendê-la como opinião unânime da Europa aos parceiros de negociações. Seu segundo mandato se encerra no último trimestre de 2009. Neste domingo (05/07), Solana declarou ao jornal espanhol ABC que não ambiciona um terceiro mandato.

Discrição criticada

Gestos veementes em nome da paz no Oriente MédioFoto: AP

O socialista, que completa 67 anos no próximo 14 de julho, está convencido de sua missão. Muitos observam a opinião da Europa em questões de política externa, afirma. "Viajei por muitos, muitos países no decorrer dos anos, e onde quer que se chegue, há respeito pela União Europeia. E neste mundo complicado em que vivemos não podemos desapontar as expectativas em nós depositadas."

Isso não impediu, porém, críticas dos países-membros: Solana seria um pouco quieto e reservado demais. Porém, mesmo com o seu jeito antes discreto, nesses dois mandatos o diplomata lutou duramente pela paz no Oriente Médio, gerenciou crises nos Bálcãs e mediou o impasse sobre o programa nuclear do Irã.

Poder ampliado

Caso o Tratado de Lisboa entre em vigor na virada do ano, o cargo que ocupa será concretamente valorizado, embora se continue evitando o título "ministro europeu das Relações Exteriores". O encarregado da política externa da UE seria simultaneamente membro da Comissão Europeia, o alto escalão administrativo do bloco, passando a contar com serviço diplomático próprio.

Em Bruxelas, cogitam-se, como sucessores de Solana, o chefe da diplomacia sueca, Carl Bildt, e o deputado francês do Parlamento Europeu Michel Barbier. Porém, como o cargo será entregue em pacote, juntamente com os dos novos presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, ainda é muito difícil fazer prognósticos. Serão levados em consideração, não apenas a adequação pessoal do candidato, mas também seu direcionamento político, o tamanho de seu país natal e a distribuição regional dos cargos.

Complexidade que atrasa

Ao criar-se o posto, a intenção básica era adotar uma posição europeia unificada nas questões da política mundial. Porém todos os 27 ministros de Relações Exteriores precisam apoiar o que diz o alto representante da UE. Por isso, as tomadas de posição de Javier Solana foram, tantas vezes, extremamente vagas.

O quadro se complica ainda mais com a tentativa de delimitar as atribuições de Solana em relação às de outros dignitários da UE. Pois, paralelamente a ele, também o presidente do Conselho e o da Comissão representam internacionalmente o bloco. E acrescente-se o posto do comissário de Relações Exteriores e Vizinhança, responsável pelos vizinhos imediatos da UE, atualmente ocupado por Benita Ferrero-Waldner.

Estruturas assim complexas levam a constantes choques de competências e mal-entendidos. Como comentou Solana, numa crítica velada, é algo que consome tempo precioso. "Acho que uma das coisas mais importantes seria agirmos em tempo real. Quando ocorre uma crise, um problema político em qualquer lugar do mundo, não se pode esperar, senão perde-se tempo, dinheiro, energia e, possivelmente, vidas humanas."

Apesar de sorrisos, diplomacia da UE não alcançou muito no IrãFoto: AP

Carreira impressionante

O Tratado de Lisboa, caso passe a vigorar, simplificaria essas estruturas. Solana definiu assim a necessidade de uma reforma: "Acho que precisamos de uma voz, precisamos de uma política externa coerente, visível; precisamos oferecer uma estrutura de relações mais duradoura aos países que desejam estar conectados conosco. E para tal necessitamos, creio, de algumas mudanças".

Antes de ser nomeado pelos líderes de Estado e governo, em 1999, como diplomata-chefe da UE, Solana fora, durante quatro anos, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Também à proa da aliança militar, precisou de muita habilidade diplomática. Ele guiou a Otan durante a guerra no Kosovo e preparou o ingresso dos ex-países comunistas à UE, enfrentando a resistência da Rússia.

Javier Solana é formado em Física e filiou-se ao Partido Socialista Operário da Espanha (PSOE) em 1964, ainda durante os estudos. Em 1977, após o fim da ditadura fascista de Francisco Franco, ele representou o PSOE no Parlamento, foi ministro da Cultura e, por fim, do Exterior.

Autor: Christoph Hasselbach / Bernd Riegert
Revisão: Roselaine Wandscheer

Pular a seção Mais sobre este assunto