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Soldados com trauma de missões internacionais

Steffen Leidel (sm)16 de fevereiro de 2004

A participação em operações militares internacionais torna-se cada vez mais uma sobrecarga psicológica. O assunto ainda é tabu para muitos soldados.

Alemães vítimas de terror em Cabul no ano passadoFoto: AP

A operação militar no Iraque vem traumatizando um número cada vez maior de soldados norte-americanos. Recentemente, William Winkenwerder, médico do Pentágono, declarou que mais de 400 soldados deveriam ser retirados do Iraque em decorrência de problemas psíquicos. O que também preocupa os militares é o crescente índice de suicídio: pelo menos 21 soldados norte-americanos já se mataram no Iraque desde o fim das operações de combate, em maio.

Entre especialistas, é unânime a opinião de que operações militares no exterior sobrecarregam imensamente os soldados. Embora o índice de suicídio nas Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) não tenha aumentado, desde a retomada da participação do país em missões militares internacionais 11 soldados já se suicidaram, conforme comunicou o Ministério da Defesa à DW-WORLD. Além disso, "apesar de todas as medidas de prevenção, aumenta o número de soldados cujas condições psíquicas estão prejudicadas".

"Cifras obscuras"

O que ocasiona isso é a longa duração e o crescente número de operações no exterior, bem como o "aumento de vivências traumáticas". De 1% a 1,5% dos soldados são afetados por distúrbios psíquicos. Em comparação internacional, isso não é muito, ressalta o Ministério. A taxa média mundial fica entre 2% e 2,5%.

Para Marcus Garbers, diretor do Departamento de Orientação e Assistência da Associação do Exército Alemão, as estatísticas sobre este tema não dizem muita coisa. "Aumentam as cifras obscuras", confirma Garbers. Muitas vezes, soldados com problemas psíquicos não têm coragem de falar sobre o assunto. Na opinião de psicólogos do exército, existem militares do alto escalão que ainda consideram inadequado o soldado que não "mostre que é homem".

Sintomas depois de meses

Mesmo com um bom preparo, a dura vida nos acampamentos militares leva muitos soldados ao desequíbrio. No Afeganistão, por exemplo, a falta de esfera privada, a distância da família e dos amigos e o constante medo de atentados contribuem para isso. Vivências traumáticas, como o ataque de junho passado contra um ônibus da Bundeswehr em Cabul, são raras, mas não impossíveis. Na ocasião quatro soldados morreram, sendo que 29 ficaram em parte gravemente feridos.

Enterro de um dos soldados alemães mortos no atentado de CabulFoto: AP

O atentado não provocou apenas ferimentos corporais. Ainda hoje, as vítimas e psicólogos lutam para elaborar as terríveis imagens daquele momento. Muitas vezes, os primeiros sintomas psíquicos só aparecem depois de meses.

Os chamados distúrbios pós-traumáticos se manifestam na forma de síndrome do pânico, taquicardia, tontura, diarréia, mas também como agressividade, sensação de vazio e frustração. Se o distúrbio não for tratado, os sintomas podem perdurar durante anos. Quinze anos após o fim da Guerra do Vietnã, 250 mil soldados norte-americanos ainda sofriam de tais distúrbios, conforme divulgou a revista de reservistas Loyal.

Problemas familiares

A Associação do Exército Alemão constatou que o número de separações de casal aumentou. "Recebemos um número cada vez maior de telefonemas de soldados reclamando de problemas familiares após operações militares no exterior", diz Garbers. Um estudo do Instituto de Pesquisa Social do Exército, realizado em 2002 e ainda não divulgado pelo Ministério da Defesa, confirma esta constatação.

Uma enquete realizada entre os soldados das tropas de paz enviadas ao Kosovo (Kfor) revelou que 15% dos relacionamentos se rompem. O grupo mais afetado é o de "soldados muito jovens com relações ainda descompromissadas", afirma o Ministério da Defesa. Para os autores do estudo, ao qual a DW-WORLD teve acesso parcial, "não há razão para se preocupar". É provável que a "qualidade do casamento seja afetada pelas missões, sem que isso leve necessariamente a separações".

Garbers exige que a participação contínua de um soldado numa operação militar no exterior seja limitada a quatro meses, em vez de seis. O ministro alemão da Defesa, Peter Struck, já anunciou que está tentando viabilizar a redução. "Só esperamos que isso seja realmente posto em prática", diz Garbers. O Ministério ainda hesita em fazer declarações mais precisas: "A mudança na duração do contingente está sendo averiguada", diz o comunicado oficial.

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