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Após a guerra, o trauma

DW (uh / av)6 de agosto de 2008

Eles não são super-homens: também sobre os militares as experiências chocantes deixam graves marcas. O hospital da Bundeswehr tenta remediar as conseqüências do horror sobre a mente de seus soldados.

Imagens que deixam marcasFoto: picture-alliance/ dpa

O trauma é uma sobrecarga dos sentidos que resulta num bloqueio da psique. Um processo que afeta soldados com freqüência maior do que se pensa. Como no caso do alemão Uwe D., que sobreviveu sem um arranhão a duas missões no Afeganistão.

Porém do ponto de vista psíquico, ele não saiu tão incólume assim. "Frieza total em certas situações, uma atitude até mesmo de rejeição diante da filha e... um monte de coisinhas que você não quer ver, mas que os outros percebem muito bem", assim Uwe D descreve sua própria condição.

Encorajado pela esposa, procurou ajuda psiquiátrica no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs). E tornou-se um entre 30 pacientes cuja psique – mesmo anos após a experiência traumática – é sacudida por temores mortais, sensação de desamparo e pavor.

Sintomas físicos

"Não se trata apenas de recordações, pois elas estão sempre acompanhadas de fortes sinais físicos, taquicardia, hipertensão, como se a pessoa ainda se encontrasse numa situação de estresse agudo, ligada a emoções intensas – via de regra, ao medo extremo."

A explicação é de Karl-Heinz Biesold, diretor da clínica psiquiátrica do hospital. "O segundo complexo de sintomas é excitação constante e exagerada, propensão ao susto e distúrbios do sono. O terceiro é um comportamento defensivo: a pessoa evita tudo o que possa lembrar a experiência traumática."

Acidente fatídico

O pesadelo da guerraFoto: AP

No caso de Uwe D., tudo começou com uma patrulha de rotina, durante a qual presenciou um grave acidente. "Um caminhão afegão sobrecarregado com peles de animais capotou e se chocou contra uma padaria", relata o soldado. "Começamos imediatamente, com todos os meios de que dispúnhamos – éramos seis camaradas e vários locais – a cavar ali com as próprias mãos."

Quando conseguiram suspender o caminhão com um macaco para carros, Uwe rastejou para baixo do veículo, de onde retirou um menino de 11 anos ferido e duas garotinhas mortas.

De volta à Alemanha, ele não queria o contato com a filha de cinco anos de idade. "Quem vivenciou a proximidade fria e ainda carregou nos braços aquele corpinho inerte continua sempre revendo essas imagens, entra em atitude de defesa e as rechaça repetidamente", explica.

EMDR: terapia milagrosa e inexplicada

Passo a passo, terapeuta e paciente se aproximam das imagens e sentimentos perturbadores. Paralelamente com elementos da terapia comportamental, emprega-se cada vez mais a dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares (EMDR).

Em sua breve história, esta técnica terapêutica já conta sensacionais êxitos, embora ninguém saiba exatamente como funciona. Ela foi descoberta pela norte-americana Francine Shapiro, psicóloga e especialista em literatura, e é cercada de verdadeiro mito.

O terapeuta experiente move a mão diante dos olhos do paciente. Através da estimulação lateral ocorrem movimentos oculares semelhantes aos da R.E.M. (rapid eye movement), fase do sono em que ocorrem os sonhos mais vívidos.

Assim, supostamente se liberam os bloqueios que impedem o transporte dos sentimentos do hemisfério cerebral direito para o esquerdo, o centro da fala. Embora esta teoria já tenha sido, em parte, refutada, a técnica mantém-se altamente eficiente, se aplicada com moderação.

O corpo não mente

"Não é como um passe de mágica, que tudo esteja curado em uma só sessão", adverte Biesold. A EMDR é apenas um elemento terapêutico entre outros, perfazendo apenas três de cada 40 horas de terapia. "É trabalho duro para o paciente e para o terapeuta."

O paciente é considerado curado quando pode contar sobre o trauma relaxadamente e sem reações físicas exageradas. "Os americanos dizem: The body makes the score. Quer dizer, não se pode enganar o corpo", afirm

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