Após 13 anos orbitando ao redor do astro gasoso e explorando suas luas e anéis, nave espacial da Nasa se desintegra na atmosfera do planeta. Missão revolucionou conhecimento científico sobre Saturno.
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A sonda Cassini fez uma imersão na atmosfera de Saturno nesta sexta-feira (15/09), colocando fim à missão espacial de 20 anos que revolucionou o conhecimento científico sobre o planeta gasoso.
Cassini foi a primeira nave espacial a orbitar ao redor de Saturno. Em sua missão final, a nave enviou imagens e informações únicas sobre Saturno antes de se desintegrar na atmosfera do planeta. A Nasa confirmou que a sonda perdeu contato com a Terra às 8h55 (hora de Brasília), como previsto, e queimou nos céus sobre Saturno.
"Essa é a primeira vez que uma nave espacial explora essa região única de Saturno, uma conclusão dramática para uma missão que revelou tanto sobre o planeta anelado", escreveu a Nasa em seu site.
Cassini mergulha entre Saturno e seus anéis
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A sonda Cassini foi lançada em 1997 e atingiu a órbita de Saturno em 2004, com o objetivo de estudar os anéis, luas e o campo magnético do planeta. Ao todo, a sonda orbitou quase 300 vezes ao redor de Saturno.
"Cassini-Huygens é uma missão de descoberta extraordinária, que revolucionou nosso entendimento sobre o Sistema Solar”, diz Alexander Hayes, professor de astronomia da Universidade de Cornell, em Nova York.
Earl Maize, cientista da Nasa responsável pela missão, diz que a nave espacial foi capaz de explorar "os mistérios científicos e quebra-cabeças" do espaço.
"Grand Finale"
A fase final da missão, apelidada de Grand Finale, começou em abril deste ano, numa série de 22 mergulhos semanais entre o planeta e seus anéis. Essa fase revelou novos detalhes sobre o complexo sistema de anéis e luas de Saturno.
Uma das principais descobertas da Cassini, segundo a agência espacial americana, foi detectar a presença de hidrogênio molecular em Encélado, uma das luas de Saturno, o que tornaria o pequeno astro um dos locais mais favoráveis para o surgimento de vida fora da Terra.
Cinco fatos sobre Saturno
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A partir de análises realizadas pela sonda em amostras das plumas gasosas que emanam de rachaduras em sua superfície, os cientistas descobriram uma composição de 98% de água e 1% de hidrogênio, além de traços de outras moléculas, incluindo amônia, dióxido de carbono e metano.
A presença de hidrogênio no oceano da lua indica que micróbios, se existentes, poderiam utilizá-lo para obter energia combinando-o com dióxido de carbono dissolvido na água. Na Terra, essa reação química, conhecida como metanogênese, permite o desenvolvimento de seres vivos em profundidades nas quais a luz solar não é capaz de chegar e pode ter sido crítica para a origem da vida em nosso planeta – o que sugere que o mesmo pode acontecer em Encélado.
Segundo Hunter Waite, um dos principais autores do estudo sobre Encélado, a lua de Saturno se encontra "em primeiro lugar na lista de astros do Sistema Solar que apresentam condições habitáveis".
Cassini mergulha entre os anéis de Saturno
Lançada há quase 20 anos, sonda iniciou última etapa de sua missão: captar imagens nunca vistas de Saturno e seus anéis. Após girar 22 vezes em torno do planeta, ela vai colidir com ele em setembro próximo.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA/DLR
O mergulho
Estas imagens ainda não processadas pela Nasa foram enviadas pela sonda Cassini nesta quarta-feira (26/04). Nunca antes se esteve tão perto de Saturno.
Foto: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute
Em busca das origens
"Nunca uma nave passou por esta região", disse Thomas Zurbuchen, da Nasa. "O que aprendermos destas voltas de Cassini em torno de Saturno vai nos ajudar a compreender melhor a origem de planetas e sistemas planetários gigantes. Serão só descobertas, do início ao fim."
Foto: picture-alliance/Zumapress/JPL-Caltech
Medo de partículas
Cerca de 2.400 quilômetros separam o planeta gasoso de seus anéis. "Com base em nossos modelos, esperamos que este espaço seja livre de partículas grandes que possam danificar a sonda", disse Earl Maize, da Nasa. "Há definitivamente muita coisa desconhecida, mas essa é uma das razões por que fazemos uma pesquisa tão ousada no final da missão."
Nos quase 20 anos em que está no espaço, "Cassini" enviou fotos espetaculares à Terra, como a imagem captada no polo norte de Saturno. De acordo com as medições, ela deve ter um diâmetro de 2 mil quilômetros. Ali as nuvens se deslocam a uma velocidade de 540 quilômetros por hora.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA/Jpl-Caltech
Onde estamos
É preciso olhar muito atentamente: uma câmera grande angular da sonda espacial Cassini mostra a Terra, num ponto minúsculo a uma distância de cerca de 1,44 bilhão de quilômetros. Mais nítidos estão Saturno e seus anéis.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA/Jpl-Caltech
Temperatura nas luas
De quente a frio: as cores mostram a incomum distribuição de temperatura nas luas de Saturno Mimas e Tétis. Estes dados foram obtidos pela câmera de infravermelho da sonda.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA/Jpl-Caltech
Vida fora da Terra?
Cassini também coletou dados da lua Encélado, de Saturno. Suspeita-se que haja moléculas de água no satélite gelado. Para os cientistas, isso pode ser uma indicação para a geração de energia. Teoricamente, isso daria condições para a existência de vida.
Foto: picture-alliance/Zumapress/NASA
Mar de metano
Uma descoberta sensacional feita por Cassini foram os lagos de metano líquido sobre o satélite Titã, descoberto em 1655 por um astrônomo holandês. E ainda hoje desperta interesse. Por mais de dez anos, Cassini pesquisou Titã.
Foto: NASA/JPL-Caltech/ASI
Nuvens em Saturno
Esta imagem, que parece um rio tranquilo, foi feita pela Cassini. Ela mostra nuvens no hemisfério norte de Saturno. Ela se tornou possível graças a um filtro espectral e luz infravermelha.
Foto: picture-alliance/Newscom/NASA
Fim da missão em setembro
Se tudo der certo, em 15 de setembro de 2017 a missão de Cassini em Saturno termina: a sonda de 6,4m por 4m lançada em 15 de outubro de 1997 deverá executar 22 órbitas em torno do planeta, entrando na região entre ele e seus anéis, e se aproximar cada vez mais, até colidir com ele.