Sonhos longe de casa
7 de novembro de 2005A exposição inaugurada na última semana no Instituto Goethe de Johannesburgo retrata a vida de judeus que precisaram deixar a Alemanha nas décadas de 30 e 40, vítimas da perseguição nazista, e encontraram na África do Sul uma segunda pátria. História contada não somente por meio de fotos, textos e objetos. Para muitos sobreviventes, a memória ainda é um elemento vivo.
"Era 1936. E a chegada de navio à Cidade do Cabo, na África do Sul, foi inesquecível", lembra Emmi Wenger. A jovem de 15 anos não estava a passeio; era mais uma fugitiva do regime totalitário alemão. "Na chegada, meus olhos não acreditavam no que viam, era como se eu estivesse no País das Maravilhas", relata. De um apartamente no leste de Berlim, Emmi precisou fugir com seus pais para a África do Sul. A escolha do país tinha um motivo especial: uma tia havia contado sobre o excelente clima da região.
Tempo de dificuldades
Um ano mais tarde, o cenário foi revertido em um período difícil para o fugitivos. Somente mediante o pagamento de grandes somas de dinheiro, os alemães recebiam a permissão de entrar em território sul-africano.
Emmi Wenger reviveu em pouco tempo um sentimento que pensou ter deixado para trás quando abandonou seu país: as idéias nacional-socialistas foram absorvidas com avidez pelos arquitetos do Apartheid, que subiram ao poder em 1948. Pouco depois da Segunda Guerra Mundial se estabelecia o sistema de segregação racial.
"Eu me sentia vítima da injustiça e da opressão contra os negros como se fosse um deles", confessa. Para a alemã, a sensação era semelhante porque também vinha de um Estado repressor. Durante esse período, o fundamental era ser cauteloso ao opinar sobre o assunto. "Éramos apenas convidados, que poderiam ser mandados embora a qualquer momento."
Emmi, hoje com 84 anos, ainda se sente uma cidadã alemã, apesar da distância. Para manter o contato com sua terra natal, recebe regularmente fitas de vídeo de DVDs, com a gravação de programas sobre política e atualidades. "Apesar de tudo, o sentimento que tenho depois de 70 anos vivendo aqui é de uma fugitiva", lamenta. "De qualquer forma, eu não poderia viver novamente na Alemanha. Tenho saudade, mas não consigo esquecer o passado", conclui.
Novos comerciantes
A maioria dos cerca de 6 mil judeus alemães que fugiram para a África do Sul acrescentaram um elemento novo ao país: o estabelecimento de pequenas lojas e comércios. Beate Simon, de 76 anos, nascida em Butzbach, cidade próxima a Frankfurt, é proprietária de uma pequena empresa de cortinas e tapetes.
"Apesar de eu ser muito feliz aqui na África do Sul e ter chegado ainda quando era uma criança, tenho uma relação dividida com a Alemanha", relata. "Ainda guardo uma raiva interna porque se eu estivesse no meu país não precisaria trabalhar mais." Beate lembra com tristeza que sua família precisou abandonar uma bela casa no centro da cidade para garantir a sobrevivência.
A exposição Vida judaica na Áfica do Sul e Alemanha tem entrada gratuita e pode ser visitada até o fim de fevereiro de 2006.