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Sorria! Você está sendo filmado

Simone de Mello3 de fevereiro de 2006

Exposição enfoca interface entre indivíduo e mídia através do tema 'riso'. Com a mostra 'Smile Machines', a Transmediale deste ano, realizada de 3 a 7 de fevereiro, aposta no vício pela realidade.

'C'est bien la societé' (1999), de Valerie Pavia, na 'Smile Machines'Foto: Valerie Pavia

O riso é o mecânico sobreposto ao vivo, conforme destacou o filósofo francês Henri Bergson em seu influente ensaio analítico O Riso, de 1899. Esta máxima, transferida para a relação entre mídia e ser humano na arte contemporânea, é submetida a múltiplas reflexões na exposição Smile Machines, parte da programação do festival de arte e cultura digital de Berlim, Transmediale.

Sorriso sob coação

Flux Smile Machine (1971), uma peça do mentor do movimento Fluxus, George Maciunas, dedicada a Yoko Ono, consiste de um estojo com a foto de uma mulher rindo e uma mola a ser fixada nos lábios para forçar o riso.

Submeter a risada, uma reação humana tão espontânea, a um mecanismo coercivo também é tema da instalação de vídeo Cheese (2003), do alemão Christian Möller. As projeções mostram seis atrizes encarregadas de ficar sorrindo o maior tempo possível diante de uma câmera; um alarme, acionado por um detector de movimentos fisionômicos, dispara assim que o sorriso deixa a desejar.

A crítica a uma sociedade que inibe cada vez mais reações pessoais, tendendo a massificar e automatizar o comportamento dos indivíduos, também é veiculada por outras peças expostas.

A mídia e a mídia, em loop

'That/Cela/Dat' (2001), de Michael SnowFoto: Michael Snow

À medida que a arte começou a se equipar com aparelhos novos, também passou a refletir o perigo de apelar para mecanismos que se interpõem entre indivíduo e realidade. Sobretudo a partir das décadas de 60 e 70, a crítica à mídia – uma tradição secular, ressuscitada sempre que surge um novo meio de expressão – enfatizou a tautologia da mídia, ressaltando que o meio não se refere à realidade exterior, mas só se reproduz a si mesmo, ad infinitum.

Isso marcou a produção artística da época, em crescente processo de midiatização. Na instalação O Pensador – TV Rodin (1976/78), o artista coreano recém-falecido Nam June Paik cria uma tautologia visual através de circuito fechado, colocando uma miniatura em bronze da célebre escultura O Pensador, de Rodin, diante de uma câmera e de um monitor com sua própria imagem.

Apelando ao repertório da cultura de massa norte-americana, a artista nova-iorquina Dara Birnbaum faz uma colagem em loop com cenas do seriado de tevê da Mulher Maravilha, mostrando a atriz Linda Carter girando em círculo para se transformar em heroína e vice-versa (Technology / Transformation: Wonder Woman, 1978/79).

Outras interfaces

O uso de material midiático pré-existente também caracteriza o trabalho do duo Jodi (Joan Heemskerk, Dirk Paesmans), que se tornou conhecido por seus trabalhos de web arte em meados da década de 90.

Em Max Payne Cheats Only Gallery (2005), os artistas decompõem cenas do popular jogo eletrônico Max Payne em tela dupla. Editando longas seqüências de repetições e reduzindo ao mínimo o suspense, a instalação rompe literalmente as regras do jogo, retornando aparentemente a uma forma mais "manual" de lidar com as imagens.

Além de vídeos que tematizam a relação ser humano e máquina, a mostra ­­­­– sob curadoria da francesa Anne-Marie Duguet – inclui algumas instalações interativas robotizadas ou em terminais de computador que problematizam a interface mídia/usuário, obra de arte/observador.

O vício da realidade

Reality addicts (Viciados em realidade / Realidade vicia) é o tema da Transmediale 2006, o festival de arte e cultura digital de Berlim, que – além da exposição – inclui um programa de conferências e um concurso com projetos artísticos ligados à mídia digital.

'G3 Psych/OS Generator'Foto: jonathan gröger

O foco deste ano são as estratégias artísticas com as quais o paradigma tecnológico da realidade é subvertido: "Os viciados em realidade querem mais do que as lisas superfícies do mundo midiatizado, gostam dos paradoxos, celebram defeitos técnicos e jogam com o quase possível. Comprometem-se com o nonsense e procuram multiplicar a realidade através do exagero, da ruptura, da distância", propaga o programa do evento.

Além de a programação incluir o funk carioca através da lente da cineasta Denise Garcia e de o júri contar com a participação do brasileiro Marcos Boffa, o festival abre espaço para informar sobre o Prêmio Sérgio Motta de Arte e Tecnologia e o desenvolvimento das novas mídias no Brasil.
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