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"Sou contra a guerra e não vou fazer parte dela"

24 de setembro de 2022

Contrários ao conflito na Ucrânia, homens em idade militar fogem em massa da Rússia após mobilização parcial anunciada por Putin. "Êxodo" congestionou estradas e postos de fronteira e lotou voos internacionais.

Guardas de fronteira finlandeses conversam em ponto de travessia, Ao fundo, uma longa fila de carros.
Número de travessias de fronteira a partir da Rússia para a Finlândia aumentou em 107% em uma semanaFoto: Oliver Morin/AFP

Homens em idade militar na Rússia promoveram um êxodo do país nesta sexta-feira (23/09), que congestionou as estradas e os postos de fronteira e lotou voos internacionais.

O objetivo por trás de toda essa movimentação é fugir de uma possível convocação para as Forças Armadas, após a "mobilização militar parcial" anunciada pelo presidente Vladimir Putin.

O chefe de governo disse que 300 mil reservistas deverão ser chamados para reforçar as Forças Armadas russas, que vem enfrentando uma série de revezes na guerra na Ucrânia.

Filas de mais de dez quilômetros se formaram em uma estrada que leva à fronteira sul com a Georgia, segundo o serviço russo de mapas online Yandex.

Próximo à fronteira com a Cazaquistão, as filas de automóveis eram tão longas que alguns chegaram a abandonar seus veículos para seguirem à pé, assim como ocorreu após a invasão russa da Ucrânia, quando milhares de ucranianos fugiram para a Polônia e outros países vizinhos.

Guardas de fronteira na Finlândia, o único país europeu que ainda permite a entrada de russos com vistos para o Espaço Schengen, disseram que o número de travessias de fronteira a partir da Rússia aumentou. A imprensa local avalia que esse aumento teria sido de 107% em comparação com a semana passada.

"Não serei um assassino"

Dezenas de voos lotados – com passagens vendidas a preços altíssimos – transportavam homens russos para destinos como Turquia, Armênia, Azerbaijão e Sérvia, países para os quais os russos não precisam de visto de entrada.

Entre os que pousaram em Istambul estava um homem de 41 anos que trazia consigo somente uma mala e uma mochila. Ele planeja começar uma nova vida em Israel.

"Sou contra essa guerra e não vou fazer parte dela. Não serei um assassino. Não vou matar pessoas", afirmou o homem, que se identificou somente como Yeugeny, por temer possíveis represálias à sua família na Rússia. Ele conta que decidiu fugir depois do anúncio de Putin, na quarta-feira.

O jovem Philip, de 28 anos, conta que já serviu o Exército, motivo pelo qual acredita ser um dos alvos principais do alistamento. Ele entrou em contato com seu irmão na Turquia e ambos passaram alguns dias nas redes sociais, onde os russos se mobilizaram para compartilhar informações sobre modos rápidos e seguros de sair do país. 

Philip deixou a Rússia nesta sexta-feira em um voo para a Turquia. "Tinha certeza que essa mobilização era uma questão de tempo" afirmou, acrescentado que muitos de seus amigos também tentavam fugir. "Não queria tomar parte dessa guerra".

Belarus rastreia "fujões"

Efim, um especialista em TI de 31 anos, se mudou para a Turquia no dia seguinte ao início da invasão russa. Ele conta que não viu mais um futuro para si, dentro de seu próprio país.

"Tudo o que eu quero é separar minha vida da Federação Russa", afirmou. Ele considera criminosa a guerra como criada pelo Estado russo.

Alguns russos fugiram para o Belarus, cujo governo se mantem fiel a Moscou. Esta, porém é uma escolha que vem com alguns riscos. 

O jornal Nasha Niva, um dos mais antigos meios de informação independente em Belarus, informou que as agências de segurança do país receberam ordens para rastrear cidadãos russos que estejam fugido do alistamento, buscá-los em hotéis ou apartamentos de aluguel, para então reportá-los às autoridades russas.

Parlamento russo aprova incentivo

Autoridades russas tentam acalmar a ansiosidade da população após o anúncio do alistamento.

Nesta sexta, parlamentares aprovaram uma lei para suspender ou reduzir pagamentos de empréstimos para os russos que forem chamados para defender seu país. 

Os meios de comunicação russos enfatizaram que os reservistas terão o mesmo status dos soldados profissionais e receberão o mesmo pagamento. Além disso, seus trabalhos civis serão mantidos até eles retornarem da guerra. 

O Ministério russo da Defesa afirmou que muitos dos que trabalham com tecnologias avançadas, em finanças ou comunicações não serão incluídos no alistamento, de modo a "assegurar o funcionamento destes setores".

Alemanha cogita acolher russos

Ministros do governo alemão indicaram que, sob condições específicas, a Alemanha está pronta para receber cidadãos russos em fuga da mobilização militar parcial de Putin.

"Desertores ameaçados de repressão podem, via de regra, obter proteção internacional na Alemanha", disse a ministra do Interior, Nancy Faeser. "Qualquer um que se oponha corajosamente ao regime de Putin e, por isso, esteja em grande risco, pode pedir asilo por perseguição política", afirmou.

No Twitter, o ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, escreveu que "qualquer um que odeie o caminho de Putin e ame a democracia liberal é bem-vindo na Alemanha".

A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, elogiou os manifestantes russos contrários à guerra e acrescentou que ninguém dentro do país pode continuar fechando os olhos para o que está acontecendo na Ucrânia. "Todo russo agora corre o risco de ser convocado", disse.

rc (DPA, AP)

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