Contrários ao conflito na Ucrânia, homens em idade militar fogem em massa da Rússia após mobilização parcial anunciada por Putin. "Êxodo" congestionou estradas e postos de fronteira e lotou voos internacionais.
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Homens em idade militar na Rússia promoveram um êxodo do país nesta sexta-feira (23/09), que congestionou as estradas e os postos de fronteira e lotou voos internacionais.
O objetivo por trás de toda essa movimentação é fugir de uma possível convocação para as Forças Armadas, após a "mobilização militar parcial" anunciada pelo presidente Vladimir Putin.
O chefe de governo disse que 300 mil reservistas deverão ser chamados para reforçar as Forças Armadas russas, que vem enfrentando uma série de revezes na guerra na Ucrânia.
Filas de mais de dez quilômetros se formaram em uma estrada que leva à fronteira sul com a Georgia, segundo o serviço russo de mapas online Yandex.
Próximo à fronteira com a Cazaquistão, as filas de automóveis eram tão longas que alguns chegaram a abandonar seus veículos para seguirem à pé, assim como ocorreu após a invasão russa da Ucrânia, quando milhares de ucranianos fugiram para a Polônia e outros países vizinhos.
Guardas de fronteira na Finlândia, o único país europeu que ainda permite a entrada de russos com vistos para o Espaço Schengen, disseram que o número de travessias de fronteira a partir da Rússia aumentou. A imprensa local avalia que esse aumento teria sido de 107% em comparação com a semana passada.
"Não serei um assassino"
Dezenas de voos lotados – com passagens vendidas a preços altíssimos – transportavam homens russos para destinos como Turquia, Armênia, Azerbaijão e Sérvia, países para os quais os russos não precisam de visto de entrada.
Entre os que pousaram em Istambul estava um homem de 41 anos que trazia consigo somente uma mala e uma mochila. Ele planeja começar uma nova vida em Israel.
"Sou contra essa guerra e não vou fazer parte dela. Não serei um assassino. Não vou matar pessoas", afirmou o homem, que se identificou somente como Yeugeny, por temer possíveis represálias à sua família na Rússia. Ele conta que decidiu fugir depois do anúncio de Putin, na quarta-feira.
O jovem Philip, de 28 anos, conta que já serviu o Exército, motivo pelo qual acredita ser um dos alvos principais do alistamento. Ele entrou em contato com seu irmão na Turquia e ambos passaram alguns dias nas redes sociais, onde os russos se mobilizaram para compartilhar informações sobre modos rápidos e seguros de sair do país.
Philip deixou a Rússia nesta sexta-feira em um voo para a Turquia. "Tinha certeza que essa mobilização era uma questão de tempo" afirmou, acrescentado que muitos de seus amigos também tentavam fugir. "Não queria tomar parte dessa guerra".
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Belarus rastreia "fujões"
Efim, um especialista em TI de 31 anos, se mudou para a Turquia no dia seguinte ao início da invasão russa. Ele conta que não viu mais um futuro para si, dentro de seu próprio país.
"Tudo o que eu quero é separar minha vida da Federação Russa", afirmou. Ele considera criminosa a guerra como criada pelo Estado russo.
Alguns russos fugiram para o Belarus, cujo governo se mantem fiel a Moscou. Esta, porém é uma escolha que vem com alguns riscos.
O jornal Nasha Niva, um dos mais antigos meios de informação independente em Belarus, informou que as agências de segurança do país receberam ordens para rastrear cidadãos russos que estejam fugido do alistamento, buscá-los em hotéis ou apartamentos de aluguel, para então reportá-los às autoridades russas.
Parlamento russo aprova incentivo
Autoridades russas tentam acalmar a ansiosidade da população após o anúncio do alistamento.
Nesta sexta, parlamentares aprovaram uma lei para suspender ou reduzir pagamentos de empréstimos para os russos que forem chamados para defender seu país.
Os meios de comunicação russos enfatizaram que os reservistas terão o mesmo status dos soldados profissionais e receberão o mesmo pagamento. Além disso, seus trabalhos civis serão mantidos até eles retornarem da guerra.
O Ministério russo da Defesa afirmou que muitos dos que trabalham com tecnologias avançadas, em finanças ou comunicações não serão incluídos no alistamento, de modo a "assegurar o funcionamento destes setores".
Alemanha cogita acolher russos
Ministros do governo alemão indicaram que, sob condições específicas, a Alemanha está pronta para receber cidadãos russos em fuga da mobilização militar parcial de Putin.
"Desertores ameaçados de repressão podem, via de regra, obter proteção internacional na Alemanha", disse a ministra do Interior, Nancy Faeser. "Qualquer um que se oponha corajosamente ao regime de Putin e, por isso, esteja em grande risco, pode pedir asilo por perseguição política", afirmou.
No Twitter, o ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, escreveu que "qualquer um que odeie o caminho de Putin e ame a democracia liberal é bem-vindo na Alemanha".
A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, elogiou os manifestantes russos contrários à guerra e acrescentou que ninguém dentro do país pode continuar fechando os olhos para o que está acontecendo na Ucrânia. "Todo russo agora corre o risco de ser convocado", disse.
rc (DPA, AP)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.