"Sou um revolucionário profissional", diz Carlos, o Chacal
13 de março de 2017
No primeiro dia de julgamento, terrorista nega envolvimento em atentado no centro de Paris em 1974. Venezuelano diz ser alvo de "manipulação grosseira" da Justiça e alega não haver provas contra ele.
Carlos afirmou ser inocente e destacou que não há provas materiais que o incriminem pessoalmente. "Não há nenhuma testemunha capaz de me identificar", disse, ao tomar a palavra durante o exame de uma questão de procedimento em que seus advogados questionaram a competência do Tribunal Penal de Paris para julgá-lo.
Os juízes, no entanto, rejeitaram o pedido de seus advogados de adiar o processo e julgar seu cliente por um júri popular e não por um tribunal composto exclusivamente por magistrados, ao tratar-se de uma questão terrorista.
O venezuelano, de 67 anos, é acusado de ter lançado uma granada em 15 de setembro de 1974 na Publicis Drugstore, uma galeria comercial do Boulevard Saint-Germain. O ataque deixou dois mortos e 34 feridos. Ao todo, 27 pessoas e três associações de vítimas tomaram parte na acusação.
Carlos qualificou as associações de vítimas que se constituíram como acusação particular no julgamento dele de "carniceiros que conseguem dinheiro às custas do contribuinte francês". Trata-se de uma alusão às indenizações que poderiam ser geradas com uma sentença condenatória e que seriam pagas pelo Estado francês.
Carlos é o único indiciado neste processo, que deve se estender até o dia 31 de março, e no qual é acusado por crimes que poderiam lhe render a terceira condenação à prisão perpétua na França.
Vestido com um terno escuro e óculos com armação dourada, o Chacal se apresentou como "um revolucionário profissional" quando foi perguntado sobre sua profissão.
Num longo monólogo, Carlos falou sobre política e disse que "na França não há uma verdadeira democracia", comparando o país à "democracia participativa" que, segundo ele, existe na Venezuela desde a "revolução bolivariana" do já falecido presidente Hugo Chávez.
O venezuelano denunciou que está preso na França desde 1994 "de forma irregular", em alusão à operação dos serviços secretos que permitiu sua captura no Sudão em agosto daquele ano – pelas mãos "da CIA" americana, alega.
Próximas etapas
Após um pedido pessoal, Carlos será examinado por um médico nesta terça-feira, por problemas em um ombro que, segundo ele, podem se agravar se os agentes que o mantém sob custódia o algemarem com as mãos para trás.
O tribunal fez ainda uma revisão das testemunhas que são esperadas durante o julgamento, e várias delas apresentaram atestados médicos para não prestarem depoimentos e para que pudessem fazê-lo através de videoconferência.
A advogada do acusado, Isabelle Coutant-Peyre, alertou que não aceitará essa segunda opção, que é "uma declaração virtual", e reivindicou que as testemunhas estejam presentes fisicamente na audiência.
O terrorista venezuelano foi condenado à prisão perpétua pela primeira vez em 1997, por ter assassinado dois agentes secretos franceses e um informante em Paris em 27 de junho de 1975.
A segunda sentença à prisão perpétua, confirmada em junho de 2013, tem a ver com quatro atentados cometidos na França em 1982 e 1983, nos quais morreram 11 pessoas e cerca de 200 ficaram feridas.
Trajetória terrorista
Carlos, o Chacal, ficou famoso internacionalmente nos anos 70 e 80 por uma série de ataques terroristas, incluindo o sequestro de representantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em Viena, em 1975. Na ocasião, três pessoas morreram.
Nascido em Caracas em 1949, Ramírez era um advogado marxista. Estudou em Moscou e se mudou para o Líbano, onde ingressou na Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Na Europa, Ramírez manteve ligações com o grupo terrorista alemão Fração do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão). Ele ganhou a alcunha de Carlos, o Chacal após uma cópia do livro O dia do chacal, de Frederick Forsyth, ser encontrada por policiais em um quarto de hotel em que ele se hospedou.
CN/efe/rtr/ap/afp
O mês de março em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês.
Foto: Reuters/C. Hartmann
Reprovação recorde
Uma pesquisa Ibope mostrou que apenas 10% dos brasileiros consideram a gestão do presidente Michel Temer ótima ou boa. Já o percentual da população que classifica o governo como ruim ou péssimo é de 55% – a reprovação é a mais alta já divulgada pelo instituto. Em comparação com o governo de sua antecessora, 41% dos interrogados afirmaram que o governo Temer é pior. (31/03)
Foto: Reuters/A. Machado
Mais 15 anos
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A sentença contra o articulador do impeachment de Dilma Rousseff foi dada pelo juiz Sérgio Moro, em ação penal sobre propinas na compra do campo petrolífero de Benin, na África, pela Petrobras, em 2011. (30/03)
Foto: picture-alliance/epa/A. Machado
Início do Brexit
O governo britânico entregou a Bruxelas a carta com a qual o Reino Unido solicita formalmente sua saída da União Europeia (UE), depois de 44 anos como membro do bloco. No documento de seis páginas é invocado o Artigo 50 do Tratado de Lisboa – que estabelece o início das negociações sobre a saída do bloco comunitário. (29/03)
Foto: Reuters/Y. Herman
Ciclone na Austrália
Um poderoso ciclone atingiu a costa do nordeste da Austrália, derrubando cercas, arrancando árvores e deixando dezenas de milhares de casas sem energia elétrica. O ciclone batizado de Debbie, uma tempestade de categoria 4 e que registrou picos de até 260 quilômetros por hora, atingiu a terra entre as cidades de Bowen e Airlie Beach, uma área turística no estado de Queensland. (28/03)
Foto: Reuters/AAP/D. Peled
Roubo espetacular
Uma moeda única foi roubada do Museu Bode em Berlim. A polícia alemã disse que os ladrões provavelmente usaram uma escada para entrar no museu. A escada teria sido usada para acessar o edifício a partir dos trilhos de trem vizinhos ao local. A polícia não explicou como os ladrões conseguiram evitar os alarmes e fugir enquanto carregavam a peça pesada, avaliada em 1 milhão de dólares. (27/01)
Foto: picture-alliance/dpa/M. Mettelsiefen
Conservadores emplacam vitória em ano eleitoral
Os democrata-cristãos alemães saíram reforçados das eleições regionais no estado do Sarre, tendo ganhado o pleito com vantagem em relação aos social-democratas, até mesmo melhorando os resultados da votação anterior. Êxito regional fortalece a chanceler federal Angela Merkel, na primeira de uma série de votações neste ano de eleições gerais. (26/03)
Foto: picture-alliance/dpa/O. Dietze
Cidadãos se manifestam pró-União Europeia
Nos 60 anos dos Tratados de Roma, cerca de 80 mil foram às ruas de Londres protestar contra a iminente retirada do Reino Unido da UE. Os manifestantes portavam dizeres como "Terrorismo não nos dividirá, o Brexit sim", "Brexshit", ou "Quero estar dentro da UE". Em Berlim, pelo menos 4 mil saíram em passeata a favor do projeto europeu. No Portão de Brandeburgo, derrubaram um muro simbólico. (25/03)
Foto: picture-alliance/empics/J. Stillwell
Primeira derrota de Trump no Congresso
Os líderes republicanos na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos decidiram retirar da pauta a votação sobre a reforma do sistema de saúde americano, que substituiria o chamado "Obamacare". Mesmo após mobilização intensa do governo de Donald Trump e apesar da maioria republicana no Congresso, a liderança do partido não conseguiu o apoio que precisava para aprovar a proposta. (24/03)
Foto: Reuters/C. Barria
Luto em Londres
Centenas de pessoas se reuniram no centro de Londres em homenagem às vítimas do ataque terrorista que deixou quatro mortos e 40 feridos na véspera. Durante a vigília, que contou com o prefeito Sadiq Khan, os presentes fizeram um minuto de silêncio e acenderam velas para prestar condolências às famílias. O autor, identificado como o britânico Khalid Masood, de 52 anos, também morreu. (23/03)
Foto: Reuters/D. Staples
Londres é alvo de ataque
Um ataque nos arredores do Parlamento do Reino Unido paralisou o coração de Londres. O agressor primeiro avançou com um veículo contra pedestres na ponte Westminster, matando pelo menos três pessoas e deixando dezenas de feridos. Próximo dali, no perímetro do Parlamento, o motorista esfaqueou um policial, que também morreu, antes de ser baleado e morto pelas forças de segurança. (22/03)
Foto: picture alliance/dpa/I. Aldama
Mais mercados em alerta por crise da carne
Em meio ao escândalo provocado pela operação Carne Fraca, Hong Kong, maior importador de carne bovina do Brasil, suspendeu temporariamente a importação do produto do país. O Centro de Segurança Alimentar de Hong Kong mencionou que "a qualidade da carne exportada do Brasil é questionada". Em seguida, México e Japão anunciaram vetos semelhantes, unindo-se à União Europeia, China e Chile. (21/03)
O bilionário americano David Rockefeller, patriarca de uma das mais influentes famílias dos Estados Unidos, morreu aos 101 anos em decorrência de uma falência cardíaca, informou um porta-voz da família em nota. Famoso pela filantropia, o banqueiro era filho de John D. Rockefeller Jr., que desenvolveu o famoso Rockefeller Center, e neto do magnata do petróleo John D. Rockefeller. (20/03)
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. van Tine
Mais mortes no Peru
O número de mortos devido às inundações no Peru subiu para 75, de acordo com o Centro de Operações de Emergências Nacional (Coen). Vinte pessoas estão desaparecidas e 263 ficaram feridas. As enchentes afetaram cerca de 600 mil pessoas. Mais de 100 mil casas foram destruídas com a força das avalanches de lama, chamadas pelos locais de "huaycos". (19/03)
Foto: Reuters/G. Pardo
Ataque em aeroporto de Paris
Um homem foi morto a tiros pelas forças armadas francesas depois de tentar roubar a arma de uma militar do serviço de vigilância terrorista no aeroporto de Orly, no sul de Paris. O agressor era conhecido pela polícia e os serviços de inteligência franceses. O Ministério do Interior não descartou motivação terrorista. Aeroporto foi totalmente evacuado e todos os voos foram suspensos. (18/03)
Foto: Reuters/B. Tessier
Trump recebe Merkel
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, foi recebida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca, para o primeiro encontro entre os dois líderes. Em coletiva após a reunião, eles listaram alguns dos temas discutidos, que incluem Otan, Rússia, Ucrânia, o comércio internacional, bem como questões migratórias e o combate ao terrorismo no Iraque, Síria e Afeganistão. (17/03)
Foto: picture allianceAP/dpa/E. Vucci
Enchentes no Peru
As enchentes que ocorrem em várias regiões do Peru, desde dezembro, deixaram 62 mortos e 11 desaparecidos. Devido às cheias, provocadas por intensas chuvas, 11 regiões de um total de 25 decretaram estado de emergência. A previsão é que as chuvas continuem até final de abril. (16/03)
Foto: Reuters/D. Juarez
Guerra na Síria completa seis anos
Em março de 2011, protestos eclodiam na Síria em busca de uma mudança no regime que governava o país desde a década de 1970. Os protestos que começaram pacificamente escalaram num conflito de extrema crueldade, que já dura mais do que a Segunda Guerra Mundial e, segundo estimativas da ONU, custou mais de 400 mil vidas e levou mais da metade dos 21 milhões de sírios a abandonar suas casas. (15/03)
Foto: picture alliance/dpa/A. Muhammed
Nevasca nos EUA
A tempestade Stella atingiu a costa leste dos Estados Unidos. Neves de até 60 centímetros de altura e ventos fortes eram aguardados na região da Nova Inglaterra e no estado de Nova York. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, declarou estado de emergência. O mau tempo levou ao adiamento da viagem oficial da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, a Washington. (14/03)
Foto: Reuters/A.Kelly
Novo referendo
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou que vai pedir ao Parlamento escocês para que inicie o processo de um novo referendo sobre a independência do país do Reino Unido. O pedido, que deve ser apresentado na próxima semana, prevê que a consulta popular ocorra entre o fim de 2018 e o início de 2019, antes do prazo previsto para a conclusão do Brexit. (13/03)
Foto: Reuters/R. Cheyne
Seis anos de Fukushima
Em Tóquio, japoneses param para um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tripla tragédia - terremoto, tsunami e acidente na usina nuclear de Fukushima - ocorrida seis anos antes, em 11 de março de 2011. Mais de 18 mil pessoas morreram no desastre. (11/03)
Foto: picture-alliance/AP Photo/Kyodo/J. Ozaki
Impeachment na Coreia do Sul
O Tribunal Constitucional sul-coreano destituiu do cargo a presidente Park Geun-hye. O afastamento, movido por um escândalo de corrupção, gerou protestos de centenas de simpatizantes, e dois manifestantes morreram em confrontos com a polícia. O país deve realizar eleições em dois meses para a escolha de um sucessor. Enquanto isso, o premiê Hwang Kyo-ahn assume como presidente em exercício. (10/03)
Foto: Getty Images/South Korean Presidential Blue House
Ataque em Düsseldorf deixa feridos
Pelo menos sete pessoas ficaram feridas durante um ataque perpetrado por um agressor portando um machado na estação ferroviária central de Düsseldorf, no oeste da Alemanha. A polícia informou ter detido um suspeito, um homem de 36 anos nascido "na antiga Iugoslávia" e que reside na cidade alemã de Wuppertal. "O suspeito parece ter problemas psicológicos", dizia a nota das autoridades. (09/03)
Foto: picture-alliance/dpa/D. Young
Manifestações pelo mundo no Dia da Mulher
O Dia Internacional da Mulher foi marcado por protestos e paralisações em todo o mundo. Mulheres foram às ruas em dezenas de países, como Brasil, Argentina, Estados Unidos, França (foto), Índia e Turquia, evidenciar temas como desigualdade e violência de gênero. No Brasil, movimentos também condenaram a reforma da presidência. Uma greve geral entre mulheres foi convocada em vários países. (08/03)
Foto: Getty Images/AFP/B. Langlois
Morre urso polar em zoo de Berlim
O filhote de urso polar Fritz morreu no zoológico Tierpark, em Berlim. Em fevereiro, dez mil pessoas em diversos países sugeriram um nome para o ursinho. Conhecido como um herdeiro do famoso urso Knut, Fritz não resistiu ao agravamento de um quadro de inflamação no fígado, mas a causa exata da morte, que comoveu funcionários e visitantes do Tierpark, deve ser anunciada em alguns dias. (07/03)
Foto: picture alliance/dpa/Tierpark Berlin
Trump assina novo decreto anti-imigração
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma versão revisada da polêmica ordem executiva anti-imigração emitida em 27 de janeiro e suspensa pela Justiça. Por 90 dias, estarão proibidos de entrar nos EUA cidadãos de Irã, Somália, Iêmen, Líbia, Síria e Sudão. O Iraque, porém, foi retirado da lista. Refugiados serão vetados por 120 dias. O decreto entra em vigor em 16 de março. (06/03)
Foto: Reuters/C. Barria
Congresso Nacional do Povo se reúne na China
Incremento do orçamento de defesa e aprovação parcial do primeiro Código Civil chinês dominam encontro do órgão legislativo, que vai até 15 de março. Segundo porta-voz do congresso, Fu Ying, decisão sobre gastos militares depende das intenções dos EUA no Mar do Sul da China, e o país "precisa se proteger da interferência de fora". (05/03)
Foto: picture alliance/Photoshot/J. Peng
Esquerda e direita em "briga de barulho"
Cerca de mil manifestantesse reuniram em Berlim contra uma passeata de extrema direita pelo centro da capital. Com cartazes como "Sem marcha nazista em Berlim" e "Não à AfD", em alusão ao partido populista de direta Alternativa para a Alemanha, os antifascistas realizaram uma "competição de barulho" para abafar os neonazistas reunidos sob o slogan "Merkel tem que ir". (04/03)
Foto: picture alliance/dpa/M. Gambarini
Banksy na Cisjordânia
Banksy espalhou sua arte pelos cômodos do novo hotel The Walled Off em Belém, na Cisjordânia ocupada, e cujos quartos têm vista para o muro de separação construído por Israel. O selo do artista urbano britânico está em todos os dez dormitórios do hotel, que fica na área C da Cisjordânia, sob o controle militar de Israel. Tanto palestinos quanto israelenses poderão visitá-lo. (03/03)
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Vranic
Sem imunidade parlamentar
O Parlamento Europeu retirou a imunidade parlamentar de Marine Le Pen, candidata da extrema direita à presidência da França. A líder do partido Frente Nacional é acusada de divulgar imagens violentas, no caso de vítimas do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), postadas no Twitter. Ela pode agora responder a processo. (02/03)
Foto: Reuters/R. Prata
Fillon na mira da Justiça
O candidato dos conservadores à presidência da França, François Fillon, disse que será formalmente investigado por ter supostamente criado empregos falsos para a mulher e os filhos, mas que mantém a sua candidatura às eleições de 23 de abril. Fillon disse que foi chamado para comparecer perante um juiz no dia 15 de março e negou as acusações, classificando-as de assassinato político. (01/03)