SPD elege novos líderes críticos à coalizão com Merkel
30 de novembro de 2019
Candidatos contrários a permanecer na aliança com a legenda da chanceler federal alemã ganham corrida para comandar o Partido Social-Democrata, derrotando um aliado de Merkel. Resultado põe em xeque o futuro do governo.
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Os membros do Partido Social-Democrata (SPD) alemão elegeram neste sábado (30/11) seus dois novos líderes, ambos críticos da coalizão com a legenda da chanceler federal Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), o que coloca em xeque o futuro do governo.
O SPD anunciou que Norbert Walter-Borjans, ex-secretário de Finanças do estado da Renânia do Norte-Vestfália, e a deputada Saskia Esken venceram a eleição pela liderança do partido de centro-esquerda com 53,06% dos votos.
A dupla derrotou o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, e sua colega de chapa Klara Geywitz, que são a favor de manter o SPD na coalizão de governo. Eles obtiveram 45,33% dos votos. O resultado caiu como um duro golpe para Scholz, o mais conhecido dos candidatos e aliado de Merkel. A imprensa alemã afirma que ele pretende continuar em seu cargo de ministro.
Cerca de 425 mil membros do partido estavam registrados para votar. O resultado do pleito deste sábado ainda precisa ser confirmado em uma conferência do partido entre 6 e 8 de dezembro.
Se Walter-Borjans e Esken forem confirmados como líderes do SPD, sua primeira missão deverá ser decidir se o partido permanecerá em um governo de coalizão com a CDU de Merkel.
Muitos membros da legenda social-democrata são a favor de deixar o governo e reconstruir o apoio ao partido na oposição. Isso provavelmente resultaria em novas eleições no país ou abriria caminho para um governo minoritário fraco e incerto, já que a CDU sozinha não tem cadeiras suficientes para formar maioria dentro do Parlamento.
A oposição à permanência do SPD na coalizão veio justamente da dupla vencedora neste sábado. Walter-Borjans e Esken já disseram que eles estão dispostos a deixar o governo, a menos que os conservadores de Merkel aceitem renegociar seu acordo de coalizão.
Para os dois políticos social-democratas, o pacto deve ser mais focado em justiça social, investimento e políticas climáticas. A CDU, por sua vez, rejeita alterar o acordo.
O SPD, o partido mais antigo da Alemanha, busca desesperadamente reconquistar seus eleitores, após uma série de perdas eleitorais e uma forte queda de apoio em pesquisas de opinião.
A eleição para a liderança do partido ocorre seis meses depois de a ex-líder do SPD Andrea Nahles ter deixado o cargo após resultados decepcionantes no pleito para o Parlamento Europeu. Nas eleições gerais alemãs em 2017, o apoio ao partido caiu para o nível mais baixo desde 1993.
Atualmente, as pesquisas de opinião colocam o SPD com 14% do apoio do eleitorado, ficando em terceiro lugar no país atrás da CDU de Merkel e do Partido Verde, mas ainda à frente dos populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD).
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.