SPD inicia contagem de votos sobre coalizão com Merkel
3 de março de 2018
Em votação pelo correio, os 460 mil membros do Partido Social-Democrata puderam dizer se aprovam ou não o acordo para formação de governo com CDU e CSU. Resultado pode pôr fim a meses de impasse político na Alemanha.
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Após mais de cinco meses de impasse político, a Alemanha terá uma resposta sobre o destino de seu governo. O Partido Social-Democrata (SPD) deu início neste sábado (03/03) à contagem dos votos de seus filiados sobre uma coalizão com a legenda da chanceler federal Angela Merkel.
Os cerca de 460 mil membros do partido tiveram dez dias para responder "sim" ou "não" à seguinte pergunta: "O SPD deve fechar o acordo acertado em fevereiro de 2018 com a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU)?".
As condições do pacto – das medidas concretas a serem implementadas à distribuição dos ministérios entre os partidos – foram detalhadas em um acordo de 177 páginas negociado a duras penas entre as lideranças em janeiro e fevereiro.
O prazo para o recebimento das cédulas, pelo correio, era esta sexta-feira, 2 de março. Na tarde deste sábado, milhares de envelopes lacrados chegavam à sede do SPD em Berlim, entregues por um caminhão dos serviços postais.
Cerca de 120 voluntários do partido fazem agora a contagem dos votos, que deve seguir madrugada adentro. O anúncio do resultado está previsto para as 9h deste domingo (horário de Berlim).
A participação na votação foi "muito, muito alta", afirmou o presidente interino do SPD, Olaf Scholz, antes de uma reunião da liderança do partido em Berlim. Scholz assumiu o cargo de maneira provisória após a renúncia de Martin Schulz, em fevereiro.
"Só podemos estar preparados para boas notícias. Não especulo outro resultado que não seja o sim", disse, por sua vez, Andrea Nahles, líder da bancada do SPD no Parlamento e possível sucessora de Schulz à frente do partido. "Mas, naturalmente, estou um pouco nervosa."
A base decide
Assim como há quatro anos, os social-democratas terão, portanto, a palavra final sobre uma reedição da chamada grande coalizão com a CDU e a CSU. Ao contrário da eleição de 2013, quando 76% dos membros do SPD disseram "sim" a um governo com Merkel, desta vez a situação não está tão clara.
Muitos social-democratas consideram que pontos importantes do programa eleitoral do partido não foram contemplados nas negociações com os conservadores, por exemplo a questão da reunião familiar para refugiados.
E muitos também veem de forma crítica a mudança de rumo de Schulz, que havia declarado que o SPD iria para a oposição na noite da eleição de 24 de setembro, quando era ainda presidente do partido.
Com o fracasso das negociações anteriores, para uma coalizão dos conservadores com os liberais e os verdes, Schulz acabou mudando de opinião e agora quer levar o SPD para uma terceira coalizão com Merkel, de novo como parceiro minoritário.
Alguns setores do partido, porém, fizeram campanha feroz contra o acordo com os conservadores. É o caso dos Jovens Socialistas (Jusos, na sigla em alemão). Eles afirmam estar fartos da "política do mínimo denominador comum", numa alusão às concessões que são necessárias para se chegar a um acordo de coalizão, e argumentam que os eleitores rejeitaram a grande coalizão nas urnas, com uma queda de 14 pontos percentuais.
Além disso, o SPD recebeu desde janeiro mais de 24 mil novas filiações, incluindo de cidadãos que não estão necessariamente relacionados com o partido, mas queriam aproveitar a oportunidade para decidir novamente sobre o futuro governo. Não se sabe se os novatos são majoritariamente a favor ou contra a coalizão.
Em caso do "não"
Um "sim" dos social-democratas daria luz verde a um novo governo de coalizão na Alemanha sob a liderança de Angela Merkel, que por sua vez iniciaria seu quarto mandato consecutivo como chanceler federal. Mas o que acontece se os filiados do SPD votarem contra a grande coalizão?
"Aí haverá nova eleição", costuma ser a resposta. Mas na verdade não é tão simples assim. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento em Berlim) não pode se dissolver, e nem Merkel nem Schulz podem pedir novas eleições. Isso tudo é inconstitucional.
O único que pode fazer algo é o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. Só ele pode sugerir um candidato a chanceler federal ao Bundestag – pela Lei Fundamental (Constituição), ele até mesmo é obrigado a fazer isso. Pois, antes de a população ser chamada de novo às urnas, os deputados precisam eleger um chanceler. Do resultado dessa eleição, que pode se repetir várias vezes, dependem os passos futuros.
Ou seja, de uma forma ou de outra, o presidente vai indicar um candidato a chanceler federal para o Bundestag, que vai se posicionar sobre a sugestão. Mesmo no caso de fracasso da aliança da CDU/CSU com o SPD, tudo indica que esse candidato será Merkel. Ela é, afinal, a presidente do partido mais bem votado na última eleição.
Na primeira rodada de votação, o candidato indicado necessita da maioria absoluta dos 709 deputados. Até hoje, todos os chanceleres federais alemães foram eleitos na primeira rodada. Mas, sem o apoio do SPD, a história deverá ser diferente desta vez: Merkel não conseguirá a maioria absoluta.
Se isso acontecer, há um prazo de 14 dias para que o Bundestag eleja um chanceler federal, com base em sugestões próprias. A maioria absoluta continua sendo necessária. Se ela não for alcançada, uma nova rodada de eleição deverá acontecer logo após o término do prazo de duas semanas. Aí basta alcançar a maior parte dos votos, não importando se o número representa mais da metade ou não.
Aí entra novamente em cena o presidente: ele deverá decidir se nomeia o candidato votado pelo Bundestag como chefe de um governo de minoria ou se dissolve o Parlamento e convoca nova eleição em 60 dias.
Tanto CDU e CSU quanto o SPD não querem uma nova eleição. Entre os conservadores, não está claro se Merkel seria de novo candidata à chanceler federal. E, entre os social-democratas, há o temor de que os eleitores deem ainda menos votos ao SPD se forem de novo às urnas.
EK/dw/dpa/efe/rtr
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A história da eleição alemã
Após Segunda Guerra, Alemanha já realizou 18 pleitos para eleger um Parlamento nacional e, subsequentemente, um ou uma chanceler federal. Veja quem ganhou.
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1949: Adenauer vence eleições pós-guerra
A primeira eleição após a Segunda Guerra Mundial foi, sem dúvida, a mais importante na história da República Federal da Alemanha e, certamente, a mais apertada. Konrad Adenauer, candidato da União Democrata Cristã (CDU), tornou-se o primeiro chanceler federal da então Alemanha Ocidental pela margem de um voto – o seu próprio. Seu governo se mostraria muito estável. E muito popular.
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1953: Konrad Adenauer é reeleito
Se a primeira eleição da antiga Alemanha Ocidental foi dramática, a segunda foi arrebatadora. Sob a liderança de Konrad Adenauer, a CDU levou 45,2% dos votos contra 28,8% do Partido Social-Democrata (SPD). Graças à coalizão com três outros partidos, Adenauer desfrutou uma maioria de dois terços no Parlamento.
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1957: Adenauer ganha segunda reeleição
Na terceira eleição da Alemanha Ocidental pós-guerra, a CDU de Adenauer aliou-se ao partido conservador da Baviera, a União Social Cristã (CSU), para formar a CDU/CSU, aliança que muitas vezes é denominada de "União". Juntas, as duas legendas levaram mais de 50% dos votos. Adenauer tinha 81 anos quando iniciou seu terceiro mandato como chanceler federal.
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1961: Última vitória eleitoral de Adenauer
Aos 85 anos, Konrad Adenauer venceu sua última eleição, mas seu mandato não foi feliz. Seus críticos o acusaram de não responder adequadamente à construção do Muro de Berlim. Em 1963, ele renunciou a favor do seu vice e ministro da Economia, o político conservador Ludwig Erhard. Em 1961, o Parlamento alemão era composto somente por três bancadas: CDU/CSU, SPD e Partido Liberal Democrático (FDP).
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1965: Milagre econômico leva Erhard à vitória
Ludwig Erhard (dir.) conseguiu estender a série de vitórias eleitorais dos conservadores, embora isso viesse a acabar em breve. O ex-ministro da Economia ganhou pontos pela prosperidade da Alemanha Ocidental, mas não teve sucesso em política externa e renunciou no meio de seu mandato. Seu substituto, Kurt Georg Kiesinger, foi o único chanceler federal a nunca ter vencido eleição para o cargo.
Os anos 1960 foram um período em que as pessoas na Alemanha Ocidental, como em outras partes do mundo, passaram a questionar tradições e, no último ano da década, o prefeito da antiga Berlim Ocidental, Willy Brandt, se tornou o primeiro chanceler federal social-democrata. Na realidade, o SPD recebera menos votos que a União CDU/CSU, mas uma coalizão com os liberais do FDP lhe garantiu o poder.
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1972: Brandt vence, mas não por muito tempo
As eleições alemãs seguintes foram adiantadas um ano depois que Brandt foi afastado através de uma moção de confiança. Essa medida foi negativa para os conservadores. Pela primeira vez no pós-guerra, o SPD obteve mais votos que CDU/CSU nas eleições gerais. Mas um companheiro próximo de Brandt revelou-se espião da Alemanha Oriental, e Willy Brandt renunciou a favor de Helmut Schmidt.
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1976: Helmut Schmidt solidifica o poder
Helmut Schmidt, sucessor de Brandt, conseguiu manter-se à frente da Chancelaria Federal em 1976, apesar de o SPD ter obtido 6 pontos percentuais a menos que a União CDU/CSU. Graças ao parceiro de coalizão, o Partido Liberal Democrático (FDP), a balança pendeu a favor do SPD. Essa foi a primeira eleição na Alemanha Ocidental em que jovens de 18 anos puderam votar. Antes, a idade mínima era 21.
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1980: Schmidt é reeleito, mas parceiro se vai
A reeleição de Schmidt foi relativamente fácil, em parte porque, pela primeira vez, o candidato dos conservadores vinha da União Social Cristã (CSU). Schmidt, no entanto, não conseguiu apoio popular para o seu governo. Em 1982, o parceiro de coalizão FDP deixou o governo, aliando-se à União CDU/CSU para substituir Helmut Schmidt por um chanceler federal conservador.
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1983: Helmut Kohl dá início a longo reinado
Para ganhar legitimidade, o chanceler federal Helmut Kohl, da CDU, adiantou as eleições gerais para 1983. A jogada valeu a pena, pois os conservadores venceram os social-democratas por 48,8% contra 38,2% dos votos. Muitos esquerdistas consideravam Kohl uma figura grosseira demais para ficar muito tempo no poder. Mas estavam errados. Nesse pleito, os verdes entraram pela primeira vez no Parlamento.
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1987: Kohl se reelege em onda conservadora
Os anos 1980 foram conservadores, com Ronald Reagan nos EUA, Margaret Thatcher no Reino Unido e Kohl na Alemanha. E o político da CDU aproveitou a onda para se reeleger. Para Kohl, foi uma alegria ter aparecido junto a Reagan em seu famoso discurso "Sr. Gorbachev, derrube este muro". Mas poucos imaginavam que ele iria cair em breve e que aquelas seriam as últimas eleições da Alemanha Ocidental.
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1990: Kohl vence sob signo da Reunificação
Kohl (dir.) brindou a reunificação da Alemanha com o primeiro-ministro da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière, em 3 de outubro de 1990, e dois meses depois, eleitores de todo o país foram convocados a votar em outra eleição antecipada. O clima era de euforia, e não havia quem vencesse o "chanceler da Reunificação". Kohl foi eleito para um terceiro período legislativo.
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1994: Triunfo final para Kohl
Em 1994, cinco anos depois da queda do Muro de Berlim, os primeiros problemas sociais causados pela Reunificação se tornaram visíveis. Mesmo assim, a reeleição de Kohl foi relativamente confortável. Isso se deveu em parte a um fraco adversário social-democrata, que ficou conhecido, entre outros, por tropeçar na diferença entre líquido e bruto na TV alemã.
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1998: Schröder inicia experiência de coalizão
Em 1998, os eleitores estavam cansados de Kohl, e o social-democrata Gerhard Schröder (esq.) soube se aproveitar disso. O SPD venceu a União CDU/CSU por 40,9% contra 35,1% dos votos e formou uma coalizão com o Partido Verde, liderado por Joschka Fischer (c.). Esta foi a primeira eleição em que o PDS (hoje A Esquerda), sucessor do antigo partido socialista alemão-oriental, entrou para o Parlamento.
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2002: Schröder vence reeleição após 11/9
Na eleição de 2002, SPD e a União CDU/CSU tiraram a mesma porcentagem de votos: 38,5%. Schröder conseguiu se reeleger por seu parceiro de coalizão, os Verdes, ser mais forte que o FDP. Uma das tarefas mais árduas de Schröder foi lidar com George W. Bush. Depois do 11 de setembro, o chanceler federal proclamou "solidariedade ilimitada" com os EUA, mas a Alemanha não apoiou a Guerra do Iraque.
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2005: Início da era Merkel
Em 2005, Angela Merkel tornou-se a primeira mulher a governar a Alemanha, após Schröder, que em meio a críticas por seus programas de austeridade econômica, antecipou mais uma eleição. A política da antiga Alemanha Oriental ganhou por pouco. A vantagem dos conservadores sobre o SPD foi inferior a 1% e, em seu primeiro mandato, Merkel passou a chefiar uma "grande coalizão" com o principal rival.
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2009: Merkel realiza "coalizão dos sonhos"
O resultado do segundo pleito parlamentar de Merkel foi muito mais claro que o primeiro. Enquanto o apoio ao SPD despencava, os liberais do FDP, liderados por Guido Westerwelle, ganhavam votos. Como resultado, os conservadores foram capazes de formar uma coalizão com seus parceiros prediletos. Para a centrista Merkel, essa coalizão parecia ter saído de um sonho.
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2013: Merkel comemora terceiro mandato
Em 2013, Merkel estava consolidada como a política mais popular da Alemanha, e os conservadores terminaram à frente do SPD nas eleições. Mas como os liberais não conseguiram alcançar o limite de 5% dos votos para entrar no Parlamento, a chanceler federal reeleita teve que formar outra grande coalizão. Isso não impediu "Angie", como é conhecida carinhosamente hoje em dia, de saborear uma cerveja.
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2017: Ascensão dos populistas de direita
CDU/CSU e SPD foram os partidos mais votados, mas tiveram seu pior resultado desde o pós-guerra. Enquanto os liberais voltaram a ser representados no Bundestag, a grande vitória foi da legenda populista Alternativa para a Alemanha (AfD) – pela primeira vez desde a 2ª Guerra, um partido nacionalista está representado no Parlamento alemão.