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SPD sai vencedor das negociações com Merkel

8 de fevereiro de 2018

Derrotado nas urnas, Partido Social-Democrata consegue resultado surpreendente nas negociações para formação de governo na Alemanha, ficando com três ministérios de peso. Na CDU, desconforto é evidente.

Martin Schulz e Andrea Nahles
Schulz e Nahles defendem o acordo com os conservadores em entrevista conjunta em BerlimFoto: Reuters/H. Hanschke

As árduas e longas negociações para a formação de uma coalizão de governo na Alemanha, encerradas nesta quarta-feira (07/02), resultaram numa inversão curiosa: o partido vencedor nas urnas saiu perdedor das negociações, e o derrotado nas urnas foi o vitorioso na constituição do governo.

Pois o Partido Social-Democrata (SPD), que havia alcançado meros 20,5% dos votos em 24 de setembro, abocanhou três grandes ministérios: Finanças; Exterior; e Trabalho e Social. A União Democrata Cristã (CDU), então vitoriosa com 33% dos votos, não levou nenhum ministério de peso.

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Essa situação deixa claro o quanto Angela Merkel precisava do SPD – na verdade ainda precisa, pois os mais de 460 mil filiados do partido ainda podem rejeitar o acordo alcançado em votação. O SPD também precisava de Merkel, pois a outra opção seria uma nova eleição, que poderia resultar em perda de votos ainda maior, com o partido provavelmente ficando abaixo dos 20%.

Só que Merkel precisava ainda mais do SPD do que o SPD dela – sem os social-democratas, dificilmente haverá um quarto mandato. Nem mesmo estava certo se ela seria a candidata à chanceler federal numa eventual nova eleição, diante do crescente enfraquecimento interno e das críticas cada vez menos tímidas.

Um fracasso nas negociação com o SPD seria uma nova derrota numa já longa lista de reveses para a chanceler, aos olhos do próprio partido. Essa lista começa com o desconforto gerado dentro da CDU pela abertura das fronteiras aos refugiados. Segue com a queda de 8,5 pontos e o crescimento da AfD na eleição de 2017, quando Merkel declarou que não sabia o que poderia ter feito diferente. E continua com o fracasso na conduções das primeiras negociações de formação de coalizão, com liberais e verdes.

Um novo fracasso, desta vez nas negociações com o SPD, praticamente enterraria as pretensões de Merkel de voltar à Chancelaria Federal. A ironia da história é que, tendo que pagar um alto preço para conseguir fechar um acordo de coalizão, Merkel acumulou uma nova derrota aos olhos do partido, que agora está insatisfeito com a distribuição de ministérios ao SPD e também à aliada União Social Cristã (CSU).

Assim, Merkel começará este quarto mandato – se ele realmente sair do papel – ainda mais enfraquecida internamente, e a revolta contra ela deve se tornar cada vez mais visível – e audível. Na imprensa conservadora, o desagrado era evidente nesta quinta-feira: "Liquidação da Merkel – o SPD vence as negociações de coalizão, e a CSU é vice. Os restos ficam para a CDU", escreveu o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Já o SPD enfrenta a situação oposta. De grande derrotado nas urnas e moral baixa, o partido conseguiu sair fortalecido das negociações. Além dos três ministérios de pesos, conseguiu deixar suas marcas no acordo de coalizão em pontos fundamentais para os social-democratas, como emprego e aposentadorias. Sindicatos elogiaram o acordo. A indústria criticou.

A jornada de negociações também mostrou que no SPD despontam lideranças para o futuro. Com Andrea Nahles, os social-democratas têm uma forte candidata à chancelaria federal na próxima eleição. Outras lideranças também são fortes, como Manuela Schwesig e Malu Dreyer. O processo de participação das bases também revelou rostos da nova geração, como Kevin Kühnert, além de dar ao partido um ar democrático e atraente para os mais jovens.

 

Na CDU, ao contrário, depois de mais de uma década de domínio de Merkel, há poucos nomes de peso para o futuro, com a possível exceção de Julia Klöckner.

A única nota dissonante nesse surpreendente sucesso do SPD foi dada por Martin Schulz. Menos de um ano depois de assumir a presidência do partido e ser saudado como um messias, o ex-presidente do Parlamento Europeu se despede da liderança com um balanço melancólico: depois de conduzir seu partido ao pior resultado eleitoral do pós-Guerra, ainda quebrou duas vezes a própria palavra.

Primeiro, Schulz prometeu ir para a oposição – e acabou lutando para convencer os filiados a entrar no governo. Depois, disse que não seria ministro de Merkel – e agora pediu para si o Ministério do Exterior. Difícil imaginar um final mais decepcionante para quem, afinal, carregava as esperanças de renovação do SPD.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.

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