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Sri Lanka, um país asiático nas mãos do terror islamista?

Shamil Shams av
22 de abril de 2019

Atentados que mataram e feriram centenas chamam a atenção para tensões sociais e religiosas no país insular do Oceano Índico de maioria budista, onde há dez anos a violência comunal parecia relativamente sob controle.

Relatives of victims react at a police mortuary following bomb blasts in Colombo
Foto: Reuters/D. Liyanawatte

O governo do Sri Lanka declarou nesta segunda-feira (22/04) que o grupo fundamentalista islâmico local National Thowfeek Jamaath (NTJ) estaria por trás dos atentados fatais a bomba do Domingo de Páscoa, resultando em quase 300 mortos e outras centenas de feridos.

Segundo o porta-voz Rajitha Senaratne, que também integra o gabinete, o governo estaria examinando as ramificações do NTJ. "Não vemos como uma pequena organização como esta, neste país, pôde fazer tudo isso. Estamos agora investigando o apoio internacional a eles, suas outras conexões, como conseguiram os homens-bomba e bombas como essas."

Noticiou-se que em 11 de abril o chefe da polícia nacional divulgara uma advertência segundo a qual uma "agência internacional de inteligência" teria advertido que o grupo planejava atentados contra igrejas e contra a Alta Comissão Indiana. No domingo, as autoridades anunciaram a prisão de 13 cidadãos cingaleses suspeitos de ligação com os ataques.

"Não sabemos muito sobre o NTJ, mas ele parece semelhante a outros grupos terroristas ativos no Sul Asiático, como o Ansarullah Bangla Team (ABT) em Bangladesh. Ambos são aparentemente inspirados na Al Qaeda", explicou à DW Siegfried O. Wolf, especialista na região pelo Fórum Democrático do Sul Asiático, sediado em Bruxelas.

"Sua meta principal é espalhar uma ideologia jihadista e criar medo e ódio. Ele é também contra qualquer tipo de reconciliação nacional, e portanto trabalha para manter vivos os conflitos étnicos e religiosos."

Atentados fatais contra igrejas e hotéis causaram consternação por todo o mundoFoto: Reuters/Stringer

Nos últimos anos, têm sido tensas as relações entre a comunidade budista majoritária do Sri Lanka e a minoria muçulmana. Em março de 2018 o governo declarou estado de emergência em nível nacional, a fim de coibir a violência comunitária entre muçulmanos e budistas. Segundo analistas, porém, apesar de devastado por décadas da insurgência separatista tâmil esmagada pelos militares em 2009, o estado insular tem pouco histórico de violência islamista.

A maioria da população cingalesa é budista, com apenas 10% de fé islâmica e 6% de cristãos. "Os grupos fundamentalistas islâmicos locais não são muito fortes. Mas também é verdade que a maioria dos suspeitos pelas detonações do domingo pertence à comunidade muçulmana", observa o ativista cingalês dos direitos humanos S.T. Nalini.

O analista Wolf observa que, assim como muitos grupos islamistas locais ativos no Sul da Ásia, também o NTJ quer alastrar o movimento jihadista por aquela ilha do Oceano Índico.

"Grupos terroristas internacionais estão cada vez mais se apoderando de conflitos locais para estender o jihad global a diferentes partes do mundo. O conflito dos uigures na província ocidental chinesa de Xinjiang e o dos rohingyas em Myanmar são dois exemplos. Em ambos os casos, as organizações globais procuram instrumentalizar problemáticas locais para ampliar sua influência."

As organizações tentam igualmente ganhar atenção internacional e adquirir novos recursos. "O Sri Lanka se tornou uma das mais populares destinações turísticas, nos últimos dez anos, através dos tremendos esforços do governo. Atentados como esses prometem atenção internacional", diz Wolf, segundo quem as igrejas da ilha são alvos fáceis para os terroristas.

Além disso, os grupos militantes cingaleses têm um longo histórico de se associar a organizações internacionais de terrorismo. "A necessidade de gerar fundos levou até mesmo grupos separatistas como os Tigres de Tâmil a procurarem ajuda externa."

Autoridades crê que, com ataques, grupos islamistas visam atrair atenção mundialFoto: Reuters/Stringer

Os atentados também suscitam temores de uma ressurgência da violência comunal que tem repetidamente afligido o país no Oceano Índico. No fim do domingo, a polícia informou que uma mesquita do noroeste sofrera um atentado a bomba de gasolina, e duas lojas de proprietários muçulmanos, no oeste, foram incendiadas.

As explosões representam, ainda, um forte golpe para as autoridades cingalesas, que nos últimos dez anos vinham, em parte, conseguindo manter sob controle a violência no país. As décadas de insurgência no norte do país mataram milhares, até que o ex-presidente Mahinda Rajapaksa derrotou o movimento separatista Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE) numa operação militar, em 2009.

No entanto, a ausência de violência não significa que o Sri Lanka superara suas graves cisões sociais e políticas, alerta Siegfried Wolf. "O conflito étnico-religioso entre a maioria cingalesa budista e a minoria tâmil hindu terminou em 2009, mas o conflito ainda existe no país, pois não houve qualquer solução política para esse problema multifacetado."

Além disso as tensões econômicas e financeiras estariam crescendo devido à implementação da infraestrutura para a Iniciativa do Cinturão e Rota da China. "Apesar do incremento do turismo, o desenvolvimento desigual e as intervenções estrangeiras também estão funcionando como um catalizador para conflitos políticos no Sri Lanka", explica o analista do Fórum do Sul Asiático.

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