Satélite anunciado como o objeto mais brilhante no céu nos próximos meses tem como objetivo lembrar as pessoas da imensidão do universo. Iniciativa gera revolta entre astrônomos e astrofísicos.
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Ao olhar para o céu durante a noite, não estranhe se por acaso vir um objeto resplandecente semelhante a um globo de uma discoteca.
A startup de pesquisas espaciais Rocket Lab, com sede na Califórnia, lançou nesta semana um foguete a partir de uma remota fazenda Nova Zelândia. O primeiro lançamento realizado em solo neozelandês foi amplamente comemorado em todo o país. O diretor executivo da startup, Peter Beck, afirmou se tratar de um avanço "quase sem precedentes" na exploração comercial do espaço.
Mais tarde, foi revelado que além de carregar satélites convencionais, o foguete transportava secretamente uma esfera coberta de espelhos chamada Humanity Star, que, segundo o neozelandês Beck, será o objeto mais brilhante no céu noturno nos próximos meses.
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A Humanity Star é uma esfera geodésica de fibra de carbono com 65 painéis refletores, projetada para girar rapidamente e refletir a luz solar para a Terra. Espera-se que complete a órbita do planeta a cada 90 minutos num padrão elíptico, viajando em velocidade 27 vezes superior à do som.
"O objetivo é fazer com que as pessoas olhem para o alto e se deem conta de que estão numa rocha localizada num universo imenso", afirmou Beck.
Seu desejo é que o satélite sirva para que as pessoas possam olhar além de seus problemas cotidianos e enfrentar desafios maiores, como as mudanças climáticas e a escassez de recursos no planeta. Por isso, Beck se opôs à comparação de seu satélite a um simples globo de discoteca. "Mas, na verdade, é sim uma gigante bola de espelhos", admitiu.
"Grafite espacial"
Muitos astrofísicos condenaram a iniciativa do neozelandês. A poluição causada pela luz é uma das grandes preocupações dos cientistas que estudam as estrelas, e a introdução de uma esfera brilhante na órbita terrestre não foi bem recebida.
"Esse caso, por si só, não é tão grave, mas a ideia de que se torne algo comum, especialmente em larga escala, deixará muitos astrônomos no olho da rua", disse o astrofísico Richard Easther da Universidade de Auckland, na Austrália. "Posso entender a exuberância desse tipo de coisa, mas tenho a sensação de que eles não perceberam que as pessoas podem ver um lado ruim nisso", afirmou ao jornal The Guardian.
Caleb Scharf, diretor de astrobiologia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, foi ainda mais longe ao escrever na revista científica Scientific American que "a maioria de nós não acharia bonitinho se eu colocasse luzes estroboscópicas intensas num urso polar, ou gravasse o slogan de minha empresa nos perigosos pontos mais altos do Everest".
"Encravar uma esfera reluzente e brilhante no céu me parece um abuso semelhante. É sem dúvida um lembrete de nosso frágil lugar no universo, porque infesta a mesma coisa que tenta urgentemente celebrar", ressaltou o pesquisador.
Mike Brown, astrônomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia agradeceu ironicamente a Rocket Lab por ser a pioneira em levar ao espaço "grafite de longa duração".
A Humanity Star deverá ficar em órbita durante nove meses. O satélite deve se desintegrar durante a reentrada na atmosfera. Beck havia dito que planeja enviar ao espaço no futuro outros satélites desse tipo, mas que aguardaria para ver a reação das pessoas. Resta saber se a revolta demonstrada por astrônomos e astrofísicos fará com que ele cancele os planos.
RC/ap/ots
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Missão Voyager: há 40 anos no espaço
Em 20 de agosto de 1977, a sonda espacial Voyager 2 partiu para explorar outros planetas, seguida 16 dias mais tarde pela Voyager 1. Ambas já romperam os limites do sistema solar e vagam pela Via Láctea.
Foto: picture-alliance/dpa
Duas sondas irmãs em longa viagem
Em 20 de agosto de 1977, a sonda da Nasa Voyager 2 partiu para um voo recorde, ainda não concluído. Pouco mais tarde, em 5 de setembro, seguia-se a Voyager 1, de construção idêntica. Sua finalidade inicial era coletar dados sobre os planetas Júpiter e Saturno, então basicamente inexplorados. Mas graças à longa durabilidade das baterias de plutônio, a missão foi sendo estendida.
Foto: REUTERS/NASA/JPL-Caltech
Maiores sucessos da Nasa
Pesando 825 quilos cada uma, as duas sondas Voyager contam entre os maiores sucessos da agência espacial americana. Até hoje, ambas enviam regularmente dados do espaço sideral. Embora se afastem cada vez mais do centro do sistema solar, o contato por rádio ainda funcionará por um bom tempo. A Nasa calcula que a missão vá até o ano 2030.
Foto: public domain
Rompendo fronteiras do sistema solar
Em 25 de agosto de 2012, a Voyager 1 atravessou uma das fronteiras do sistema solar: a heliopausa, onde o vento solar esbarra em outros ventos estelares. A sonda foi o primeiro objeto de fabricação humana a penetrar o espaço interestelar da nossa galáxia, a Via Láctea. Além disso é o artefato mais afastado da Terra, encontrando-se atualmente a uma distância 139 vezes maior do que a do Sol.
Foto: picture-alliance/dpa
Como uma cebola
O sistema solar tem diferentes fronteiras. A primeira é o "termination shock", onde os ventos solares ficam subitamente muito mais lentos. Depois, a heliopausa marca o fim da heliosfera, a "bolha" espacial em que os ventos solares protegem nosso sistema solar da radiação interestelar. Depois que a Voyager 1 ultrapassou a heliopausa, a Nasa registrou uma densidade plásmica 40 vezes maior.
Fotografando a vizinhança
Mesmo antes disso, as sondas irmãs tiveram muito a descobrir entre os fascinantes planetas do sistema solar. A Voyager 1 enviou à Terra em 1º de janeiro de 1979 esta imagem de Júpiter, uma das 17.477 que tirou do planeta gigante e suas luas. Esta foto comprovou pela primeira vez a existência de um delgado sistema de anéis circundando Júpiter.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA
Imagens detalhadas
A Voyager 1 documentou também as correntes atmosféricas em Júpiter, visualizadas nesta foto. Depois de a sonda passar pelo planeta, a gravidade deste lhe conferiu uma velocidade de 16 quilômetros por segundo.
Foto: picture-alliance/dpa/NASA
Saturno a cores
A Voyager 2 alcançou Saturno em 1981, transmitindo esta imagem em cores reais do sexto planeta do sistema solar. A foto foi tirada a 21 milhões de quilômetros de distância – um verdadeiro close-up em termos cósmicos.
Foto: HO/AFP/Getty Images
Tudo sob controle
Numa foto de 1980, a central de controle da missão Voyager, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. A partir daqui, as distantes sondas são observadas e, dentro do possível, teleguiadas. Hoje em dia a técnica é obviamente muito mais avançada, mas Nasa continua tendo que recorrer aos conhecimentos dos engenheiros que desenvolveram as sondas – embora há muito eles estejam aposentados.
Foto: NASA/Hulton Archive/Getty Images
Long-play para alienígenas
As Voyager levam a bordo estes discos dourados, para o caso de encontrarem extraterrestres em sua viagem infinita. No suporte digital encontram-se imagens e sons de humanos, animais e da natureza na Terra. Para o caso de os alienígenas não possuírem toca-discos, foram também fornecidos agulhas de reprodução e um guia de instruções.
Foto: NASA/Hulton Archive/Getty Images
Arte sideral
As missões Voyager não apenas fascinam há décadas os aficionados da tecnologia, mas têm também inspirado artistas. Assim um pintor americano anônimo imaginou em 1977, pouco antes do lançamento, a passagem da Voyager 1 por Saturno.