1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

STF aprova novo julgamento para 12 dos condenados do mensalão

Ericka de Sá, de Brasília19 de setembro de 2013

Voto do decano Celso de Mello leva Supremo Tribunal Federal a aceitar nova análise de sentenças de condenados do esquema de corrupção e compra de votos de parlamentares. Fim do julgamento pode ser adiado para 2014.

Foto: Reuters

O mais antigo magistrado do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, votou na quarta-feira (18/09) pela retomada do julgamento de 12 dos 25 réus condenados no processo do mensalão. O novo processo jurídico será aplicado para os crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Com a decisão, polêmica e cercada de expectativas nos últimos dias, Mello desempatou o placar com seis votos a cinco para aceitar os chamados embargos infringentes. Estes são recursos que permitem um novo julgamento quando a sentença pronunciada teve uma votação apertada entre os ministros (juízes) da máxima corte de Justiça do Brasil.

Os 12 réus que serão beneficiados pela decisão tiveram pelo menos quatro votos a favor da absolvição durante o julgamento do mensalão, esquema de corrupção e compra de votos de parlamentares denunciado em 2005 e julgado no ano passado. Para o STF, o esquema está provado e não deverá ser colocado em questão com os novos julgamentos.

Entre os que poderão apresentar os recursos, estão alguns dos nomes mais fortes do processo: o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o ex-presidente do PT, José Genoino, o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, e o publicitário Marcos Valério, todos condenados por formação de quadrilha.

Ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, é o nome mais emblemático do processo e terá novo julgamentoFoto: MAURICIO LIMA/AFP/GettyImages

A revisão do crime não afeta as condenações por outros crimes, como corrupção e má administração pública, mas a pena pode mudar significativamente. No caso de Dirceu, se for absolvido da acusação de formação de quadrilha, a pena pode cair de 10 para sete anos. Nesse caso, poderá cumprir a sentença em regime aberto ou semiaberto, já que a prisão em regime inicialmente fechado é obrigatória apenas para condenações superiores a oito anos.

Polêmica e nova fase do mensalão

Os chamados embargos infringentes são previstos no regimento interno do STF, mas uma lei de 1990 que aborda o funcionamento dos tribunais no Brasil não cita esse instrumento legal – o que, para alguns ministros do Supremo, significa que esses recursos não podem ser aceitos porque teriam sido anulados pela lei. Os juízes que votaram contra o recurso alegaram que ele visaria apenas alongar o processo.

Outros consideram que as normas da corte definem que é preciso realizar um novo julgamento. As divergências fizeram com que Celso de Mello tivesse de desempatar a questão.

No novo julgamento, todos os ministros do Supremo terão que votar novamente, num processo que pode levar meses. O fim do processo, segundo a imprensa brasileira, poderá ser adiado até daqui a um ano.

Para a professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Margarida Lacombe, com a aceitação dos embargos infringentes, "o tribunal teria todas as condições e interesse de agilizar o máximo essa questão".

A partir de agora, de acordo com o Regimento Interno do STF, outro ministro teve de ser escolhido para relatar a nova fase do julgamento. Por sorteio, foi apontado Luís Fux.

Apesar de a composição do tribunal já ter sofrido mudanças desde o início do julgamento, Margarida Lacombe não acredita que isso signifique um favorecimento ou prejuízo aos réus. "O STF é uma instituição que dá um posicionamento, é um órgão colegiado", explica.

Mensalão abalou o PT do então presidente Luiz Inácio Lula da SilvaFoto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images

Já na avaliação do professor Paulo Henrique Blair, do departamento de Direito da Universidade de Brasília, a "mudança de membros torna isso [a modificação do resultado final] bastante provável", uma vez que outra fase de julgamentos "vai expressar uma nova compreensão em torno daquilo que se decidiu, o que pode confirmar ou mudar a decisão".

Julgamento emblemático

A visibilidade alcançada pelo julgamento do mensalão – tanto pela natureza dos crimes quanto pelos cargos ocupados pelos condenados – acaba por influenciar as decisões da Corte, avalia Lacombe, que classifica o caso como "emblemático".

"A partir do momento em que a população deixa de acreditar nas suas instituições, isso leva a um estado de insegurança muito grande que tem reflexos sociais, políticos, econômicos etc.", avalia a professora.

Durante o voto em que se disse a favor dos embargos infringentes, Celso de Mello realçou que os julgamentos "não podem ser contaminados por juízos da opinião pública" e que devem preservar "o compromisso constitucional".

Apesar de também defender que uma instituição da Justiça não deva se basear na vontade popular, o professor da FGV Direito do Rio de Janeiro, Ivar Hartmann, reconhece que um novo julgamento poderá ser danoso para a imagem do STF. "Quando vem um resultado para 'rejulgar' aquilo que já julgou, isso causa um baque muito forte", prevê Hartmann.

Pular a seção Mais sobre este assunto