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PolíticaSuécia

Novo governo sueco terá influência inédita da ultradireita

14 de outubro de 2022

Três partidos de centro-direita acertam costura de novo governo de minoria. Ultradireita não é parte formal da nova coalizão, mas emprestará apoio decisivo em troca de influenciar a política de imigração sueca.

Ulf Kristersson e Jimmie Akesson
Moderado Ulf Kristersson (dir.), o novo premiê da Suécia, ao lado de Jimmie Åkesson, líder da ultradireitaFoto: Jonas Ekströmer/TT/picture alliance

Três partidos de centro-direita da Suécia anunciaram nesta sexta-feira (14/10) um acordo para formar um novo governo de minoria, que vai contar com uma influência decisiva da ultradireita do país.

"Os Moderados [conservadores], os Democrata-Cristãos e os Liberais formarão o governo e colaborarão com os Democratas da Suécia no Parlamento", declarou o líder do partido Moderados, Ulf Kristersson, em entrevista coletiva.

A votação para a designação de Kristersson como primeiro-ministro acontecerá na próxima segunda-feira, e o novo gabinete deve tomar posse no dia seguinte.  A formação do novo governo ocorre pouco mais de um mês depois da última eleição no país, que foi marcada pela estagnação dos social-democratasuma votação surpreendente da ultradireita.

Como se trata de uma coalizão de minoria, com apenas 103 dos 349 deputados do Parlamento, o novo governo espera contar com o apoio indireto do Partido Democratas da Suécia (SD), de ultradireita, que tem 73 deputados e que na última eleição conseguiu eleger a segunda maior bancada.

O grande desafio do novo governo era conciliar as expectativas do pequeno partido Liberais, que não aceitava a entrada formal da extrema direita no governo, e a influência do SD, que exigia alguns ministérios.

Durante encontro dos líderes dos quatro partidos, o líder do SD, Jimmie Åkesson, disse à imprensa que teria preferido participar formalmente do novo governo, mas que ainda assim apoiaria a formação da coalizão como forma de influenciar a reformulação das políticas de imigração e justiça criminal da Suécia: "Para nós, foi absolutamente decisivo que uma mudança de poder seja também uma mudança de paradigma em relação à política de imigração e integração."

A influência que o SD deve ter sobre o novo governo marca uma mudança histórica na política sueca e teria sido impensável há menos de uma década, quando nenhum dos partidos tradicionais desejava ter qualquer tipo de relação com a legenda.

Fundado por neonazistas e outros ativistas de extrema direita, o SD expurgou muitos de seus elementos mais extremistas e fez um movimento de "normalização", semelhante ao que aconteceu com outros partidos de ultradireita da Europa, como o Reagrupamento Nacional, na França.

Apesar de o SD não fazer formalmente parte do novo governo, sua influência na costura dele já é visível. A nova coalizão revelou um plano de governo com forte teor de "lei e ordem” que promete, entre outras medidas, lutar contra a criminalidade e reduzir a imigração. O novo governo também pretende tornar mais difícil para os novos imigrantes obter benefícios, enquanto a polícia poderá tomar medidas mais duras contra gangues criminosas.

"Faremos uma revisão completa de todo o código penal, com penas mais duras para crimes violentos e sexuais", anunciou Kristersson. O novo governo pretende, ainda, reativar o uso da energia nuclear, da qual a Suécia se distanciou nas últimas décadas, tendo fechado seis de seus 12 reatores nos últimos anos. Os que permanecem ativos geram quase 30% da energia elétrica usada no país. "Novos reatores nucleares serão construídos", declarou a líder dos democrata-cristãos, Ebba Busch.

O novo governo vai assumir após oito anos de domínio social-democrata. No último ano, o país era governado por Magdalena Andersson, que assumiu após Stefan Löfven, que permanecera sete anos no poder. A oposição tem 173 representantes e é liderada pelos social-democratas (107 cadeiras) da primeira-ministra demissionária Magdalena Andersson, que não perde a esperança de retornar ao poder em caso de colapso do governo de direita.

Após eleições tão acirradas que provocaram um atraso de três dias na divulgação dos resultados, Ulf Kristersson recebeu a missão de formar o governo em 19 de setembro por parte do presidente do Parlamento sueco, Andreas Norlén,

jps (AFP, ots)