Suíça bloqueia 13 contas de cartolas ligados à Fifa
30 de dezembro de 2015
A pedido dos EUA, Procuradoria-Geral suíça congela 80 milhões de dólares e entrega pacote de documentos a promotores americanos. Material será utilizado como prova em casos criminais contra dirigentes do futebol.
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A Suíça entregou, nesta quarta-feira (30/12), o primeiro pacote de documentos bancários relacionados a cartolas da Fifa aos promotores americanos, executando um pedido de Washington. Os documentos serão utilizados como prova em casos criminais em curso visando dirigentes do alto escalão da Fifa. Além disso, a Suíça congelou cerca de 80 milhões de dólares em 13 contas bancárias.
O material "se refere a contas bancárias supostamente utilizadas para subornos relacionados com a concessão de direitos de marketing para torneio de futebol na América latina e nos EUA", afirmou um comunicado do gabinete da Procuradoria-Geral da Suíça (FOJ, na sigla na Suíça).
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos pediu documentos relacionado a cerca de 50 contas em dez banco diferentes, com a promotoria suíça revendo vários pedidos para avaliar sua relevância para a Justiça americana.
Em alguns casos, os pedidos dos EUA foram considerados válidos e os documentos prontamente entregues, mas as decisões sobre outros materiais pedidos ainda estão pendentes, comunicou a Procuradoria-Geral da Suíça.
Separadamente, e também a pedido dos EUA, a FOJ disse que a Suíça efetuou o congelamento de cerca de 80 milhões de dólares em 13 contas bancárias, que poderiam ser entregues ao governo americano sob uma ordem judicial.
Um total de 39 pessoas ligadas ao futebol mundial e duas empresas foram acusadas por Washington numa investigação abrangente sobre subornos e corrupção durante décadas na Fifa. A Suíça abriu uma investigação separada visando especificamente supostos subornos durante as licitações para as Copas do Mundo de 2018 e 2022, na Rússia e no Catar, respectivamente.
A promotoria suíça também está investigando o ainda presidente da Fifa, Joseph Baltter, que foi banido do futebol por oito anos pelo Comitê de Ética da entidade máxima do futebol.
PV/afp/rtr
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.