Suíça investiga Beckenbauer por suspeita de corrupção
1 de setembro de 2016
Procuradoria suíça diz que abriu investigação penal contra o ídolo do futebol alemão e outros três dirigentes. Suspeita envolve suposta compra de votos para garantir Alemanha como sede da Copa de 2006.
Anúncio
Franz Beckenbauer e outros três dirigentes estão sendo investigados pelas autoridades suíças por suspeita de corrupção em relação à candidatura da Alemanha para sediar a Copa do Mundo de 2006, segundo divulgou nesta quinta-feira (01/09) a procuradoria da Suíça.
"O Escritório da Procuradoria-Geral da Suíça abriu procedimentos criminais em relação à Federação Alemã de Futebol (DFB). Os suspeitos eram membros do conselho executivo do Comitê Organizador da candidatura para a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha", afirma o órgão em nota.
Além de Beckenbauer – que sempre negou a acusação –, os outros investigados são os ex-presidentes da DFB Wolfgang Niersbach e Theo Zwanziger e o ex-tesoureiro da federação Horst Rudolf Schmidt.
A investigação penal, de acordo com comunicado da procuradoria, teve início em novembro de 2015 sob a suspeita de fraude, gestão desleal, lavagem de dinheiro e abuso de poder. Segundo a lei suíça, o crime de gestão desleal é punível com multa ou, em casos especiais, com prisão de três a cinco anos.
No centro das investigações está o pagamento de 6,7 milhões de euros do Comitê Organizador à Fifa em 2005, cuja finalidade possivelmente era garantir votos para obter o direito de sediar o Mundial de 2006 – a Alemanha venceu a África do Sul como sede do torneio por 12 votos a 11. O valor milionário deveria ter sido usado para financiar um evento de gala que nunca ocorreu.
Além disso, os investigadores apontam que os quatro suspeitos agiram "com muita astúcia" ao induzirem ao erro outros membros do Comitê Organizador, com informações falsas e omitindo elementos para tomada de decisões contra interesses econômicos do órgão.
As autoridades informaram que, nesta quinta-feira, foram realizadas operações de buscas em oito locais não especificados, em colaboração com a Alemanha e a Áustria. A procuradoria ainda explicou que comanda a investigação porque ao menos uma parte dos supostos crimes teria ocorrido na Suíça.
Em fevereiro deste ano, o DFB admitiu que abriu um processo contra o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2006, mencionando uma possível ação judicial contra Beckenbauer e a Fifa.
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.