Detenções ocorrem a pedido da Justiça dos EUA e estão relacionadas com investigações de corrupção na federação que comanda o futebol mundial. Detidos são os presidentes da Concacaf e da Conmebol.
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O governo suíço anunciou que dois dirigentes da Fifa foram detidos nesta quinta-feira (03/12) em Zurique, confirmando informação adiantada pelo jornal The New York Times de que novas detenções teriam sido feitas no âmbito no escândalo de corrupção da organização.
"Os dirigentes de alto nível da Fifa alegadamente receberam dinheiro em troca da venda de direitos de comercialização relacionados com torneios de futebol na América Latina, bem como dos jogos para as eliminatórias do Mundial", afirmou o Ministério da Justiça da Suíça, em comunicado, sem revelar os nomes dos detidos.
Um funcionário da Fifa, porém, afirmou que os detidos são o hondurenho Alfredo Hawit Banegas, presidente da Concacaf, e o paraguaio Juan Ángel Napout, chefe da Conmebol.
O anúncio das detenções foi feito depois de o jornal americano ter publicado que foram detidas mais de uma dezena de pessoas relacionadas com a investigação de corrupção dentro da federação, conduzida pelas autoridades judiciais dos Estados Unidos.
O ministério confirmou novas detenções, mas apenas fez referência a dois casos que tiveram por base pedidos de detenção apresentados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos em 29 de novembro de 2015. Os dois são suspeitos de terem recebido subornos de milhões de dólares, disse o ministério. "Alguns dos crimes foram acertados e preparados nos Estados Unidos. Os pagamentos também foram processados por meio de bancos americanos", afirma o comunicado.
As detenções foram feitas no hotel Baur au Lac, de Zurique, o mesmo onde ocorreu a operação de maio, novamente a pedido da Justiça americana.
A Fifa comunicou estar ciente das ações executadas nesta quinta-feira pela Justiça americana e garantiu que continuará a cooperar plenamente com as investigações das autoridades dos Estados Unidos e da Suíça.
A federação foi abalada por um escândalo de corrupção em maio, a dois dias da reeleição do presidente Joseph Blatter, num processo aberto pela justiça dos Estados Unidos e que levou à acusação de 14 dirigentes e ex-dirigentes.
No início de junho, Blatter anunciou sua renúncia, abrindo o caminho para nova eleição, que foi marcadas para 26 de fevereiro de 2016. Em 25 de setembro, o Ministério Público suíço instaurou um processo criminal contra Blatter.
Em 8 de outubro, Blatter, o secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, e o presidente da Uefa, o também francês Michel Platini, foram suspensos provisoriamente por 90 dias pelo Comitê de Ética da Fifa, por implicação no escândalo de corrupção que atingiu a instituição.
AS/lusa/afp/ap
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.