Suíça teria exportado material utilizado em sarin à Síria
25 de abril de 2018
Em 2014, meses após Damasco anunciar eliminação de reservas, empresa suíça exportou isopropanol ao país, diz emissora do país europeu. Substância é utilizada para fabricar gás tóxico usado em guerra civil.
Anúncio
A Suíça autorizou em novembro de 2014 a exportação à Síria de isopropanol, uma possível substância utilizada para fabricar gás sarin, noticiou nesta terça-feira (24/04) a emissora de TV suíça RTS. A Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos (Seco) do país europeu classificou a transição de "plausível".
Meses antes da suposta transação, a Síria havia anunciado a eliminação total das reservas dessa substância química. Além disso, a União Europeia (UE) havia proibido mais de um ano antes o comércio deste produto.
A Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) afirmou à RTS que "o isopropanol é de uso comum e não está proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, mas pode ser utilizado para fabricar gás sarin".
A Opaq também indicou que, por causa do programa de destruição de armas químicas supervisionado justamente por esta organização, a Síria declarou em maio de 2014 não possuir o isopropanol, também conhecido como 2-propanol ou álcool isopropílico.
"Portanto, foi destruído", afirmou a organização. Seis meses depois da eliminação das reservas sírias, uma empresa suíça teria exportado cinco toneladas de isopropanol à Síria sem a oposição do governo do país europeu.
O gás sarin, lançado em abril de 2017 em Khan Cheikhoun, no norte da Sírial e que causou a morte de cerca de 100 pessoas, tinha sido elaborado a partir de isopropanol, de acordo com uma análise de especialistas do governo francês citada pela RTS.
A Seco indicou ao ser consultada que a Suíça, apesar de não fazer parte da UE, adota todas as sanções do bloco comunitário contra a Síria, mas que em "certos casos, são reguladas as medidas de outra maneira, por exemplo, via lei sobre o controle de bens".
Produtos como o isopropanol "não necessitaram de autorização na Suíça naquela época", explicou o Seco, que não se opôs à exportação porque, segundo fontes desta instituição, não existiam indícios em 2014 de que o fornecimento pudesse estar vinculado a um programa de armas.
Segundo a versão oficial, o produto foi vendido a uma companhia farmacêutica privada na Síria da qual "não há indícios que tivesse vínculos com o regime sírio, inclusive atualmente".
De acordo com Joseph Daher, especialista na crise síria da Universidade de Lausanne citado pela RTS, o proprietário da farmacêutica pode não estar ligado diretamente ao regime, mas o governo sírio controla as principais fontes de abastecimento no país.
Acusações similares na Bélgica
Na semana passada, a imprensa belga noticiou que três empresas de Antuérpia exportaram à Síria dezenas de toneladas de produtos químicos proibidos após o embargo da UE de setembro de 2012.
Segundo uma investigação feita por duas organizações não governamentais, uma alemã e outra britânica, e noticiada pelo diário Le Soir e a revista Knack, três empresas belgas sediadas na Antuérpia exportaram à Síria e ao Líbano dezenas de toneladas de produtos químicos interditados pela Opaq.
De acordo com a investigação, houve 24 exportações para a Síria e o Líbano, entre maio de 2014 e dezembro de 2016, que incluem 168 toneladas de isopropanol, 219 toneladas de acetona, 77 toneladas de metanol e 21 toneladas de diclorometano. As substâncias citadas carecem, desde 2013, de autorização especial para serem exportadas.
As empresas belgas esclareceram à revista Knack que exportam as substâncias mencionadas há dez anos e que nunca foram informadas da proibição. Os produtos foram vendidos a empresas privadas sírias e libanesas que não constam em nenhuma lista de suspeitos e produzem tintas, vernizes e líquidos de arrefecimento. Por outro lado, o Serviço Federal de Finanças da Bélgica afirmou que não foram feitos pedidos de autorizações prévias pelas empresas.
PV/efe/lusa/dpa
_______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram
Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.