Apesar do caráter apolítico e do slogan "Unidos pela música", manifestações contra Israel, nas ruas e no palco, abstenções e desqualificações marcaram a 68ª edição do Festival da Canção na Suécia.
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A Suíça venceu o 68º Festival Eurovisão da Canção (Eurovision Song Contest, ESC) neste sábado (11/05), na cidade sueca de Malmö, com a música The Code, apresentada pelo rapper e cantor não binário Nemo. Essa é a terceira vitória do país no concurso e a primeira desde 1988, quando a canadense Céline Dion se apresentou sob a bandeira suíça.
Rim Tim Tagi Dim, com Baby Lasagna, da Croácia, ficou em 2º lugar; o 3º coube a Teresa & Maria, da Ucrânia, cantada por Alyona Alyona e Jerri Heil. A Suécia, país-anfitrião, ficou em 9º lugar (Unforgettable, Marcus & Martinus), seguida por Portugal, representado por Iolanda com Grito. À Alemanha coube a 12ª colocação, com Always on the run, interpretada por Isaak.
O slogan do Eurovisão 2024 foi "Unidos pela música". Apesar de declaradamente apolítico, o evento foi marcado por protestos e manifestações, sobretudo em torno do conflito israelo-palestino.
Protestos, abstenções, desqualificações
Como nas fases anteriores da 68ª edição, ao longo de toda a final milhares protestaram diante da Malmö Arena contra a participação de Israel no concurso. Na atuação da representante nacional, a russo-israelense, Eden Golan, ouviram-se vaias e assobios. Segundo jornalistas presentes à Arena, ela também teria sido vaiada no desfile das bandeiras que abriu a cerimônia. Ainda assim, coube a Golan o 5º lugar, com Hurricane.
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A cantora norueguesa Allesandra Mele, 5º lugar na edição 2023, retirou-se da função porta-voz oficial da pontuação para seu país. Em vídeo no Instagram, afirmou que o slogan do ESC não passava de "palavras vazias", acusou Israel de "genocídio" e concluiu dizendo "Libertem a Palestina".
Como forma de protesto mais discreta, no desfile das bandeiras da final a representante portuguesa Iolanda apresentou-se com um vestido de uma marca palestina, e unhas pintadas com o padrão do keffiyeh, lenço símbolo da resistência palestina. Ao encerrar sua atuação, a cantora comentou: "A paz vai prevalecer".
Ela não foi a única a se manifestar contra a violência: Bambie Thung, da Irlanda, que se absteve de participar do ensaio geral, gritou "o amor vai sempre triunfar sobre o ódio", antes de abandonar o palco. O francês Slimane terminou sua apresentação com o slogan "Unidos pela música pelo amor e a paz".
Sob a sombra de Israel-Hamas
Já se arrastando há décadas, o conflito israelo-palestino se intensificou após os atentados de 7 de outubro de 2023, pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas em solo israelense, que causaram quase 1.200 mortos. A reação militar de Israel já resultou em mais de 34 mil mortos na Faixa de Gaza.
Ataque sem precedentes a Israel abre novo conflito. E agora?
06:17
Dos 37 países concorrentes do 68º Festival da Canção, 25 participaram da final do 68º Festival Eurovisão da Canção: Alemanha, Armênia, Áustria, Chipre, Croácia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Itália, Irlanda, Israel, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Sérvia, Suécia, Suíça, Ucrânia.
A Holanda deveria também ter se apresentado, mas a organização desqualificou seu representante, Joost Klein, devido a um incidente durante a segunda semifinal. Além da Europa, o Eurovisão é transmitido para várias regiões. No Brasil, a emissora foi Zapping Music Live, tendo como apresentadora Priscila Bertozzi.
av (Lusa,AP,DPA,ots)
A reação do setor de cultura à invasão russa da Ucrânia
Do Festival Eurovisão a Cannes, a esfera cultural mostra desaprovação à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin cancelando a participação de artistas russos em seus eventos. Alguns exemplos.
O Festival de Cinema de Cannes anunciou em 1º de março que "não receberia delegações oficiais russas" ou pessoas ligadas ao governo do país. Vários festivais de cinema reagiram da mesma forma, incluindo Glasgow e Estocolmo. Locarno anunciou que não participaria de um boicote, enquanto Veneza oferecerá exibições gratuitas de um filme sobre o conflito de 2014 na região de Donbass.
Foto: REUTERS
Rússia barrada no Festival Eurovisão
A União Europeia de Radiodifusão, que organiza o Festival Eurovisão da Canção, declarou em 25 de fevereiro que "à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma entrada russa no concurso deste ano traria descrédito à competição". Enquanto isso, o grupo de folk-rap da Ucrânia Kalush Orchestra (foto) emergiu como um dos favoritos a vencer o festival de música mais popular da Europa.
Foto: Suspilne
Óperas interrompem colaborações com o Bolshoi
A Royal Opera House de Londres cancelou a temporada de verão do Balé Bolshoi de Moscou. A encenação de "Lohengrin" da Metropolitan Opera, de Nova York, coproduzida com o Bolshoi, também será afetada. Até então leal a Putin, o diretor da aclamada companhia de balé, Vladimir Urin, está entre os signatários de uma carta em oposição à guerra.
Muitos artistas russos condenaram a guerra. Mas, apesar de um ultimato da Filarmônica de Munique para se posicionar publicamente, o maestro Valery Gergiev permaneceu em silêncio sobre a invasão liderada por Putin, seu amigo desde 1992. Em 1º de março de 2022, a orquestra alemã demitiu seu aclamado maestro. Vários concertos na Europa e nos EUA também foram cancelados.
Foto: Danil Aikin/ITRA-TASS /imago images
Soprano Anna Netrebko é retirada das óperas
A Metropolitan Opera de Nova York (MET) e a Ópera Estatal de Berlim encerraram sua colaboração com a estrela da ópera russa Anna Netrebko, por ela se recusar a "repudiar seu apoio público a Vladimir Putin". Ela é "uma das maiores cantoras da história do MET", disse o diretor da casa de ópera, Peter Gelb, "mas com Putin matando vítimas inocentes na Ucrânia, não havia outro caminho a seguir".
Foto: Roman Vondrous/CTK/imago images
Museus cortam laços com oligarcas russos
Em meio a pedidos para que instituições culturais removam aliados de Putin de seus conselhos, museus estão cortando laços com benfeitores russos. O bilionário Vladimir Potanin deixou o conselho de curadores do Museu Guggenheim (foto), em Nova York, segundo o jornal The New York Times. O site Artnet relata que o magnata bancário Petr Aven deixou o cargo de administrador da Royal Academy em Londres.
Foto: Han Fang/Xinhua/imago images
Hermitage Amsterdam rompe relações com São Petersburgo
Amsterdã abriga o maior satélite do célebre Museu Hermitage de São Petersburgo. Até agora, nunca havia comentado sobre as ações políticas de Putin, mas "com a invasão do exército russo à Ucrânia, uma fronteira foi cruzada". "A guerra destrói tudo. Até 30 anos de colaboração", afirmou o museu holandês em 3 de março. O local também fechou a exposição que estava em cartaz, "Russian Avant-Garde".
Foto: Richard Wareham/imago images
Artistas russos desistem da Bienal de Veneza
Nem sempre são os organizadores de eventos que boicotam os artistas russos. Na Bienal de Veneza, que começa em 23 de abril, são os artistas e o curador da exposição russa que se demitiram, afirmando no Instagram que "o Pavilhão da Rússia permanecerá fechado" em protesto contra os civis mortos por mísseis e manifestantes russos sendo silenciados.
Foto: Photoshot/picture alliance
Hollywood adia lançamentos de filmes na Rússia
Disney, Warner Bros, Sony, Paramount Pictures e Universal decidiram interromper o lançamento de filmes nos cinemas russos. "The Batman" (foto) deveria ser lançado no país em 4 de março. Outros títulos afetados pela decisão incluem o filme de animação da Disney Pixar "Red: Crescer é uma Fera", "The Lost City", da Paramount, e o filme da Marvel "Morbius".
Foto: Jonathan Olley/DC Comics /Warner Bors/dpa/picture alliance
Concertos cancelados na Rússia
"Ucrânia, estamos com você e com todos aqueles na Rússia que se opõem a esse ato brutal", disse Nick Cave. Ele cancelou as datas da turnê russa planejada para o verão, assim como muitos outros grupos, incluindo Franz Ferdinand, The Killers, Iggy Pop e Green Day. O popular rapper russo Oxxxymiron também cancelou seus shows no país, pedindo um movimento antiguerra.