Por mais salário, tempo e respeito, mulheres saem às ruas da Suíça. País fica atrás de muitos da Europa Ocidental, incluindo França e Alemanha, quanto à igualdade entre homens e mulheres.
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Mulheres entraram em greve em toda a Suíça nesta sexta-feira (14/06), exigindo o fim da desigualdade de gênero. "Salário, tempo, respeito" é o lema da greve, organizada para destacar os obstáculos que as mulheres no país, especialmente as imigrantes, enfrentam diariamente.
A Suíça não estabeleceu plenamente o sufrágio feminino até 1971 e, embora a igualdade de gênero tenha sido consagrada em sua Constituição uma década mais tarde, estudos sugerem que a paridade entre homens e mulheres ainda está muito distante de ser uma realidade no país.
O Índice Global de Diferenças de Gênero, publicado todos os anos pelo Fórum Econômico Mundial, coloca a Suíça na 20ª posição no mundo, não somente muito abaixo dos países escandinavos que ocupam os primeiros lugares, mas também bem aquém dos vizinhos França (12°) e Alemanha (14°).
No relatório do Fórum Econômico Mundial, a Suíça aparece na 44ª posição em termos de igualdade salarial e na 59ª quando se trata da partilha de posições no mundo profissional, especialmente em cargos de chefia na política e nos negócios.
"Uma das principais diferenças entre homens e mulheres no local de trabalho tem a ver com a licença parental", afirma Desiree Millet, professora escolar que mora e trabalha nos arredores de Zurique. "As mulheres têm 14 semanas de licença, mas os homens não ganham nada, então, se você adicionar isso às muitas responsabilidades familiares que se presume que as mulheres devem assumir, muitos empregadores simplesmente decidem que não vale a pena contratá-las."
O fato de a Suíça, especialmente Zurique, ter um dos custos de vida mais altos no mundo acentua esse problema, aponta Millet. "A despesa com os cuidados infantis é tão exorbitante que, a menos que ambos os parceiros tenham bons salários, faz mais sentido ficar em casa, porque não se pode trabalhar meio expediente em muitas profissões. Então, obviamente, isso é esperado da mãe, e não do pai."
Millet disse à DW que gostaria de participar da greve, mas as professoras de escolas, apesar de pertencerem a uma profissão tradicionalmente ocupada por mulheres na Suíça, estão proibidas de tomar parte em protestos trabalhistas. Isso porque as escolas, segundo o governo, são instituições públicas, e a greve viola as rígidas regras de neutralidade que regem as organizações governamentais na Suíça.
Uma escola no distrito de Wiedikon, em Zurique, foi forçada pela administração municipal a retirar seus cartazes de apoio à sua força de trabalho majoritariamente feminina. Uma faixa com os dizeres "112 mulheres trabalham aqui" foi removida nesta quinta-feira, e as duas diretoras da escola foram criticadas por políticos locais.
"A igualdade salarial entre homens e mulheres é um tema importante", disse o representante distrital na prefeitura, Patrice Martin Zumsteg, ao jornal Neue Zürcher Zeitung. "Mas, como cidadão, para mim é importante que a diretoria escolar mantenha a neutralidade política obrigatória de escolas públicas."
O vereador conservador recebeu apoio do nacionalista Partido Popular Suíço (SVP). A legenda acusou os professores de espalhar "material de propaganda".
Muitas mulheres suíças, incluindo Millet, contestam a ideia de que exigir igualdade entre homens e mulheres é o mesmo que tomar partido na política.
"Em regiões onde o governo e os políticos já anunciaram o desejo de implementar a igualdade salarial, as mulheres deveriam ter o direito de chamar atenção para o fato de que isso ainda não é uma realidade para elas", diz ela.
As diretoras escolares Lilian Hurschler e Barbara Meier disseram ao Neue Zürcher Zeitung que ficaram chocadas com a acusação de que suas faixas tinham uma conotação política.
"Tivemos somente reações positivas de alunos e pais", afirmaram as diretoras, dizendo que as faixas foram uma ideia de toda a equipe escolar. "Há tantas mulheres trabalhando em nossa escola que pensamos que devemos fazer alguma coisa."
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Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.