Plebiscito decide se Estado pagará mensalmente mais de 2,2 mil euros a cidadãos, independentemente de trabalharem. Políticos de todos os partidos do país são contra.
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É possível que na Suíça, em um futuro próximo, o trabalho seja algo apenas para quem tiver vontade, porque todos vão ganhar dinheiro, mesmo ficando em casa, sendo pobre ou milionário. Neste domingo (05/06), os suíços vão às urnas votar em um plebiscito sobre a renda básica universal.
A ideia não é inteiramente nova. "A solução para acabar com a pobreza é uma renda garantida", disse Martin Luther King. Em 1967, o economista austríaco Friedrich August von Hayek teve a ideia de "uma determinada renda mínima para todos aqueles que são incapazes de suprirem a si próprios."
Na Suíça, o economista e psicólogo Daniel Straub retomou o tema. Em 2012, ele publicou, junto com Christian Müller, o livro Die Befreiung der Schweiz - Über das bedingungslose Grundeinkommen (A libertação da Suíça - sobre a renda básica incondicional, em tradução livre).
Utopia ou visão do futuro?
"Isso seria uma mudança de paradigma. A renda básica incondicional dá a todos a base para uma vida plena", argumenta Daniel Straub, em entrevista à DW. O presidente da iniciativa suíça, que trabalhou anteriormente na IBM, está convencido de que, com a medida, as pessoas vão se tornar mais produtivas e criativas. "As pessoas perderiam a pressão de terem de se sustentar", argumenta.
Caso a ideia seja aprovada, seria necessária uma emenda constitucional, segundo Straub. A iniciativa propõe o pagamento de 2,5 mil francos suíços como renda básica. Isso equivale a 2.250 euros ou 2.442 dólares.
O governo suíço e todos os partidos do país rejeitam a iniciativa. Eles criticam que a ideia seria nociva, perigosa e impossível de ser financiada. Eles consideram também haver riscos em relação à imigração, aumento de impostos para o financiamento, assim como a perda de produtos e serviços, caso muitas pessoas não se prontifiquem a trabalhar, já que não terão mais que fazê-lo para custear a própria subsistência.
Institutos de pesquisa realizaram sondagens indicando que a esmagadora maioria dos cidadãos suíços afirma que continuará trabalhando, apesar de receber a renda básica. Apenas 2% responderam negativamente, enquanto 54% dos entrevistados disseram que iriam usar a renda extra para se aperfeiçoarem profissionalmente. Da mesma forma, muitos disseram que iriam dedicar mais tempo à família.
Projeto a longo prazo
Há sete anos, a iniciativa vem se preparando para o plebiscito. Straub afirma que, até certo ponto, pode entender seus críticos. Dez anos atrás, ele também teria dito que a ideia não é possível de ser financiada.
"Vemos isso como um projeto a longo prazo. A votação é apenas um passo", afirma Straub. Ele está confiante. Para ele, a iniciativa de promoção da renda básica é um processo político para o qual são necessários muitos anos: "Todas as vozes devem ser ouvidas, só assim ele é verdadeiramente democrático."
Para ilustrar seu ponto de vista, Straub recorda um debate em que esteve, onde um jovem desafiou os críticos a delinearem sua visão para o futuro e explicarem como eles reagiriam à perda de postos de trabalho devido à quarta revolução industrial. A resposta foi o silêncio.
"Não é uma revolução com a qual queremos abolir o sistema atual. A economia de mercado tem muitas vantagens", ressalta Daniel Straub. "Mas é hora de ajustar o sistema, desenvolvê-lo e partir para a próxima etapa."
Fatos sobre o Túnel de São Gotardo
Suíça inaugura um novo túnel para trens que passa por baixo dos Alpes e levou 17 anos para ficar pronto. Confira alguns dos principais fatos sobre essa maravilha da engenharia moderna.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Settnik
Os números
O Túnel de São Gotardo tem 57,1 quilômetros de extensão e até 2,3 quilômetros de profundidade. Quando estiver em operação plena, passarão por ele, todos os dias, 260 trens de carga e 65 de passageiros. Ele comporta dois trilhos de oito metros de diâmetros, que têm 178 interligações, uma a cada 325 metros. O custo total da obra foi de 11 bilhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Gillieron
Montanhas em movimento
Após 17 anos de construção, o Túnel de São Gotardo está finalmente pronto para o uso. Cerca de 28 milhões de metros cúbicos de rochas foram retiradas dos Alpes suíços por tuneladoras. O cascalho produzido foi usado para fazer o concreto utilizado nas paredes do túnel. As viagens inaugurais estão previstas para o dia 1º/06, mas as operações normais só começam após outros 3.000 testes.
Foto: picture-alliance/Keystone/M. Ruetschi
Pista de corrida para trens
Uma das principais vantagens do túnel é a superfície plana da sua ferrovia. Isso facilita as viagens de trens pesados entre Erstfeld e Bodio, pois eles necessitam de menos potência e podem alcançar velocidades maiores. Assim, 260 trens de carga poderão atravessar o túnel por dia, um grande avanço em relação aos 180 que passam pelo túnel atual.
Foto: picture alliance/KEYSTONE
Máquina de criar empregos
No total, 2.600 pessoas trabalharam nos canteiros de obras do Túnel de São Gotardo, incluindo engenheiros, geólogos e operários. Juntos, eles contabilizaram quatro milhões de horas de trabalho. Os suíços, fiéis à sua reputação de precisão e pontualidade, concluíram o projeto com um ano de antecedência em relação ao cronograma original só um pouco acima do orçamento previsto.
Foto: AlpTransit Gotthard AG
Heidi, Sissi e Gabi
Os tatuzões de 400 metros de comprimento (fundo da foto), fabricados na Alemanha, foram carinhosamente apelidados de Heidi, Sissi, Gabi 1 e Gabi 2 pelos construtores. Os quatro trabalharam muito e retiraram 28,2 milhões de metros cúbicos de terra e pedras dos Alpes ao longo de 17 anos.
Sai pra lá, Japão!
Com a conclusão do túnel, a Suíça tira do Japão o título de país com a ferrovia subterrânea mais extensa do mundo. Aberto em 1988, o túnel de Seikan foi projetado após um tufão devastador afundar cinco balsas. Em busca de uma forma mais segura de atravessar o Estreito de Tsugaru, os japoneses cavaram uma passagem de 53,9 quilômetros numa região de terremotos frequentes.
Foto: Imago/Kyodo News
Mais longo que o Eurotúnel
Além de ser um prodígio da engenhria, o Túnel de São Gotardo é sete quilômetros mais longo do que o túnel sob o Canal da Mancha, que liga França e Reino Unido e já é considerado uma maravilha da engenharia moderna. O Eurotúnel, com 50,5 quilômetros de extensão, tem ainda um dos trechos submarinos mais longos já construídos, com 37,9 quilômetros.
Foto: Getty Images/AFP/D. Charlet
Não por muitos anos
O reinado de São Gotardo como o túnel ferroviário mais longo do mundo deverá acabar em 2026. Para esse ano está prevista a abertura do Túnel de Brennero, que terá 64 quilômetros e pretende reduzir os engarrafamentos no popular e sempre lotado Passo do Brennero, que liga a Áustria à Itália, aos pés dos Alpes.
Muitos engenheiros alemães trabalharam na construção do Túnel de São Gotardo, e essa situação chama a atenção para as dificuldades que megaprojetos de engenharia têm no país vizinho. O caso mais escandaloso é novo aeroporto de Berlim: a inauguração está quatro anos e meio atrasada, e o orçamento não para de subir.