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Sucessão de Merkel, o outro desafio da Alemanha em 2021

4 de janeiro de 2021

Apesar de onipresente, o combate à pandemia não dominará sozinho o novo ano no país: as eleições gerais em setembro e a despedida da chefe da chanceler federal, após 16 anos, também são momentos decisivos.

Berlin Kanzlerin Merkel | PK zu Videokonferenz mit Bürgermeistern großer Städte
Foto: Axel Schmidt/AFP

No ano que passou, nada foi mais importante na Alemanha do que a pandemia de covid-19, e assim será em 2021. Desde março, o novo coronavírus vem dominando quase inteiramente a sociedade, apesar da perspectiva de vacinações em massa. E no fim do ano,  o país voltou a ter que parar de forma quase total.

"Se agora no Natal tivermos contatos demais, e em seguida este tiver sido o último Natal com os avós, teremos errado em algo. Não devemos fazer isso", advertiu a chanceler federal Angela Merkel em 9 de dezembro no Parlamento alemão num discurso atipicamente emocional, em face dos quase 600 mortos pelo vírus em um dia. Mais tarde, essa cifra subiria consideravelmente.

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No entanto, cresce a resistência às restrições da liberdade individual, sobretudo nas manifestações do grupo Querdenken ("pensamento lateral"). "Está se consolidando um movimento social, reunindo extremistas de direita e de esquerda, mas também esotéricos e negacionistas da ciência", explica o cientista político Florian Hartleb.

Sete eleições

O equilíbrio entre proteção da saúde e direitos de liberdade deverá também influenciar os pleitos do ano corrente na Alemanha, que serão vários, após um 2020 modesto, do ponto de vista eleitoral.

Em nada menos do que seis estados, os cidadãos serão convocados às urnas. Em março, concorre à reeleição em Baden-Württemberg o apreciado Winfried Kretschmann, até momento o único governador verde do país. E em abril é a vez da Turingia, governada por Bodo Ramelow, o único líder estadual do partido A Esquerda.

A Saxônia-Anhalt decide em junho se mantém no governo a coalizão entre União Democrata Cristã (CDU), Partido Social-Democrata (SPD) e Verdes. No debate sobre um aumento da taxa de licença de televisão, a CDU foi contra, coincidindo involuntariamente com a posição da populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) – uma associação indesejada para os conservadores.

Contudo a eleição mais importante de 2021, a geral, será em setembro. Ela marca, de qualquer modo, o fim a era Merkel, que não volta a concorrer, após 16 anos e quatro governos. Assim, por pouco a política democrata cristã bateu o recorde estabelecido por seu mentor, Helmut Kohl.

"Culpada: Angela, o povo está aí!": resistência a restrições antipandemia cresceFoto: Eventpress Hoensch/picture alliance

Bye bye, Angela

De que a população alemã sentirá falta, quando a chefe de governo se afastar? Segundo Florian Hartleb, "a tenacidade dela, o empenho no trabalho ilimitado, quase inumano, a manutenção da disciplina interna e o elemento científico na política" (Merkel é formada em física).

Pontos negativos em seu mandato teriam sido, segundo o cientista político, "sua linguagem nebulosa, formulaica", além de uma "política para refugiados perseguida obstinadamente, acompanhada por uma cultura de boas-vindas ingênua", que teria permitido o crescimento da AfD.

No exterior, o política conservadora foi elogiada como "premiê das crises", valorizada como um porto seguro em tempos conturbados pela crise de endividamento estatal na União Europeia, o Brexit, Donald Trump e, atualmente, a pandemia de covid-19.

E depois de Merkel?

Por isso, uma das principais questões do ano, na Alemanha, é quem sucederá Angela Merkel. Uma vez que a CDU e sua irmã bávara União Social Cristã (CSU) se mantêm estáveis no primeiro lugar das pesquisas de intenção de voto, com 35%, o próximo líder democrata-cristão tem boas chances de se tornar o novo chanceler federal.

Oficialmente, três candidatos se apresentarão aos delegados na convenção partidária digital da CDU-CSU de meados de janeiro: o ex-chefe da bancada parlamentar conservadora cristã Friedrich Merz, o governador da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, e o especialista em política externa Norbert Röttgen.

Segundo as enquetes, contudo, uma relativa maioria do eleitorado prefereria ver à frente da Chancelaria Federal o governador da Baviera, Markus Söder, da CSU. Nesse caso, pela primeira vez o país teria um chefe de governo social-cristão.

Líderes Robert Habeck e Annalena Baerbock: verdes ganham força na política alemãFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Sociedade polarizada

Seja quem for o novo chanceler federal, depois das eleições gerais a CDU-CSU deve precisar de pelo menos um parceiro de coalizão para governar. O atual, o Partido Social-Democrata, não só fraqueja nas pesquisas de opinião, como parece estar cansado de governar, após duas coalizões sob Merkel.

A primeira opção é o Partido Verde, em franca ascensão. Sob a liderança dos benquistos Annalena Baerbock e Robert Habeck, a sigla abandonou alguns posicionamentos fundamentalistas e está disposta a governar. No fim de novembro, Habeck declarou numa convenção partidária: "Trabalhamos por soluções com otimismo. E em nome dessas soluções, lutamos pelo poder."

Por sua vez, a AfD, até então a legenda oposicionista mais forte do Parlamento, caiu na preferência da população alemã. No entanto as restrições ditadas pelo combate à pandemia poderão valer um reforço para o eleitorado dos populistas de direita.

"Vivemos num país dividido", constata Hartleb. "Se após o trauma do coronavírus vier a queda econômica, o resultado é a polarização social." Para o cientista político, uma coisa é certa: "A pandemia é a maior crise desde 1945, com um significado que afeta todos os níveis da política, do local ao global."

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