Origem do carro popular remonta ao nazismo: há 80 anos, Hitler lançava a pedra fundamental da fábrica de seu "Volkswagen" em Wolfsburg. Concebido para mobilizar massas, veículo se transformou em sucesso mundial.
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Dois homens e um megaprojeto: Adolf Hitler e Ferdinand Porsche foram os criadores do Fusca. Porsche como engenheiro projetista, Hitler como mentor político. "Foi o encontro de duas partes que se encaixavam", resumiu o historiador Wolfram Pyta, professor de História Contemporânea na Universidade de Stuttgart.
Com os colegas Nils Havemann e Jutta Braun, Pyta traçou a história da empresa fundada em 25 de abril de 1931, em Stuttgart, no livro Porsche. Vom Kunstruktionsbüro zur Weltmarke (Porsche. De escritório de design a marca mundial, em tradução livre). Sem o apoio do ditador, Porsche não teria podido finalizar o projeto do Volkswagen (carro popular, em alemão), aponta o historiador.
"Hitler precisava de uma mente criativa para construir um veículo compacto apropriado para a produção em série", explica Pyta. "E Porsche precisava de uma encomenda política que lhe permitisse projetar sem a pressão de custos."
Motorização e mobilização
Já no Salão Internacional do Automóvel de fevereiro de 1933, ou seja, poucas semanas após a sua nomeação como chanceler do Reich, Hitler anunciava a "motorização popular". Em meados de 1934, a "Associação da Indústria Automotiva Alemã do Reich" encomendava à Porsche o projeto de um carro "Kraft durch Freude" (força através da alegria), em homenagem à organização nazista homônima, de atividades recreativas.
Os 80 anos do Fusca
De grande projeto nazista a maravilha automotiva mundial: em 1938, Adolf Hitler lançava a pedra fundamental para a produção de seu carro popular ("Volkswagen"), cujo sucesso mundo afora se estendeu por décadas.
Foto: picture alliance/dpa
Carro popular do Führer
Grande projeto de mobilização de massas: Hitler e seu protótipo de "Volkswagen" ou "carro popular", por ocasião do lançamento da pedra fundamental da fábrica da Volks perto de Fallersleben, no estado da Baixa Saxônia, em 26 de maio de 1938. Para o engenheiro projetista Ferdinand Porsche, a cerimônia marcou o início da ascensão rumo a uma marca global.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão para carro de comandante
Para as campanhas militares de Hitler, o Fusca foi convertido num "Kübelwagen", um carro leve de 950 quilos. O veículo provou o seu valor nos campos de batalha. Na foto, o general Von Manteuffel (em primeiro plano) desatola seu automóvel.
Foto: picture-alliance/akg-images
Milagre econômico
Apenas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 5 de agosto de 1955, o milionésimo Fusca era produzido na fábrica da Volks em Wolfsburg. O carro com carroceria autoportante e motor boxer se tornou símbolo do milagre econômico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Pai, mãe, filha, Fusca
A visão de um carro popular com espaço para quatro pessoas, robusto e acessível remonta aos primórdios da construção automotiva. Na década de 1960, esse sonho de consumo se tornou realidade para muitas famílias. O teto conversível do Fusca VW 1200 proporcionou um toque de veraneio.
Foto: picture-alliance/dpa
Do asfalto ao campo
Mesmo sem ser um trator, o Fusca também mostrou ser útil na agricultura. Graças à tração traseira, ele conseguia atravessar os campos com um arado acoplado, facilitando a vida de muitos agricultores nos anos 1950.
Foto: ullstein bild - Teutopress
Fim de uma era
Com o número de série 11.916.519, o último Fusca fabricado na Alemanha deixou a matriz da montadora Volks em Wolfsburg em 1° de julho de 1974. Mas ele continuou a ser produzido no México e no Brasil.
Foto: AP
Um caso de amor
"Viva el Vocho" – "Viva o Fusca mexicano"! Em Puebla, o carro popular da Volks foi produzido até 30 de julho de 2003. Quando se casavam, os funcionários da "Volkswagen de México" eram transportados até a cerimônia neste "Fusca de casamento", com carroceria de ferro forjado.
Foto: picture-alliance/dpa
De volta ao Brasil
Um país com saudades: em 1993, o então presidente Itamar Franco (esq.) ordenou a retomada da produção do Fusca no país. Entre 1959 e 1986, haviam sido produzidos 3,3 milhões de Fuscas no Brasil. De 1993 a 1996, deixaram a linha de montagem outras 46 mil unidades.
Foto: Volkswagen do Brasil
De carro popular a veículo global
Também em muitos outros países, incluindo África do Sul, Bélgica, Austrália e Indonésia, a produção do Fusca teve continuidade. O carro popular dos alemães se tornou um veículo para todos: em todo o mundo, foram produzidos quase 22 milhões de unidades. Em muitos cantos do planeta, como no Egito (foto), o Fusca ainda está fortemente presente nas ruas.
Foto: Masr Betelz Club
Forma, conteúdo e preço
Para os nostálgicos e amantes do Fusca, a Volks lançou em 1998 a reedição New Beetle (Tipo 9C). Como o original projetado por Ferdinand Porsche, o carro com design retrô possuía carroceria e faróis arredondados. Mas a potência de seu motor e principalmente o seu preço iam muito além do que se poderia chamar de um carro popular.
Foto: Milad Allahyari
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Em 29 de dezembro de 1935, Hitler – que não possuía nenhuma carteira de motorista – recebeu pessoalmente o protótipo de seu "carro popular". Dois anos e meio depois, a pedra fundamental da fábrica da Volks em Wolfsburg era lançada em 26 de maio de 1938, com a presença do "Führer".
No início, o automóvel da "força através da alegria" não serviu à "motorização popular", mas sim à Wehrmacht, as Forças Armadas nazistas. Ele foi utilizado como carro utilitário e de comandante ("Küberlwagen") e veículo anfíbio na campanha de guerra.
Ninguém ficou surpreso, no entanto, com esse uso militar adicional. Pois, desde o início, tal conversão estava planejada. Num documento de 1934, Porsche afirmava que "um carro popular deve servir não somente como veículo de passageiros, mas também para entregas e propósitos militares específicos."
Um Fusca francês?
A história de sucesso do carro compacto para o povo começou, na verdade, após Segunda Guerra Mundial. Para se distanciar do passado nazista, ele foi apelidado de "Käfer" (besouro) na Alemanha. Já em dezembro de 1945, meio ano após o fim da guerra, o primeiro "Käfer" deixava a linha de montagem.
A história do Fusca
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Dez anos mais tarde, a fábrica da Volks em Wolfsburg comemorava a produção da milionésima unidade. O carro com a carroceria arredondada e motor boxer avançava como símbolo do milagre econômico alemão. Com o nome de Beetle, Fusca ou Vocho, ele conseguiu recordes de vendas em todo o mundo. No total, foram produzidas e vendidas 22 milhões de unidades do carro popular da Volks.
O distanciamento do passado nazista já aconteceu no período pós-guerra. Em outubro de 1945, o Ministério da Produção Industrial da França, que na época era liderado pelos comunistas, entrou em contato com Porsche.
"Em nenhum outro campo pode-se ver tão claramente o distanciamento bem-sucedido do nazismo como no esforço do governo francês para abocanhar para si os serviços do engenheiro projetista da Volks", afirma Pyta.
"Oportunismo sem limites"
A concorrência francesa sabia que era preciso evitar que o carro popular francês fosse associado ao passado nazista. "Houve uma intriga entra as concorrentes Renault e Peugeot. Porsche e seu genro Anton Piëch foram acusados de envolvimento em crimes de guerra", aponta Pyta.
Surpreendentemente, em dezembro de 1945, Porsche foi então colocado sob a custódia das autoridades militares francesas, onde permaneceu até agosto de 1947. O sucesso mundial do Fusca não foi capaz de impedir a detenção.
Para Pyta, uma cooperação entre Hitler e Porsche não é algo tão excepcional, pois supostos homens de ação apolíticos deixam-se muitas vezes impressionar quando governantes autoritários os atraem com megaprojetos fascinantes.
"Porsche não foi o único a cooperar com ditadores, sem nenhuma preocupação moral e num oportunismo sem limites", afirma o historiador. "Às vezes, empresários interessados somente no sucesso de sua firma ou na implementação de ambiciosos projetos tecnológicos não têm nenhum escrúpulo ao fazer acordos com governantes autoritários."
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Fusca: trajetória de um clássico
O primeiro Fusca do mundo foi produzido em 1938, na Alemanha, e o último dos cerca de 22 milhões de exemplares saiu de uma fábrica no México em 2003.
Foto: DW/C. Albuquerque
Museu do Automóvel da Volkswagen
O Museu do Automóvel da Volkswagen em Wolfsburg mostra uma parte importante da história do carro na Alemanha. Em abril de 1985, ele foi aberto ao público pela primeira vez. Em 5.000 m2 de área de exposição, mostram-se a marca VW e seus dois conceitos tecnológicos: a refrigeração a ar e o motor traseiro dos primeiros anos, e a refrigeração a água e o motor dianteiro desde a década de 1970.
Foto: DW/C. Albuquerque
Tipo 1
Em 17 de janeiro de 1934, Ferdinand Porsche entregou ao governo seu 'Estudo sobre a produção de um carro popular alemão'. Assim nasceu o Fusca.
Foto: DW/C. Albuquerque
1943
O Volkswagen estava pronto para ser produzido em 1939. A eclosão da Segunda Guerra impediu sua produção em série. Na foto: um Fusca sedã, Tipo 60, 1943.
Foto: DW/C. Albuquerque
Fusca 'Brezel'
Com o apoio do governo militar britânico, tem início em 1945 a produção do chamado Fusca 'Brezel', o primeiro modelo construído para ser comercializado.
Foto: DW/C. Albuquerque
Ovali
Em 1953, desapareceu a coluna central do vidro traseiro. A janela traseira dividida ('Brezel') foi substituída por uma janela oval, que deu ao carro o nome de 'Ovali'.
Foto: DW/C. Albuquerque
Milagre econômico
Fusca modelo exportação, 1960. Nos anos 1950, o Fusca foi o símbolo do milagre econômico alemão. As mudanças mais notáveis eram sempre na janela traseira.
Foto: DW/C. Albuquerque
26 parafusos
Chassi da última série do Fusca. No final da Segunda Guerra, já havia a carroceria autoportante. Ela era firmamente aparafusada com apenas 26 parafusos.
Foto: DW/C. Albuquerque
Motor VW
O motor era fixado com apenas quatro parafusos. O motor compacto com refrigeração a ar garantia o lendário ruído do Fusca.
Foto: DW/C. Albuquerque
Sem portas
Fusca conversível da polícia, Tipo 18A, 1949. Carroceria feita pela firma Hebmüller. Número total de unidades: 482. Ausência de portas facilitava a saída dos policiais.
Foto: DW/C. Albuquerque
600 horas
Esta carroceria em vime única, feita para um Fusca conversível, foi realizada pelo cesteiro Thomas Heinrich em mais de 600 horas de trabalho.
Foto: DW/C. Albuquerque
Estrela de cinema
Fusquinha Herbie, 1969. Veículo promocional do filme 'Se meu Fusca falasse'. Na película, foram usados mais de 10 Herbies, que sofreram graves arranhões.
Foto: DW/C. Albuquerque
Casamento
Fusca de casamento, 1970. Produção individual. Feito no México como carruagem de casamento para os empregados da fábrica da VW em Puebla.
Foto: DW/C. Albuquerque
Obra de arte
Este Fusca de madeira foi feito pelo escultor veneziano Livio di Marchi, em 1999. O carro foi usado no Carnaval de Veneza do mesmo ano.
Foto: DW/C. Albuquerque
Mais largo
Fusca sedã 1303, 1973. Fusca mais largo da Europa com carroceria de aço. Largura: 220 cm. Velocidade máxima: 210 km/h. Potência: 250 cv.
Foto: DW/C. Albuquerque
Fusca Kamei
Fusca Kamei, 1953. Carro equipado com todos os opcionais produzidos pela firma Kamei exclusivamente para o Fusca, especialmente com o spoiler dianteiro Aerofix.
Foto: DW/C. Albuquerque
Última Edición
Fusca, Última Edición, 2003. Em 30 de julho de 2003, o último fusca deixou a linha de produção em Puebla. Um total de 21.529.480 Fuscas foram produzidos.
Foto: DW/C. Albuquerque
50 cv
VW 1303 LS, 1974. Velocidade máxima: 130 km/h. Potência 50 cv.
Foto: DW/C. Albuquerque
Fusca do ADAC
Fusca do clube alemão do automóvel ADAC, 1973. Último Fusca de patrulha do ADAC. Velocidade máxima: 125 km/h. Potência: 44 cv.
Foto: DW/C. Albuquerque
Último alemão
Volkswagen 1200, 1978. Último Fusca produzido na Alemanha. Em janeiro de 1978, a VW encerrou a produção do Fusca na Alemanha.