Superbactérias matam mais que aids ou malária, diz estudo
20 de janeiro de 2022
A cada ano, 1,2 milhão de pessoas morrem no mundo por infecções ligadas a micróbios resistentes a medicamentos. Cientistas afirmam que ameaça é "um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta".
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Infecções por superbactérias mataram 1,2 milhão de pessoas em 2019, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira (20/01) na revista científica The Lancet .
“Esses novos dados revelam a verdadeira escala da resistência antimicrobiana em todo o mundo e são um sinal claro de que devemos agir agora para combater a ameaça”, diz o pesquisador Chris Murray, da Universidade de Washington, coautor do estudo.
O levantamento descobriu que a resistência antimicrobiana (RAM) ou resistência a antibióticos matou mais pessoas do que HIV e aids ou malária.
Usando dados de 204 países e territórios, os pesquisadores descobriram que infecções bacterianas resistentes a medicamentos causaram diretamente 1,27 milhão de mortes em todo o mundo e foram associadas a 4,95 milhões de outros óbitos.
"As estimativas anteriores previam 10 milhões de mortes anuais por RAM até 2050, mas agora sabemos com certeza que já estamos muito mais próximos desse número do que pensávamos", afirma Murray.
O impacto da RAM é atualmente mais grave na África Subsaariana e no Sul da Ásia, enquanto cerca de uma em cada cinco mortes ocorre em crianças com menos de cinco anos.
Necessidade de novas medidas
O uso excessivo de antibióticos nos últimos anos levou os microrganismos a evoluir para superbactérias, fazendo com que sejam menos eficazes contra infecções graves.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que nenhum dos 43 antibióticos em desenvolvimento ou medicamentos aprovados recentemente foram suficientes para combater a resistência antimicrobiana.
Das sete bactérias mais mortais resistentes a medicamentos, só há vacinas disponíveis para duas.
"A RAM já é um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta. Por trás desses novos números estão famílias e comunidades que sofrem tragicamente o peso da silenciosa pandemia de RAM. Devemos usar esses dados como um sinal de alerta para estimular ações em todos os níveis", diz a enviada especial do Reino Unido sobre resistência antimicrobiana, Sally Davies.
O relatório destaca a necessidade urgente de se usar melhor os antibióticos e de se fazer mais para monitorar, prevenir e controlar infecções, aumentar os recursos de água potável e saneamento e financiar o desenvolvimento de novos medicamentos.
md (AFP, Reuters)
Superbactérias que ameaçam a saúde
Microrganismos como bactérias que criaram resistência a antibióticos continuam sendo um desafio para a ciência. Enquanto isso, fungos e bactérias mortais se alastram principalmente em ambiente hospitalar, mas não só ali.
Foto: Imago/Science Photo Library
Klebsiella pneumoniae
De 3% a 5% da população porta a bactéria Klebsiella pneumoniae, mas não fica necessariamente doente. Quem tem o sistema imunológico enfraquecido ou infecções agudas, por outro lado, está exposto a infecções gastrointestinais graves, pneumonia, septicemia, dependendo de onde as bactérias se instalem. A Klebsiella pneumoniae é um dos germes hospitalares mais perigosos que existem.
Foto: Imago/Science Photo Library
Candida auris
Candida auris é um fungo já multirresistente a fungicidas usados no combate a outros do mesmo gênero. Ele já foi identificado nos cinco continentes, e tem sido tão difícil livrar-se dele que alguns hospitais tiveram de fechar para eliminá-lo.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Armer
Pseudomonas aeruginosa
Esta bactéria altamente resistente foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das maiores ameaças à saúde humana, por ser um dos germes hospitalares mais comuns. A Pseudomonas aeruginosa é particularmente perigosa para os imunocomprometidos, mas mesmo indivíduos saudáveis estão expostos a infecções nos ouvidos ou na pele, se entram em contato com ela.
Foto: picture-alliance/BSIP
Neisseria gonorrhea
Não existe vacina contra a gonorreia, antibióticos são o único meio para tratar a infecção. No entanto, a bactéria Neisseria gonorrhea está cada vez mais resistente aos medicamentos normalmente utilizados em terapias. Dois casos de gonorreia super-resistente foram notificados na Austrália em 2018 e mais dois no Reino Unido no início de 2019.
Foto: picture alliance/BSIP
Salmonella
Uma infecção por salmonela pode desencadear várias doenças, como febre tifoide, febre paratifoide ou inflamação intestinal. Nas últimas décadas, surgiu uma cepa altamente contagiosa e resistente a antibióticos. Na Ásia e na África, por exemplo, tem havido epidemias de bactérias resistentes a medicamentos que se propagam através de alimentos ou água contaminados.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Thompson
Acinetobacter baumannii
Este patógeno ocorre frequentemente no solo e na água. É inofensivo para que esteja saudável, mas nos fracos e doentes, pode causar pneumonia grave, infeccionar feridas e até mesmo causar envenenamento do sangue (septicemia), com desenlace fatal. Pacientes em unidades de cuidados intensivos, em particular, sofrem frequentemente de infecções pelo Acinetobacter baumannii.
Foto: picture-alliance/BSIP/CDC
Mycobacterium tuberculosis
Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch, é o causador da maioria dos casos de tuberculose, uma das doenças infecciosas mais comuns do mundo, com mais de 1,7 milhão de mortes por ano. Estima-se que até 6% de todos os novos casos de tuberculose sejam resistentes basicamente a medicamentos antes bem eficazes.