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Supermercado acusado de usar símbolos nazistas em comercial

Volker Wagener av
25 de novembro de 2016

Tudo parece normal no spot natalino do Edeka – até que surgem supostas alusões ao nazismo em placas de carros. Rede já causou furor em 2015 com propaganda em que velhinho finge morrer para atrair a família.

Screenshot Youtube #Zeitschenken – EDEKA Weihnachtswerbung
Foto: Youtube/EDEKA

Um vídeo de publicidade natalina da rede de supermercados Edeka está provocados acalorados debates na Alemanha. Para detectar e entender o motivo da celeuma, porém, é preciso ter um olho para detalhes, um certo espírito de nerd – e até uma queda para teorias de conspiração.

O comercial em questão mostra crianças que se entediam em casa enquanto os superpais dão tudo de si nas compras natalinas: tudo em nome da festa, tudo em nome dos filhos.

Um clássico spot de Natal, enfim, até que, em meio ao burburinho das ruas, são enquadrados, em rápida sequência, dois carros cujas placas chamam a atenção: MU-SS-420 e SO-LL-3849. Para o espectador alemão é imediatamente óbvio: muss e soll, verbos auxiliares que expressam necessidade, obrigação.

A especialista em extremismo Sabine Bamberger-Stemmann, contudo, detecta outras mensagens, inadmissíveis, sobretudo na Alemanha. Assim, "SS" seria uma referência à Schutzstaffel, a organização paramilitar do ditador nazista Adolf Hitler, enquanto "420" remeteria ao aniversário do "Führer", 20 de abril.

A segunda licença também conteria referências cifradas, já que os algarismos 8 e 4 correspondem às letras H e D – um acrônimo da saudação nazista "Heil Deutschland" (Salve a Alemanha). Segundo a especialista, ainda, os números extremos 3 e 9 equivalem a C e D, ou "Christliche Identität", usado nos círculos radicais de direita para expressar antissemitismo.

Antecedente de provocação

Intenção ou acaso, o spot está gerando alvoroço nas redes sociais. Em contrapartida, a reação do Edeka é bastante relaxada: ambas seriam placas inventadas, inspiradas na letra da música de acompanhamento, referente aos atribulados progenitores ("Muss noch dies, muss noch das…" – Ainda tenho que fazer isso, ainda tenho que fazer aquilo...).

Tudo bastante verossímil – se a cadeia de supermercados não já tivesse antecedentes de quebra de tabus como recurso propagandístico natalino. Em 2015, ela já chamara a atenção com a história visual de um ancião que encena a própria morte, só para reunir os entes queridos sob a árvore de Natal. No Youtube, o vídeo comercial foi clicado 52 milhões de vezes, o hashtag #heimkommen ("vir para casa") bateu recordes.

Muitos acharam entre macabra e inadequada essa criação da firma de publicidade Jung von Matt, a qual reservou para o spot deste ano o hashtag #zeitnehmen ("dedicar tempo"). Na prática, contudo, é sobre as placas dos automóveis que se discute.

Em 2015, supermercados Edeka apostaram em morte forjada de velhinho para aumentar vendasFoto: YouTube/Edeka

Tudo em nome das boas vendas?

O histórico nazista da Alemanha dita que determinadas combinações alfabéticas estejam banidas das placas automotivas em todo o país: HJ (Hitlerjugend – Juventude Hitlerista), KZ (Konzentrationslager – campo de concentração), SA (sigla para Sturmabteilung, milícia paramilitar do Partido Nacional-Socialista) e, justamente, SS.

De resto, o governo federal faz apenas recomendações para que se evite "atentar contra os bons costumes". A decisão final cabe aos estados federados, e aí a coisa fica confusa. No município de Heide, em Schleswig-Holstein, por exemplo, a placa HEI-L é proibida, por evocar o famigerado "Heil Hitler"; enquanto se permite a combinação SE-XY no município de Bad Segeberg (SE), no mesmo estado.

No caso do comercial do Edeka, permanece a controvérsia se a agência Jung von Matt teria intencionalmente posto em circulação mensagens de extrema direita. Comentadores politicamente corretos estão indignados, enquanto outros não entendem o motivo da agitação, uma vez que, até então, ignoravam totalmente o simbolismo dessas combinações alfabéticas e numéricas.

Uma avaliação mais sóbria é que nem a rede de produtos alimentícios nem seus publicitários teriam qualquer intenção de promover a ideologia ultradireitista, empregando os códigos nazistas como quebra de tabu calculada, um meio estilístico provocador. O Edeka e Jung von Matt querem vender, para tal procuram despertar o interesse público. E parece que conseguiram, mais uma vez.

 

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