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Supermercado sem plástico

Stuart Braun av
8 de março de 2018

Para reduzir lixo plástico, rede holandesa lança primeira seção de supermercado livre do material do mundo. Iniciativa pode servir de exemplo e ser gota d'água no oceano dos 300 milhões de toneladas anuais de plástico.

"Entre num mundo livre de plástico", convida a nova seção no Ekoplaza Amsterdã
"Entre num mundo livre de plástico", convida a nova seção no Ekoplaza AmsterdãFoto: Ewout Huibers

Reduzir o lixo plástico é um dos maiores desafios ambientais da atualidade. Um novo passo nesse sentido acaba de ser dado em Amsterdã, na Holanda, onde foi inaugurada a  primeira seção de supermercado livre de plástico do mundo.

A seção sem plástico é fruto de um ano de campanha realizada pela iniciativa A Plastic Planet, sediada no Reino Unido e cuja meta é "reduzir dramaticamente" o uso do material sintético, sobretudo nas embalagens de alimentos e bebidas.

A colaboração com a cadeia holandesa de supermercados Ekoplaza permite aos consumidores escolherem entre 700 artigos sem plástico nas embalagens. Todas as estantes e etiquetas da seção são igualmente livres do material, e todos os produtos trazem a Plastic Free Mark, um novo selo que ajuda os compradores a identificarem rapidamente as mercadorias que não contribuem para o problema crescente do lixo plástico no planeta.

Leia também: Alemanha e o desafio de reduzir o lixo plástico

Trata-se de um teste prático para materiais biodegradáveis inovadores, e ao mesmo tempo um retorno a materiais de embalagem tradicionais, como vidro, metal e papelão.

Em Berlim e em outras cidades europeias, lojas independentes de produtos orgânicos já baniram o plástico há algum tempo, porém esse é o primeiro experimento em massa com o comércio de baixa produção de resíduos. Até o fim de 2018, todas as filiais da Ekoplaza na Holanda disporão de um corredor sem plástico.

"Plástico para embalar comida é indefensável"

Além de se associar à rede Ekoplaza na Holanda, A Plastic Planet vem realizando nas redes sociais uma campanha intensa com a hashtag #PlasticFreeAisle. Que vem surtindo efeito: grandes cadeias – como a Lidl, presente em cerca de 30 países – estão sendo forçadas a reagir às preocupações dos consumidores no Twitter.

Desde o início da campanha A Plastic Planet, no começo de 2017, o movimento antilixo vem ganhando força no Reino Unido. Apenas um mês antes do lançamento da seção plástico-zero na Holanda, que ocorreu no último dia 28 de fevereiro, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciara seu apoio às prateleiras livres do material sintético, em seu primeiro discurso de peso sobre o meio ambiente.

Materiais tradicionais, como vidro, papel ou metal, são alternativas às embalagens de plásticoFoto: Ewout Huibers

De acordo com uma enquete, a iniciativa é apoiada por mais de 90% dos britânicos. No entanto, ativistas ainda estão esperando que os supermercados do Reino Unido sigam o exemplo do Ekoplaza. "É blablablá demais e ação de menos", comentou à DW Sian Sutherland, cofundadora de A Plastic Planet.

May prometeu as prateleiras sem plástico dentro de 25 anos. O maior varejista de comida congelada do Reino Unido, Iceland, se comprometeu a ser o primeiro supermercado britânico a eliminar as embalagens plásticas em todos os seus produtos – mas só daqui a cinco anos.

Para Sutherland, agora é a hora de agir. "Há um uso do produto que é bem indefensável: plástico indestrutível para embalar comida perecível. Como é que isso aconteceu? Só queremos pedir aos nossos supermercados: nos deem uma seção. Não somos tão intransigentes assim, só queremos ter a opção de comprar sem plástico."

Reciclagem não basta

Os comerciantes varejistas de frutas e verduras respondem por cerca de 40% de todas as embalagens de plástico do Reino Unido. Concentrando-se nas prateleiras dos supermercados, a campanha #PlasticFreeAisle visa atingir o cerne do problema – ao contrário do lobby das embalagens de plástico, que se esconde atrás do subterfúgio da reciclagem.

Na Alemanha – famosa por sua adoção da energia verde e da reciclagem, mas com a maior taxa mundial per capita de embalagens plásticas –, alguns supermercados permitem que os consumidores façam compras com seus próprios recipientes. Outros tentam desencorajá-los de empregar sacos transparentes nas seções de frutas e verduras.

No entanto, segundo Tobias Quast, especialista em resíduos e recursos da Friends of the Earth em Berlim, tais "esquemas-piloto não são suficientemente ambiciosos, nem de longe".

Embora a reciclagem costume ser festejada como grande solução para a poluição, a maioria esmagadora dos 300 milhões de toneladas de plástico produzidos a cada ano, em nível global, não é reciclável.

"A primeira seção de supermercado sem plástico do mundo"Foto: Ewout Huibers

A incineração é outra solução altamente controversa, pois libera substâncias tóxicas, como a dioxina, e estudos acusam taxas de câncer mais elevadas nas áreas próximas a incineradores de lixo.

"Temos que parar de pensar em termos de gestão de resíduos, e em vez disso pensar em gestão de recursos", insta Sutherland. Nesse sentido, deveria haver zero de lixo plástico.

Sutherland frisa que sua campanha não é antiplástico, mas que esse material altamente útil e durável tem sido desperdiçado, em vasta escala, em embalagem que acaba se transformando em lixo sem valor e nocivo. "Embalagem plástica de comida e bebida é útil por uma questão de dias, mas permanece uma presença destrutiva na Terra pelos séculos seguintes", frisa.

Uma carta aberta em favor da iniciativa das seções livres de plástico, publicada recentemente pelo jornal britânico The Guardian, enfatiza o absurdo da reciclagem de plástico. Ela é assinada por Julie Andersen, diretora executiva da Plastic Oceans Foundation, Laura Chatel, da Zero Waste France, e Julian Kirby, encarregado de justiça ambiental da Friends of the Earth England, entre muitos outros.

"Num momento em que o plástico reciclado cobre apenas 6% da demanda total do material na Europa, está claro que a reciclagem não é a saída para o problema. A embalagem plástica de alimentos e bebida não tem lugar numa economia circular, já que é difícil de recuperar, facilmente contaminável e, no mais das vezes, desprovida de valor", diz o texto.

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