Supermercados alemães pedem que Berlim pressione Bolsonaro
9 de setembro de 2020
Gigantes do varejo expressam preocupação com o desmatamento no Brasil e pedem que governo Merkel cobre uma mudança de rumo na política ambiental de Bolsonaro.
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Duas das maiores cadeias de supermercados da Alemanha, Edeka e Lidl, manifestaram preocupação com o desmatamento no Brasil e pediram que o governo alemão pressione o governo do presidente Jair Bolsonaro a conter a devastação ambiental.
"Tendo em vista o aumento da demanda global por soja e os desenvolvimentos na região amazônica, compartilhamos suas preocupações", diz uma carta da Lidl enviada à eurodeputada alemã Anna Cavazzini, uma crítica ferrenha da política ambiental de Bolsonaro.
"A rede Edeka está observando os acontecimentos no Brasil com grande preocupação", diz a outra rede, também em carta enviada à eurodeputada.
No documento, a Edeka também afirma que pediu que produtores de soja brasileiros se comprometam a atuar para que áreas do Cerrado não sejam destruídas e convertidas em zonas de cultivo.
A Edeka afirmou ainda que, enquanto membro da Federação Alemã do Comércio de Alimentos (BVLH), pediu que o governo da chanceler federal alemã, Angela Merkel, pressionasse o governo Bolsonaro a agir para conter o desmatamento e dar prioridade à proteção florestal.
A rede Lidl também é membro da federação que apresentou o pedido ao governo alemão. "Na nossa visão, o desmatamento não é o único aspecto problemático, mas também o fato de que monoculturas em larga escala e uso intenso de pesticidas empobrece o solo e favorece a erosão", disse o conglomerado.
Ambas as redes ainda afirmaram que estão comprometidas com a adoção de "cadeias de abastecimento sem desmatamento". A Lidl, por sua vez, afirmou que o grupo prefere soja da União Europeia (UE) e incentiva a mudança para um cultivo de soja mais sustentável no Brasil.
De acordo com o jornal alemão Taz, que publicou uma reportagem sobre o posicionamento das duas redes, a declaração dos dois conglomerados pode aumentar a pressão para que o governo alemão reavalie seu rumo em relação ao Brasil.
A carta aberta tem cerca de 40 signatários, incluindo algumas das redes de supermercados mais importantes do Reino Unido, como Tesco, Sainsbury's, Morrisons e Marks & Spencer, além da rede Burger King, do fundo público de pensões sueco AP7 e de outras empresas de gestão de investimentos.
MD/ots
Soja no portal da Amazônia
Somente na região da Amazônia brasileira, cerca de 437 mil km² de floresta tropical foram derrubados nos últimos 30 anos, segundo dados do Inpe. Em parte dessa terra pastam os rebanhos de gado; em outra, cultiva-se soja.
Foto: DW/N. Pontes
Mato Grosso diverso
Terceiro maior estado do país, atrás de Amazonas e Pará, Mato Grosso é o único a abrigar três biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal. Dados oficiais apontam que 65% da Floresta Amazônica nativa estão conservados no estado, a maior parte na região noroeste, onde se concentram terras indígenas e unidades de conservação.
Foto: DW/Nádia Pontes
O desafio do convívio
Mato Grosso também é campeão em área plantada de soja no país: são 106 mil km², área maior que a de Portugal. Um levantamento feito pela Universidade Estadual de Mato Grosso mostra que o aumento da área cultivada na safra 2018/19 ocorreu principalmente no bioma Amazônia, com 144.074 hectares, 64% das novas áreas. No Cerrado, a expansão foi de 80.737 hectares, e no Pantanal, de 592 hectares.
Foto: DW/Nádia Pontes
Da China para o Brasil
Foi às margens do rio Yangtsee, na China, há mais de 4 mil anos, que surgiram os primeiros registros de cultivo de soja, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Atualmente, o país asiático é o principal destino desse grão produzido no Brasil. A soja chegou à Europa e aos Estados Unidos antes de virar importante commodity brasileira.
Foto: DW/Nádia Pontes
Soja no Mato Grosso
No Brasil, o cultivo da soja só foi possível com a intervenção de cientistas da Embrapa para adaptar a cultura às condições tropicais. O grão começou a ganhar terreno no Brasil no fim da década de 1960, no Rio Grande do Sul. Atualmente, o país é o segundo maior produtor, com 114,8 milhões de toneladas, atrás dos Estados Unidos (123,6 milhões de toneladas) na safra 2018/2019.
Foto: DW/N. Pontes
Moratória da soja
Em julho de 2006, um pacto pioneiro entrava em vigor para conter o avanço das lavouras sobre a Amazônia: a Moratória da Soja. O acordo envolve ONGs, agroindústria e governos, que firmaram o compromisso de não comprar commodity de áreas desmatadas. Mas a moratória está na berlinda, já que algumas associações de produtores se movimentam para colocar fim ao pacto.
Foto: DW/Nádia Pontes
Uso de agrotóxico
Não é raro ver aplicação de agrotóxico em plantações ao longo das rodovias no norte de Mato Grosso, conhecido como portal da Amazônia. De 2000 a 2016, o aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil foi de 240%, mostram dados oficiais. As vendas são, em 52% dos casos, destinadas à cultura da soja. Cana e milho vêm em seguida, com 10% cada, revelou o trabalho da pesquisadora Larissa Bombardi.
Foto: DW/Nádia Pontes
Agroecologia
Cercado por vastas áreas de plantação de soja, moradores do assentamento 12 de Outubro, no município de Cláudia, tentam aplicar os princípios da agroecologia, cultivo livre de agrotóxico. Além da venda dos alimentos produzidos no local em feiras nas cidades vizinhas, as frutas e hortaliças também são oferecidas pela internet num sistema criado pelos produtores e estudantes, o Cantasol.
Foto: DW/Nádia Pontes
Floresta fragmentada
Pesquisadores como os biólogos Ana Lúcia Tourinho e Domingos de Jesus Rodrigues, da Universidade Federal de Mato Grosso, destacam que a degradação ambiental e fragmentação da floresta são uma ameaça à Amazônia. O aumento do desmatamento, do fogo e de grandes obras, como hidrelétricas, prejudica serviços ecossistêmicos como a produção de chuva, fundamental para o agronegócio.