Suposto ataque com gás de cloro deixa mortos em Aleppo
11 de agosto de 2016
Ativistas e moradores da cidade síria relatam que há mortos e feridos após bomba de barril ser arremessada sobre bairro controlado por rebeldes. Rússia anuncia trégua de três horas para entrada de ajuda humanitária.
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Ao menos três pessoas morreram e muitas ficaram com dificuldades para respirar quando um gás, que se acredita ser gás de cloro, foi lançado junto com bombas de barril sobre um bairro da cidade síria de Aleppo nesta quarta-feira (10/08), relataram diversas pessoas a agências de notícias.
À agência AP, o socorrista Khlaed Harah afirmou que um helicóptero do governo jogou quatro bombas de barril durante a noite no bairro de Zabadieh e que uma delas liberou gás de cloro. Uma mãe e seus dois filhos teriam morrido. A veracidade do relato não pôde ser verificada.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo ativista sediado em Londres e que acompanha a guerra civil na Síria, também reportou que bombas de barril arremessadas pelo governo atingiram o bairro de Zabadieh. A organização disse ter recebido relatos de duas mortes e de várias pessoas com dificuldade para respirar, sem mencionar gás de cloro.
À agência Reuters, Hamza Khatib, gerente do hospital Al Qud, em Aleppo, disse que houve quatro mortes por envenenamento com gás e 55 feridos. Sete pessoas ainda estavam em tratamento. Khatib disse ter guardado pedaços das roupas dos pacientes e fragmentos das bombas de barril como evidências para análise.
A Defesa Civil Síria, serviço de regate que age no território controlado pelos rebeldes, disse à Reuters ter registrado três mortes e 22 feridos depois de um barril suspeito de conter gás de cloro cair sobre o bairro de Zabadieh. O grupo disse não poder confirmar se realmente se tratava do gás.
Cessar-fogo diário
Aleppo, no norte da Síria, era a cidade mais populosa do país antes da guerra e agora está dividida entre áreas controladas pelo regime e pela oposição. Uma batalha intensa pelo controle de Aleppo eclodiu na sexta-feira passada, quando rebeldes lançaram uma grande operação e conseguiram romper o cerco imposto há um pelo governo mês ao seu território. Acredita-se que 250 mil pessoas vivam na área, no leste da cidade.
A Rússia anunciou que haverá um cessar-fogo diário de três horas em Aleppo a partir desta quinta-feira, para permitir que comboios de ajuda humanitária ingressem na cidade. Um representante do Ministério russa da Defesa afirmou que a trégua será realizada entre as 10h e as 13h.
Desde o início da ofensiva insurgente, há relatos não confirmados de ativistas e moradores sobre ataques com gás de cloro à área controlada pela oposição. Governo e rebeldes negam ter usado armas químicas ao longo da guerra civil. O Ocidente culpa o regime por ataques do tipo, que por sua vez, ao lado da Rússia, acusa os opositores.
Investigadores da ONU concluíram que gás sarin foi usado num subúrbio de Damasco em 2013. Os EUA acusaram o governo sírio pelo ataque, que pode ter matado 1.429 pessoas. Damasco negou a responsabilidade, culpando os rebeldes.
LPF/rtr/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.