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Suposto sócio de empresa do caso Covaxin nega participação

14 de setembro de 2021

Senadores apuram se Marcos Tolentino seria responsável pela FIB Bank, que deu carta-fiança à Precisa Medicamentos. Ele é próximo de Ricardo Barros, também investigado.

Marcos Tolentino
Marcos Tolentino negou-se a responder diversas perguntas durante seu depoimentoFoto: Pedro França/Agência Senado

O advogado e empresário Marcos Tolentino, suspeito de representar a FIB Bank, que emitiu uma carta-fiança à Precisa Medicamentos para que ela vendesse a vacina indiana Covaxin ao Ministério da Saúde, prestou depoimento à CPI da Pandemia nesta terça-feira (14/09), e negou ser sócio oculto da empresa financeira.

Tolentino é amigo do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e também investigado pela CPI como mentor de supostas irregularidades na compra da Covaxin.

O Ministério da Saúde assinou em fevereiro um contrato para comprar 20 milhões de doses da Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, mas nenhuma dose chegou ao país, devido a dificuldades de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outros problemas. Em julho, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a pasta iria cancelar o contrato de compra do imunizante, produzido pelo laboratório Bharat Biotech, representado no Brasil pela Precisa.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Pandemia, e outros membros da comissão suspeitam que Tolentino teria viabilizado a emissão da carta-fiança para a Precisa Medicamentos para "satisfazer os interesses" de Barros na venda da Covaxin, e queriam apurar as relações do empresário com o deputado e com o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Tolentino, porém, manteve-se em silêncio em diversos momentos do depoimento, e não respondeu a questões dos senadores sobre suas relações pessoais e profissionais.

Ele já havia sido intimado a depor no início de setembro, e não havia comparecido sob o argumento de que estaria internado no hospital Sírio Libanês – mas, no mesmo dia, participou de uma entrevista ao vivo. Nesta segunda-feira, a Justiça Federal em Brasília autorizou que Tolentino fosse conduzido coercitivamente à CPI caso ele não comparecesse.

Durante o depoimento, Tolentino negou ser "sócio oculto" da FIB Bank, que apesar do nome não é um banco, e de ter participado de tratativas para a venda da Covaxin.

"Sobre a minha participação no quadro societário do FIB, divulgada por matérias afirmando a dita sociedade oculta acerca da empresa FIB Bank, eu, Marcos Tolentino, afirmo que não possuo qualquer participação na sociedade. Não sou sócio da empresa, como veiculado por algumas matérias", afirmou ele na abertura da sessão.

Tolentino também é proprietário da Rede Brasil de Televisão, emissora com sedes em São Paulo e em Campo Grande.

Indícios apresentados por senadores

O nome de Tolentino entrou no radar dos senadores depois de o diretor-presidente da FIB Bank, Roberto Ramos Júnior, ter afirmado em depoimento à CPI, em agosto, que ele havia atuado como advogado de Ricardo Benetti, sócio da Pico do Juazeiro, que é uma das sócias da empresa financeira.

Questionado se era remunerado pela Pico do Juazeiro, Tolentino manteve-se em silêncio, mas os senadores apresentaram diversos indícios de vínculos entre ele e a FIB Bank. Um deles era uma procuração que dava a Tolentino poderes amplos para representar a Pico do Juazeiro.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AL), afirmou que o endereço de registro da Pico do Juazeiro era o mesmo do de uma emissora de Tolentino. Além disso, segundo senadores da CPI, a empresa MB Guassu, outra acionista da FIB Bank, tinha o mesmo número de telefone do escritório de advocacia de Tolentino.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que Tolentino teria um e-mail institucional da FIB Bank. Uma empresa registrada em nome da mãe de Tolentin, Brasil Space Air Log, também recebeu R$ 1,9 milhão em transferências da FIB Bank. Tolentino negou-se a prestar mais detalhes sobre esses pagamentos.

Calheiros apontou que um dessas transferências da FIB Bank à Brasil Space Air Log foi de R$ 336 mil, equivalente a 96% do valor que a Precisa Medicamentos havia pago, no mesmo dia, à FIB Bank pela carta-fiança. Os outros 4% foram transferidos a Wagner Potenza, ex-presidente da FIB Bank, segundo o senador.

Calheiros também afirmou que Tolentino havia sido sócio da Brasil Space entre 2018 e 2020. O advogado do depoente, então, relatou que Tolentino havia retornado ao comando da empresa nesta segunda-feira, um dia antes do depoimento.

Durante os trabalhos da CPI, os senadores descobriram que a FIB Bank também estava registrada em nome de um laranja, que nunca teve relação com a companhia.

Calheiros deve entregar seu relatório até o final de setembro à CPI da Pandemia, que então será votado pela comissão e pode recomendar ao Ministério Público o indiciamento de suspeitos.

Relação com Bolsonaro

Tolentino foi questionado diversas vezes durante o depoimento sobre a natureza de sua relação com Bolsonaro, e foram apresentadas fotos de encontros entre os dois.

Ele relatou aos senadores ter tido apenas encontros "casuais" com o presidente e que o conhecia desde o período em que ele era deputado federal, mas que não havia um relacionamento de amizade entre os dois.

"Estive com ele em alguns encontros, meramente casuais. Inclusive, se pegar até as datas em que comecei a voltar para cá, já foi em junho, julho, no marco regulatório das TVs", disse.

Os senadores aprovaram requerimentos para que a União suspenda todos os contratos com o governo federal que tenham a FIB Bank como garantidora, e para que o Tribunal de Contas da União faça auditoria em todos esses contratos.

bl/ek (ots)

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