Supremacista branco se declara culpado por massacre nos EUA
29 de novembro de 2022
Payton Gendron, de 19 anos, deve ser sentenciado à prisão perpétua. Em maio, ele matou dez pessoas em supermercado de bairro majoritariamente negro no estado de Nova York. Chacina foi transmitida nas redes sociais.
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O supremacista branco que executou um massacre racista em maio em um supermercado de Buffalo, nos EUA, declarou-se culpado nesta segunda-feira (28/11) perante a justiça americana.
Payton Gendron, de 19 anos, deverá passar o resto de sua vida na prisão depois de admitir uma acusação de terrorismo doméstico motivado por ódio. No supermercado, ele atirou em 13 pessoas com um fuzil semiautomático tipo assalto. Onze das vítimas eram negrasOnze das vítimas eram negras.
O promotor do distrito do condado de Erie, John Flynn, informou que Gendron se declarou culpado de todas as acusações, incluindo o homicídio em primeiro grau de 10 pessoas e três tentativas de homicídio.
Após essa etapa judicial, Gendron, que tinha 18 anos no dia do massacre, deve pegar "prisão perpétua sem possibilidade de revisão quando for anunciada sua condenação em 15 de fevereiro de 2023", disse o promotor em um comunicado.
No entanto, o homem ainda enfrentará acusações federais por crimes de ódio, o que pode levar a uma sentença de pena de morte.
O promotor afirmou que seus crimes "racistas" foram "alimentados pela ideologia supremacista branca direcionada deliberadamente contra pessoas negras".
"Embora tenha sido feita justiça, nada trará de volta as 10 pessoas preciosas que perderam suas vidas naquele dia", declarou Flynn à imprensa. "Esperamos que a conclusão legal leve certo alívio às famílias e às vítimas", acrescentou.
"Foi estabelecido, sem sombra de dúvida, que ele tinha esse motivo horrível, que em pouco mais de dois minutos ele assassinou tantos afro-americanos quanto pôde", disse o promotor. "A justiça foi feita hoje."
Gendron planejou por meses o ataque ao supermercado Tops Friendly, escolhido porque a população do bairro era majoritariamente negra. Ele dirigiu de sua casa, na pequena cidade de Conklin, a mais de 300 km de distância, com a intenção de matar o maior número possível de negros, de acordo com a acusação.
Armado com um fuzil AR-15, comprado legalmente, Gendron atirou contra quatro pessoas no estacionamento do mercado, das quais três morreram. Em seguida, entrou no estabelecimento e matou, entre outros, o vigia e um policial aposentado, que se defendeu disparando vários tiros antes de morrer, segundo a polícia.
No momento do ataque, Gendron usava um capacete com uma câmera e transmitiu tudo ao vivo pela plataforma Twitch.
Trata-se da primeira pessoa em Nova York condenada por terrorismo doméstico, uma figura jurídica introduzida no código penal em 2020, punida com a prisão perpétua sem liberdade condicional.
Após o massacre de Búfalo, o estado de Nova York aumentou a idade mínima necessária para a compra de armas semiautomáticas de 18 para 21 anos.
jps (Reuters, AFP)
As piores matanças com arma de fogo nos EUA desde Columbine
Com uma cultura de armamento popular que contrasta com outras nações desenvolvidas, EUA são palco regular de massacres. Até mesmo terroristas islâmicos conseguiram comprar legalmente armas para cometer atentados no país.
Foto: Getty Images/E. Miller
Massacre na escola Columbine, 20/04/1999: 13 mortos
Em 1999, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold assassinaram 12 colegas e um professor, antes de cometerem suicídio. Imagens da frieza demonstrada pela dupla provocaram choque nos EUA. "Columbine" se tornou sinônimo para massacres em escolas. Foi até cunhada a expressão "efeito Columbine" para descrever o impacto que a chacina teve sobre as medidas de segurança e na inspiração de imitadores.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Jefferson County Sheriff's Department
Ataque terrorista em San Bernardino, 02/12/2015: 14 mortos
Em 2015, o casal Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik abriu fogo na sede de um centro de atendimento para portadores de deficiências em San Bernardino, matando 14 e ferindo 22. Farook e Malik haviam se tornado radicais islâmicos nos anos precedentes. Ambos acabaram sendo mortos pela polícia. Os dois fuzis de assalto usados na chacina haviam sido comprados legalmente por um cúmplice
Foto: picture-alliance/dpa
Massacre na base militar de Fort Hood, 05/11/2009: 14 mortos
O major Nidal Hasan, psiquiatra do Exército dos EUA, matou 14 pessoas, entre as quais uma grávida de oito meses, e feriu 30 na base militar de Fort Hood, Texas, em 2009. Mesmo demonstrando sinais de radicalização islâmica, Hasan conseguiu comprar legalmente a pistola semiautomática usada no massacre. Preso em seguida, Hasan foi condenado à morte em 2013 e ainda aguarda execução.
Foto: Reuters
Matança em escola de Parkland, 14/02/2018: 17 mortos
Armado com um fuzil de assalto comprado legalmente, o ex-estudante Nikolas Cruz, de 19 anos, dirigiu-se a sua antiga escola em Parkland, Flórida, onde matou três funcionários e 14 estudantes. Tendo se entregado e se declarado culpado, ele ainda aguarda sentença. Semanas depois do massacre, milhões de jovens protestaram nos EUA por mais controle sobre as armas.
Foto: picture-alliance/newscom/G. Rothstein
Duplo ataque no Maine, 25/10/2023: 18 mortos
Armado com um fuzil, Robert Card, um reservista do Exército dos EUA de 40 anos, abriu fogo em uma pista de boliche da cidade de Lewiston, no estado do Maine. Depois, seguiu para um bar e voltou a disparar. Dezoito pessoas morreram nos dois ataques. Outras 13 ficaram feridas. A caçada ao agressor durou dois dias. Card foi encontrado morto em uma área rural, aparentemente depois de cometer suicídio
Foto: Androscoggin County Sheriff's Office via AP/picture alliance
Massacre em escola de Uvalde, 24/05/2022: 21 mortos
Após comprar legalmente dois fuzis de assalto, Salvador Ramos, de 18 anos, invadiu a escola de ensino fundamental Robb, em Uvalde, Texas. matando dois professores e 19 alunos entre 9 e 10 anos. A polícia demorou mais de uma hora para entrar no local e abater Ramos. O crime reacendeu o debate sobre o comércio desenfreado de armas de fogo nos EUA.
Foto: San Antonio Express-News/ZUMA Press/IMAGO
Ataque racista em hipermercado de El Paso, 03/08/2019: 23 mortos
Com um fuzil de assalto comprado legalmente, o supremacista branco Patrick Wood Crusius, de 21 anos, viajou até El Paso, Texas, cidade com mais de 80% da população de origem latina. Num hipermercado, matou 20 imediatamente, e mais três morreram no hospital. A polícia o identificou também como autor de um manifesto racista publicado na internet.
Foto: picture-alliance/dpa/Bildfunk/AP/The El Paso Times/M. Lambie
Chacina em igreja batista de Sutherland Springs, 05/11/2017: 26 mortos
Devin Patrick Kelley, ex-militar de 26 anos, com histórico de indisciplina e violência doméstica, matou 26, incluindo uma gestante de oito meses, na Primeira Igreja Batista em Sutherland Springs, Texas. Durante a chacina, Kelley foi baleado por um morador da vizinhança. Após fugir, cometeu suicídio. Ele comprara legalmente o fuzil e a pistola usadas no massacre.
Massacre de crianças na escola Sandy Hook, 14/12/2012: 27 mortos
Armado com um fuzil comprado legalmente por sua mãe, Adam Lanza, de 20 anos, abriu fogo na Escola Sandy Hook em Newtown. Das 26 vítimas, 20 eram crianças entre 6 e 7 anos. Antes de se dirigir à escola, Lanza assassinou sua mãe. A escala do massacre provocou indignação, mas ativistas pró-armas tentaram minimizar o episódio, espalhando mentiras de que o massacre fora encenado
Foto: Reuters
Massacre da Universidade Virginia Tech, 16/04/2007: 32 mortos
Armado com duas pistolas semiautomáticas, o estudante sul-coreano Seung-Hui Cho, de 23 anos, matou 32 e feriu 17 no campus da Universidade Virginia Tech, em Blacksburg. Cercado pela polícia, Cho cometeu suicídio. Mesmo sofrendo problemas mentais, ele conseguiu comprar legalmente as armas usadas na chacina. Num manifesto, Cho chamara os autores do massacre de Columbine de "mártires"
Foto: TIM SLOAN/AFP/Getty Images
Ataque terrorista em boate gay de Orlando, 12/06/2016: 49 mortos
Armado com um fuzil de assalto e uma pistola, o americano de origem afegã Omar Mateen, de 29 anos, entrou na boate gay Pulse, em Orlando, e matou 49, ferindo ainda 53. Em telefonema à polícia durante a chacina, Mateen fez um juramento de lealdade ao grupo jihadista "Estado Islâmico". Ele acabou sendo abatido pela polícia. As armas usadas na chacina haviam sido compradas legalmente .
Foto: Reuters/S. Nesius
Massacre em show de Las Vegas, 01/10/2017: 60 mortos
Stephen Paddock, investidor de 64 anos, se hospedou num hotel de Las Vegas e estocou mais de 20 fuzis de assalto comprados legalmente em duas suítes do 32º andar, que tinham vista para um espaço de concertos a céu aberto. Quando o local sediou um festival, Paddock abriu fogo, matando 60 e ferindo 413, e suicidou-se em seguida. Foi o pior massacre cometido por um só individuo na história dos EUA