Nome do autor do "Manifesto Comunista" em lápide de mármore teria sido alvo de ataque com martelo. Não é a primeira vez que o túmulo do filósofo alemão é atacado.
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A lápide de mármore sobre o túmulo de Karl Marx foi vandalizada no último fim de semana, informou nesta terça-feira (05/02) a entidade que administra o cemitério de Highgate, no norte de Londres, onde filósofo alemão foi enterrado em 1883.
Aparentemente, a lápide, que continha os nomes de Marx e de familiares, foi danificada com um martelo. "O nome de Karl Marx parece ter sido particularmente atacado, por isso, não foi apenas um ataque aleatório de um monumento. Parece ter sido um ataque muito direcionado a Marx", afirmou o diretor-executivo da Fundação Amigos do Cemitério de Highgate, Ian Dungavell.
Nascido em 1818 em Trier, na Alemanha, Marx se mudou para Londres em 1849, onde viveu até a sua morte, em 1883. O autor de O Capital e coautor do Manifesto Comunista ficou famoso por suas críticas ao capitalismo.
A lápide danificada faz parte do túmulo original do filósofo e continha o nome de Marx, de sua esposa e de seu neto, além das datas de nascimentos e mortes de cada um. Em 1956, o Partido Comunista Britânico financiou um busto do filósofo com os dizeres "trabalhadores do mundo, uni-vos" para colocar no local.
Marx é uma das personalidades mais famosas enterradas no Cemitério de Highgate e já foi alvo de ataques no passado. Além de ter sido manchado com tinta, uma bomba caseira foi colocada no local em 1970.
"Em nível humano, me desaponta que alguém destrua um túmulo. Fazer algo tão irracional é particularmente lamentável. É uma maneira inadequada de protestar", destacou Dungavell. "[Os danos] não são irreparáveis, mas nunca mais o túmulo será o mesmo", acrescentou.
A polícia de Londres está investigando o caso, porém, afirmou que o inquérito inicial já foi concluído e será reaberto, caso surjam novas informações. Ninguém foi preso.
O incidente foi o mais recente de uma onda de ataques a memoriais históricos em Londres nas últimas semanas. No mês passado, tinta foi jogada sobre uma estátua do ex-primeiro-ministro Winston Churchill e numa escultura comemorativa do Comando de Bombardeiros da Força Aérea Britânica.
CN/efe/afp/rtr
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Marx é possivelmente o mais influente de todos os filósofos alemães. Mas será que teria gostado do que fizeram com sua obra? O totalitarismo dos futuros regimes "marxistas" é um tópico controverso.
Foto: picture-alliance/akg-images
Visão aguçada
Karl Marx não foi só um mestre-pensador, mas também um grande observador de dinâmicas sociais e psicológicas. Suas análises econômicas são ao mesmo tempo descrições sutis de formas de vida modernas: sob pressão da economia, "os homens são finalmente obrigados a encarar com olhos sóbrios […] suas relações recíprocas". Capitalismo e iluminismo, diz o filósofo, mantêm entre si uma discreta relação.
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Idílio alemão e ideais franceses
Marx cresceu no perfeito idílio de uma região vinícola. O Vale do Mosela, onde se situa sua cidade natal, Trier, é considerado uma das mais belas paisagens cultivadas da Alemanha. A França não está distante. "Liberdade, igualdade, fraternidade", os grandes ideais da revolução de 1789, não tardaram a chegar a Trier. E aí, adeus ao romântico sossego regado a vinho branco.
Foto: imago/Chromorange
Alma poética
Na juventude, Marx era um poeta altamente romântico. "Em torno de mim flui uma pulsão eterna, / eterno arrebatamento, eterna chama", diz um de seus poemas. Os versos eram dedicados a Jenny von Westphalen. E a corte funcionou, pois os dois jovens casaram-se em junho de 1843. Primeiro no civil e pouco depois, apesar da descrença de Marx, também na igreja.
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Amigo e financiador
A vida inteira, Marx nunca conseguiu lidar com dinheiro, sua família estava sempre à beira da falência. Por isso foi um feliz acaso, não só editorial mas também financeiro, ele ter encontrado em meados da década de 1840 Friedrich Engels, filho rico e intelectual de um fabricante. Engels o apoiava regularmente: Marx seguiu tendo que frequentar a casa de penhores, mas com menor frequência.
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"Expropriação dos expropriadores"
Para impor limites aos capitalistas é necessária uma "socialização dos meios de produção", escreveu Marx em sua principal obra, "O Capital". Aí o "invólucro capitalista" arrebentará definitivamente. Depois é preciso partir para o ataque contra os "exploradores": "Os expropriadores serão expropriados", prometia o filósofo.
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História como tragédia – e farsa
Marx não perdoou quando o presidente Charles Louis Napoléon Bonaparte se proclamou imperador dos franceses em 1851, imitando seu grande modelo, Napoleão Bonaparte. "Hegel observou que todos os fatos e personagens de grande importância na história universal ocorrem duas vezes”, citou Marx, complementando: "Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa."
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"Não sou marxista"
Em nome de Marx, regimes totalitários tomaram o poder em diversas partes do mundo, com violência impuseram as doutrinas políticas que achavam encontrar em suas obras. O próprio Marx parece ter previsto o desastre bem cedo e comentado: "Tudo que sei é: não sou um marxista." A citação não é comprovada, mas certamente faz honra aos traços liberais de sua obra.
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Leste vermelho
O Leste é "vermelho" também na África: Marx e Engels são celebrados na Etiópia. Junto a Lênin, eram vistos como garantia de um grande futuro, que o país lutaria para conquistar. Em nome desse futuro a obra de Marx foi declarada doutrina infalível e aclamada pelas massas. Como em 1987, em Addis Abeba, durante o 13º aniversário da tomada do poder por Haile Mengistus.
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O último a sair apaga a luz
Até 1989, a filosofia de Marx esteve a serviço dos regimes totalitários na Europa Oriental, que acabaram falindo financeiramente. De repente os Estados soviéticos entraram em colapso. A Hungria foi a primeira a abrir as fronteiras para o Ocidente. Os cidadãos da Alemanha Oriental que lá se encontravam queriam uma única coisa: ir embora. A partir de 1989, por algum tempo deixou-se de falar de Marx.
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Projeto interminável
Alguns anos após o colapso do comunismo, Marx reaparece como figura de grafite em Berlim. Sua camiseta lembra: "Eu disse a vocês como mudar o mundo". Ele próprio, há muito tempo aposentado, tem que catar garrafas para sobreviver. É como se a revolução fosse um projeto sem fim – e impossível de completar.
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Marx sobre-humano
Uma estátua de Marx com mais de quatro metros de altura, cujos "longos cabelos e longo casaco representam sua sabedoria": assim explica o escultor chinês Wu Weishan sua visão do filósofo alemão. Em Trier houve grande relutância em aceitar o presente da China, devido ao pouco respeito pelos direitos humanos no país. O que Marx diria disso?
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Última conclamação
"Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos", talvez uma das frases mais conhecidas de Karl Marx, foi o que o escultor Laurence Bradshaw gravou na lápide do filósofo. Ele morreu em 1883, aos 64 anos, em Londres, e está sepultado no cemitério de Highgate. São palavras fáceis de dizer, mas em que ações resultarão? E serão as ações certas?