Túnel de fuga sob muro de Berlim é aberto ao público
8 de novembro de 2019
Passagem subterrânea foi construída a partir do lado ocidental na década de 1970 por berlinenses que tinham fugido do regime comunista anos antes. Esse é o primeiro túnel deste tipo aberto à visitação na cidade.
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Um túnel construído debaixo do muro de Berlim, utilizado para a fuga da Alemanha Oriental para a Ocidental, foi aberto ao público pela primeira vez nesta quinta-feira (07/11), na ocasião das comemorações dos 30 anos da queda da barreira que dividiu por 28 anos a capital alemã.
Próximo ao maior memorial do muro de Berlim, na rua Bernauer, o túnel foi inaugurado pelo prefeito da cidade, Michael Müller. Ele agradeceu as pessoas que iniciaram a obra improvisada de 100 metros de comprimento no final de 1970, nove anos depois da fronteira entre as duas Alemanhas ser selada pelo regime comunista.
"É ótimo ver que a batalha pela liberdade também foi realizada debaixo da terra", disse o prefeito. "Podemos vivenciar autenticamente a coragem das mulheres e homens que tentaram levar pessoas à liberdade e resistiram ao regime da Alemanha Oriental", destacou.
O túnel foi construído por um grupo de pessoas que havia fugido anteriormente para Berlim Ocidental. Eles queriam ajudar familiares e amigos a se juntar a eles no lado oeste. Entretanto, dias antes de concluírem as escavações, alguém alertou as autoridades, que utilizaram equipamentos de ultrassom para localizar a passagem e o túnel foi parcialmente destruído.
Nos 28 anos em que a cidade esteve dividida, mais de 70 túneis foram construídos debaixo do muro de 156,4 quilômetros de extensão, permitindo a fuga de cerca de 300 pessoas, segundo a associação Berliner Unterwelten ("Submundos de Berlim", em tradução livre), que realiza passeios turísticos nos bunkers e túneis históricos da capital.
A maioria dos túneis foi escavada a partir do leste. A região da rua Bernauer, no bairro de Mitte, era um dos locais mais visados para construções subterrâneas em razão do solo argiloso. Ali, foram construídos sete túneis sob o muro em um trecho de 350 metros. Muitos destes foram descobertos pela Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, ou entraram em colapso antes de serem utilizados.
A história de uma ex-informante da Stasi
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O túnel inaugurado na rua Bernauer pode ser acessado por um túnel de acesso construído pela Berliner Unterwelten. Através de duas janelas a 7,5 metros de profundidade, os visitantes podem observar o túnel, onde não é possível entrar. O local é tão estreito que as pessoas que o construíram podiam apenas caminhar agachadas.
A escavação começou no porão de um edifício no lado ocidental até outro prédio no lado oriental. Ulrich Pfeifer, um engenheiro civil que participou da construção do túnel original, havia fugido para Berlim Ocidental através o esgoto poucas semanas após o muro ser erguido em agosto de 1961.
Ele criou as plantas e fez os cálculos para a construção da rota de fuga subterrânea. "Como berlinense, esse muro era algo inconcebível" disse Pfeifer, hoje com 84 anos. "Separava famílias. Dividia todos nós."
Pfeifer atribui a determinação da construção do túnel à condenação de sua namorada, que recebeu pena de sete anos de prisão. "Ela tinha 22 anos e foi condenada por uma mera tentativa de fuga", contou.
Cerca de 140 pessoas morreram tentando fugir de Berlim Oriental. Não se sabe ao certo quantos morreram tentando atravessar túneis subterrâneos.
A derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial resultou na divisão do país, ratificada com o Muro de Berlim. Veja algumas estações do símbolo da divisão.
Foto: DW/M. Fürstenau
160 km de história
Durante 28 anos, até 1989, o Muro dividiu Berlim em Ocidental e Oriental. Hoje, há cada vez menos resquícios da divisão. A Rota do Muro de Berlim tem 160 quilômetros, que podem ser seguidos a pé ou de bicicleta.Testemunhos daquele tempo e muita informação contam a história do Muro.
Memorial do Muro
O passeio pode ser iniciado em qualquer ponto da rota. Uma sugestão é começar no Memorial do Muro de Berlim, seguindo por 1,4 km a rua Bernauer Strasse, ao longo da qual ficava o Muro. Ela mostra a arquitetura assassina da antiga fronteira e lembra as pessoas que perderam a vida tentando fugir de Berlim Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Pedras redesenham percurso do Muro
Uma fileira dupla de quase seis quilômetros de paralelepípedos ajuda a imaginar onde passava o Muro. Mas qual era o lado ocidental? De trecho em trecho, há uma placa em bronze com a informação: "Muro de Berlim 1961-1989". Isso só pode ser lido por quem está no antigo lado ocidental.
Foto: DW/E. Grenier
De símbolo da divisão a marco da unidade
Seguindo em direção ao centro, chega-se aos prédios do governo federal, ao longo do rio Spree, e à praça Pariser Platz, onde fica o Portão de Brandemburgo, que havia sido isolado pelo Muro. Ele não podia ser acessado nem por Berlim Ocidental, nem pela Oriental. De símbolo da divisão, ele virou símbolo da unidade, após a queda do Muro.
Foto: picture-alliance/dpa
Checkpoint Charlie
A mais famosa das antigas passagens entre os dois lados da Berlim dividida é Checkpoint Charlie. No local, não há mais nada de original, até o ponto de controle é uma réplica do ano 2000, cercada por lojas de souvenirs baratos. Mesmo assim, o local está sempre cheio de turistas. O auge da comercialização da História são homens vestidos de soldados alemães-orientais que cobram para posar em fotos.
Foto: picture-alliance/dpa/Maurizio Gambarini
As torres de vigilância
Do lado alemão-oriental, havia mais de 300 torres de vigilância. Ali, com as mãos no gatilho, os soldados da então Alemanha Oriental vigiavam a faixa de fronteira 24 horas por dia. Apenas três dessas torres ainda existem e todas estão protegidas como patrimônio histórico. Esta da foto fica quase escondida numa rua lateral à praça Potsdamer Platz.
Foto: picture alliance/dpa/W. Steinberg
East Side Gallery, arte ao ar livre
A rota também passa pelo trecho mais longo do Muro ainda de pé. O lado ocidental do símbolo da divisão alemã sempre foi conhecido pelos seus grafites coloridos. Já o lado oriental era cinza. Artistas internacionais mudaram isso em 1990. Eles pintaram um trecho dele de 1,3 km no bairro Berlin-Friedrichshain, criando assim a mais longa galeria de arte ao ar livre.
Foto: Reuters/F. Bensch
Trocas de espiões na ponte de Glienicke
A maior parte da rota do Muro se estende por 110 km ao longo da fronteira do perímetro urbano de Berlim. Um ponto de destaque neste trajeto é a ponte de Glienicke, palco de espetaculares trocas de espiões durante a Guerra Fria e cenário de filmes como "Ponte dos Espiões", de Steven Spielberg, com Tom Hanks.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger
Museu na torre de fronteira
Trechos da rota margeiam rios, atravessam bosques e campos. O meio ambiente em volta de Berlim testemunhou muitas tentativas arriscadas de fuga. O Muro dividiu famílias e vilarejos, como Hennigsdorf, a 20 km de Berlim. Um museu na torre de fronteira conta como era a vida com o Muro.
Foto: DW/M. Fürstenau
Cerejeiras, presente japonês
Milhares de cerejeiras colorem trajetos da Rota do Muro. Elas foram doadas por japoneses, para representar a alegria pela Reunificação. A cada primavera, elas transformam estas áreas em um mar cor-de-rosa. Como embaixo da ponte Bösebrücke, no bairro Pankow. Ela foi o primeiro posto de fronteira a abrir na noite da queda do Muro, em 9 de novembro de 1989.