Túnel ferroviário mais longo do mundo recebe primeiro trem
12 de dezembro de 2016
Após 17 anos de obras, é realizada viagem inaugural pelo Túnel de São Gotardo, na Suíça, que também é o mais profundo do mundo. Investimento de 11 bilhões de euros deve melhorar transporte de carga e reduzir acidentes.
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O primeiro trem de passageiros a viajar pelo túnel ferroviário mais longo do mundo partiu de Zurique, na Suíça, neste domingo (11/12), após uma obra monumental de engenharia que levou 17 anos para ser concluída.
O Túnel de São Gotardo, de 57 quilômetros de comprimento, foi inaugurado oficialmente há seis meses, mas apenas neste domingo o trem expresso EC11 realizou a primeira viagem de passageiros da linha que irá atravessar regularmente o túnel, após uma série de testes.
São necessários cerca de 20 minutos para cruzar o túnel, diminuindo em 30 minutos a duração da viagem de norte a sul da Suíça. Em 2020, quando for inaugurado o Túnel Ceneri, de 15 quilômetros de extensão, essa redução será de cerca de uma hora.
Veja imagens do Túnel de São Gotardo
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O túnel custou em torno de 11 bilhões de euros e recebeu apoio financeiro e de engenharia de diversos países da União Europeia (UE). O novo trajeto deverá ser utilizado diariamente por 50 trens de passageiros e 260 trens de carga, em vez dos 180 que utilizavam a linha férrea sinuosa construída nos Alpes. Inicialmente, por razões de segurança, os trens viajarão no túnel a 200 km/h. No futuro, essa velocidade será aumentada para 250 km/h.
Os 57 quilômetros de comprimento do Túnel de São Gotardo superam o túnel Seikan, no Japão (53,9 quilômetros), e o Eurotúnel (50,5 quilômetros), que liga a França e o Reino Unido atravessando o Canal da Mancha. A profundidade máxima chega a 2,3 quilômetros, o que faz com o túnel na Suíça que também seja o mais profundo em todo o mundo.
Obra monumental
Os engenheiros suíços começaram a pensar em construir túneis ferroviários sob os Alpes em 1947. Em 1963, uma comissão começou a considerar opções. O projeto foi aprovado em 1992 através de consulta popular e os trabalhos de engenharia começaram em 1995.
As operações para perfuração do túnel foram iniciadas em 2002, simultaneamente nas extremidades norte e sul do percurso, e foram concluídas em março de 2011, resultando na remoção de mais de 28 milhões de metros cúbicos de rochas.
Desde então, os engenheiros da empresa Alptransit, responsável pela obra, estiveram ocupados em equipar o túnel com ferrovias, aparelhos de ventilação e outros equipamentos. Nos 17 anos de construção, completada um anos antes do previsto, nove pessoas morreram.
O São Gotardo consiste em dois grandes tubos ferroviários paralelos, separados por cerca de 40 metros, permitindo que os trens circulem ao mesmo tempo em ambas as direções, além de pequenos túneis que interconectam os túneis principais. Eles servem de rota de fuga de emergência.
A rota norte-sul vai de Erstfeld, no cantão Uri, até Bodio, no cantão Ticino. A distância vertical de 2,3 quilômetros em alguns pontos entre o túnel e os picos das montanhas acima dele é comparável a algumas das minas mais profundas da Terra. A temperatura nessas profundidades atinge os 46 graus Celsius na ausência de ventilação.
Os tubos foram feitos com enormes máquinas de perfuração produzidas pela empresa alemã Herrenknecht, líder mundial na fabricação desses equipamentos. As máquinas perfuraram vários tipos de rocha, desde as mais macias até as extremamente duras, e os túneis tiveram que permanecer estáveis à medida que os trabalhos de perfuração progrediam. A tarefa não é nada fácil se levado em conta o peso esmagador de milhões de toneladas de terra e rocha sobre eles.
O projeto do Túnel de São Gotardo visa aumentar a capacidade do transporte de carga do sistema ferroviário suíço e reduzir acidentes e danos ambientais causados pelos caminhões.
RC/dpa/afp
Fatos sobre o Túnel de São Gotardo
Suíça inaugura um novo túnel para trens que passa por baixo dos Alpes e levou 17 anos para ficar pronto. Confira alguns dos principais fatos sobre essa maravilha da engenharia moderna.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Settnik
Os números
O Túnel de São Gotardo tem 57,1 quilômetros de extensão e até 2,3 quilômetros de profundidade. Quando estiver em operação plena, passarão por ele, todos os dias, 260 trens de carga e 65 de passageiros. Ele comporta dois trilhos de oito metros de diâmetros, que têm 178 interligações, uma a cada 325 metros. O custo total da obra foi de 11 bilhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Gillieron
Montanhas em movimento
Após 17 anos de construção, o Túnel de São Gotardo está finalmente pronto para o uso. Cerca de 28 milhões de metros cúbicos de rochas foram retiradas dos Alpes suíços por tuneladoras. O cascalho produzido foi usado para fazer o concreto utilizado nas paredes do túnel. As viagens inaugurais estão previstas para o dia 1º/06, mas as operações normais só começam após outros 3.000 testes.
Foto: picture-alliance/Keystone/M. Ruetschi
Pista de corrida para trens
Uma das principais vantagens do túnel é a superfície plana da sua ferrovia. Isso facilita as viagens de trens pesados entre Erstfeld e Bodio, pois eles necessitam de menos potência e podem alcançar velocidades maiores. Assim, 260 trens de carga poderão atravessar o túnel por dia, um grande avanço em relação aos 180 que passam pelo túnel atual.
Foto: picture alliance/KEYSTONE
Máquina de criar empregos
No total, 2.600 pessoas trabalharam nos canteiros de obras do Túnel de São Gotardo, incluindo engenheiros, geólogos e operários. Juntos, eles contabilizaram quatro milhões de horas de trabalho. Os suíços, fiéis à sua reputação de precisão e pontualidade, concluíram o projeto com um ano de antecedência em relação ao cronograma original só um pouco acima do orçamento previsto.
Foto: AlpTransit Gotthard AG
Heidi, Sissi e Gabi
Os tatuzões de 400 metros de comprimento (fundo da foto), fabricados na Alemanha, foram carinhosamente apelidados de Heidi, Sissi, Gabi 1 e Gabi 2 pelos construtores. Os quatro trabalharam muito e retiraram 28,2 milhões de metros cúbicos de terra e pedras dos Alpes ao longo de 17 anos.
Sai pra lá, Japão!
Com a conclusão do túnel, a Suíça tira do Japão o título de país com a ferrovia subterrânea mais extensa do mundo. Aberto em 1988, o túnel de Seikan foi projetado após um tufão devastador afundar cinco balsas. Em busca de uma forma mais segura de atravessar o Estreito de Tsugaru, os japoneses cavaram uma passagem de 53,9 quilômetros numa região de terremotos frequentes.
Foto: Imago/Kyodo News
Mais longo que o Eurotúnel
Além de ser um prodígio da engenhria, o Túnel de São Gotardo é sete quilômetros mais longo do que o túnel sob o Canal da Mancha, que liga França e Reino Unido e já é considerado uma maravilha da engenharia moderna. O Eurotúnel, com 50,5 quilômetros de extensão, tem ainda um dos trechos submarinos mais longos já construídos, com 37,9 quilômetros.
Foto: Getty Images/AFP/D. Charlet
Não por muitos anos
O reinado de São Gotardo como o túnel ferroviário mais longo do mundo deverá acabar em 2026. Para esse ano está prevista a abertura do Túnel de Brennero, que terá 64 quilômetros e pretende reduzir os engarrafamentos no popular e sempre lotado Passo do Brennero, que liga a Áustria à Itália, aos pés dos Alpes.
Muitos engenheiros alemães trabalharam na construção do Túnel de São Gotardo, e essa situação chama a atenção para as dificuldades que megaprojetos de engenharia têm no país vizinho. O caso mais escandaloso é novo aeroporto de Berlim: a inauguração está quatro anos e meio atrasada, e o orçamento não para de subir.