Dezenas de manifestantes marchavam em direção ao palácio presidencial para exigir seus direitos e participação no governo. Talibãs usaram gás lacrimogêneo e tiros para o ar para dispersar o grupo.
Anúncio
O Talibã dispersou neste sábado (04/09) com gás lacrimogêneo e tiros para o ar uma marcha pacífica de mulheres afegãs em Cabul.
Dezenas de mulheres saíram as ruas pelo segundo dia consecutivo para protestar por seus direitos e por participação no governo. As manifestantes gritavam frases como "Vocês não têm legitimidade sem os direitos das mulheres", "Não somos as mulheres de 20 anos atrás" e "Igualdade, justiça, democracia", direcionados ao governo do Talibã.
O protesto começou com 50 mulheres marchando em direção ao palácio presidencial. Uma das participantes, Razia Barakzai, de 26 anos, disse à rede Al Jazeera que as mulheres foram detidas perto da entrada do Ministério das Finanças, onde o Talibã as "cercou" e as impediu de continuar a marcha em direção à entrada do palácio.
Segundo ela, o Talibã usou spray de pimenta e gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão. "Estivemos calmas e pacíficas o tempo todo, mas eles só queriam nos parar a qualquer custo", disse ela à Al Jazeera. Vídeos da internet mostram uma mulher ferida na cabeça.
"Não ficaremos trancadas em casa”
A marcha deste sábado foi a quarta nos últimos dias nas cidades de Cabul e Herat.
Em entrevista à agência de notícias Efe, uma mulher que preferiu permanecer no anonimato disse que, se cinco ou mais mulheres se reunirem em um local, são dispersadas pelos talibãs.
Uma das organizadoras da marcha desse sábado, Samira Khairkhwa, disse, também à Efe, que as mulheres pretendem pedir aos talibãs "uma participação significativa em todos os aspetos da vida cotidiana, incluindo na tomada de decisões e na política".
"Até que os talibãs aceitem as nossas exigências, não ficaremos caladas, nem nos trancaremos em casa", declarou.
Anúncio
Promessa de mulheres no governo
Após assumir o poder no Afeganistão, o Talibã prometeu que faria um governo "inclusivo", representando todas as etnias e tribos do país. No entanto, os líderes fundamentalistas pediram às mulheres para esperarem pelas novas diretrizes. As funcionárias públicas serão pagas mesmo estando em casa.
As afegãs defendem que nos últimos 20 anos alcançaram grandes avanços nas áreas de direitos humanos e educação e que merecem trabalhar como ministras, diretoras e em outros postos governamentais.
O porta-voz do Talibã, Bilal Karimi, disse na sexta-feira à Efe que "todos os afegãos, incluindo as mulheres, terão os seus direitos no futuro governo, mas o nível de participação das mulheres na política é algo que será decidido e ficará claro quando se forme o novo governo".
No entanto, Barakzai disse que as mulheres ainda não viram nenhuma prova desse compromisso e que, quando tentaram se encontrar com o Talibã para tratar das questões dos direitos e da participação no governo, foram rejeitadas.
"Eles inventavam desculpas de que não tínhamos a papelada certa ou que não estávamos lá na hora certa, mas parece que eles não querem falar conosco", afirmou.
le (efe, lusa, ots)
Dez filmes sobre o Afeganistão
A turbulenta história do país serviu de pano de fundo para muitos filmes internacionais, como "O caçador de pipas" e "A Caminho de Kandahar".
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Hava, Maryam, Ayesha" (2019)
O filme mais recente da diretora afegã Sahraa Karimi estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Ele conta a história de três mulheres grávidas em Cabul. Pouco antes de a capital afegã ser tomada, Karimi enviou uma carta aberta ao mundo alertando sobre o Talibã. Depois, ela fugiu do Afeganistão e encontrou abrigo em Kiev.
Foto: http://hava.nooripictures.com
"Osama" (2003)
Durante o primeiro regime talibã (1996-2001), as mulheres não podiam trabalhar, o que representava uma ameaça existencial para todas as famílias cujos maridos foram mortos ou feridos na guerra. Em "Osama", uma jovem se veste de menino para sustentar sua família. Foi o primeiro filme a ser rodado no Afeganistão desde 1996, quando a produção de filmes foi proibida pelo Talibã.
Foto: United Archives/picture alliance
"A ganha-pão" (2017)
O premiado estúdio irlandês Cartoon Saloon criou um filme de animação com um enredo semelhante: "A ganha-pão", baseado no romance best-seller de Deborah Ellis, é sobre Parvana, de 11 anos, que assume a aparência de um menino para ajudar sua família. O filme foi produzido por Angelina Jolie e foi indicado ao Oscar de melhor desenho animado.
A adaptação cinematográfica do best-seller de Khaled Hosseini trata de temas universais como culpa e redenção. A história está ancorada no turbulento último meio século do Afeganistão: a derrubada da monarquia, a intervenção militar soviética, o êxodo em massa de refugiados afegãos e o regime do Talibã. O diretor foi o cineasta suíço-alemão Marc Forster.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"A Caminho de Kandahar" (2001)
O filme do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf conta a história de uma afegã-canadense que retorna à sua terra natal para evitar o suicídio de sua irmã. Quando "A caminho de Kandahar" estreou em Cannes, em 2001, não atraiu muita atenção. Mas então vieram os ataques de 11 de Setembro, e o mundo quis saber mais sobre a situação das mulheres no Afeganistão.
Foto: Mary Evans Arichive/imago images
"Às cinco da tarde" (2003)
Dois anos depois, Samira, filha de Makhmalbaf, também representante do Novo Cinema iraniano, apresentou outro filme sobre mulheres afegãs em Cannes. "Às cinco da tarde" conta a história de uma jovem em Cabul devastada pela guerra. Depois que o Talibã foi derrotado, ela tenta estudar - e até sonha se tornar presidente.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Neste mundo" (2002)
O filme retrata dois jovens refugiados afegãos em sua árdua jornada de um campo de refugiados no Paquistão para Londres. O diretor Michael Winterbottom filmou o drama em estilo documentário com atores amadores. O filme ganhou o Urso de Ouro e o prêmio Bafta de melhor filme em idioma não inglês na Berlinale de 2003.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"O grande herói" (2013)
O filme de guerra dos EUA é baseado em um relato factual do soldado americano Marcus Luttrell. Durante a Operação Red Wings, em 2005, uma equipe de quatro pessoas tinha como alvo um grupo de combatentes do Talibã na província afegã de Kunar. Luttrell, interpretado por Mark Wahlberg, foi o único sobrevivente de uma emboscada. Um helicóptero enviado para ajudar também foi abatido.
Foto: Gregory E. Peters/SquareOne/Universum Film/dpa/picture alliance
"Rambo 3" (1988)
O terceiro filme da série com Sylvester Stallone no papel-título se passa durante a guerra soviético-afegã. Rambo vai ao Afeganistão para salvar seu ex-comandante do exército soviético. Quando lançado, supostamente o filme teria sido dedicado aos "corajosos mujahedin", que também lutaram contra os soviéticos − um mito puro para os especialistas em cinema.
Foto: United Archives/IFTN/picture alliance
"Jogos do poder" (2007)
Na década de 1980, o congressista americano Charlie Wilson arquitetou um programa secreto de financiamento para os mujahedin afegãos. O plano visava financiar armas aos combatentes, ainda considerados heróis na luta de resistência contra os soviéticos. A sátira política estrelada por Tom Hanks foi o último trabalho de direção do diretor americano Mike Nichols.