Tapa de Will Smith no Oscar 2022 gera críticas de artistas
28 de março de 2022
Mesmo ressalvando que a alopecia de que sofre a esposa do ator não é assunto para piada, figuras de Hollywood condenam o ato de violência física. Sobretudo de forma tão pública, já que tantos "buscam exemplo nos atores".
Ator atacou comediante Chris Rock diante de audiência mundialFoto: Brian Snyder/REUTERS
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O tapa que o ator Will Smith deu no comediante Chris Rock, diante das câmeras, durante a cerimônia de entrega dos Oscars, na noite deste domingo (27/03) provocou opiniões intensas, sobretudo entre os colegas de profissão de Rock, que condenaram o ato como um ataque a sua arte.
"Deixem que eu diga uma coisa, é uma prática muito ruim subir ao palco e atacar fisicamente um comediante", escreveu Kathy Griffin no Twitter. "Agora todos nós temos que nos preocupar com quem vai ser o próximo Will Smith nos clubes e teatros de comédia."
O episódio começou quando Rock tomou como alvo verbal a esposa do ator, Jada Pinkett Smith: "Jada, eu te amo. G.I. Jane 2, mal posso esperar para ver, está certo?" A referência era ao filme intitulado no Brasil Até o limite da honra, em que Demi Moore raspou a cabeça para representar uma candidata a SEAL da Marinha americana.
Em resposta, Will Smith foi até o palco e golpeou no rosto o apresentador, que comentou, surpreso: "Oh... uau... uau... Will Smith acabou de me arrebentar", enquanto o público ria. O agressor retornou a seu assento e gritou que ele deixasse sua esposa em paz.
Rock replicou que fora só "uma piada de G.I. Jane", ao que Smith rebateu: "Não põe o nome da minha mulher an tua p**** de boca." Nesse ínterim, o clima era de constrangimento, pois os espectadores da premiação haviam compreendido que não era um número ensaiado. O agredido concluiu: "Ok. Esta foi a maior noite na história da televisão."
Em 2018, Pinkett Smith revelou que sofre de alopecia, doença que causa perda dos pelos corporais. Desde então tem discutido com frequência, no Instagram e outras plataformas, os desafios que a condição lhe acarreta.
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Violência condenada
Muitos que comentaram o incidente da noite dos Oscars lembraram que a alopecia é uma experiência dolorosa, que aflige muitas mulheres negras e sobre a qual não se devia fazer piada. A firma do próprio Chris Rock coproduziu em 2009 o documentário Good hair (Cabelo bom), sobre a relação das afro-americanas com seus cabelos.
No entanto, o principal foco das críticas foi Smith. Mais tarde, ao receber o Oscar de Melhor Ator, ele pediu desculpas, mas não diretamente a Rock: "Richard Williams foi um defensor ferrenho da sua família", disse, referindo-se ao papel pelo qual foi premiado. "O amor te faz fazer coisas doidas."
"Will Smith deve um enorme pedido de desculpas ao Chris Rock. Não há escusas para o que ele fez. Ele tem sorte que o Chris não está apresentando queixa por agressão", indignou-se o produtor, diretor e ator Rob Reiner no Twitter.
George Takei, famoso pelo papel de Hikaru Sulu na série Jornada nas estrelas, criticou em especial o fato de a agressão ter sido diante de uma plateia tão grande: "Muita gente, especialmente crianças, busca exemplo nos atores. Por causa disso temos obrigação de tentar ser bons modelos de comportamento. Celebridade traz responsabilidade."
Ator alegou ter agido em defesa de sua esposa, Jada Pinkett Smith: "O amor te faz fazer coisas doidas"Foto: Angela Weiss/AFP/Getty Images
Num tuíte já eliminado, o diretor de comédias Judd Apatow descreveu o ataque como "ira e violência fora de controle", lembrando que há muito tempo as celebridades são alvo de piadas: "Elas escutaram 1 milhão de piadas sobre si nas últimas três décadas. Elas não são calouros no mundo Hollywood e da comédia. Ele perdeu o juízo."
Mark Hamill (o Luke Skywalker original de Guerra nas estrelas) tuitou que fora o momento do Oscar mais feio que já houve: "Humoristas de stand-up são bastante escolados em lidar com quem fica dizendo desaforos na plateia. Com agressão física violenta, nem tanto assim."
A presidente do NAACP Legal Defense and Educational Fund, Janai Nelson, escreveu: "Eu sei que ainda estamos todos processando [os acontecimentos], mas o jeito como violência casual foi normalizada hoje à noite por uma audiência nacional coletiva vai ter consequências que não podemos nem vislumbrar no momento."
Entre os poucos que fizeram publicamente piada da situação constrangedora esteve o ex-apresentador de shows de entrevistas Conan O'Brien: "Acabei de ver o tapa do Will Smith. Alguém tem um late night show para me emprestar só amanhã?
av (AP,ots)
A história do Brasil no Oscar
O Brasil levou a primeira estatueta por Melhor Filme Internacional. O país já teve diversas obras indicadas ao prêmio. Veja a trajetória de brasileiros na premiação.
Foto: Capital Pictures/IMAGO
"Orfeu negro"
Em 1960, "Orfeu negro", uma coprodução entre Brasil, França e Itália, ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Por representar a França, os louros ficaram com os europeus. Mas durante 65 anos foi o único filme de língua portuguesa a ganhar um Oscar.
Candidatos a melhor filme estrangeiro
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil, em 1962. Em 1995, a história de dois casais de imigrantes italianos vivendo sob o mesmo teto rendeu uma indicação a "O quatrilho", de Fabio Barreto. Dois anos depois, seu irmão, Bruno Barreto (foto), foi indicado na mesma categoria, por "O que é isso companheiro?".
Foto: picture-alliance/dpa
Melhor filme
Esnobado na categoria de filme estrangeiro, "O beijo da mulher aranha" (1985), coprodução com os EUA, foi o primeiro longa latino-americano indicado como melhor filme. A amizade entre um preso político (Raul Julia) e um homem homossexual (Will Hurt) em um presídio brasileiro também rendeu indicações de melhor roteiro adaptado e diretor (Hector Babenco). Hurt venceu como melhor ator.
Foto: 2015 ICRA LLC
"Central do Brasil"
Depois de levar o Urso de Ouro na Berlinale, "Central do Brasil", de Walter Salles, partiu para uma triunfante carreira internacional. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, o drama sobre a amizade de um menino abandonado e uma mulher desiludida de meia-idade levou também a indicação inédita de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Mas nenhum dos dois prêmios foi para o Brasil.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena_vista
Melhor curta-metragem
Brasileiros ainda emplacaram duas indicações em melhor curta-metragem. Diretor de sucessos como "A era do gelo 2", o carioca Carlos Saldanha (foto) foi indicado, em 2002, pela animação americana "Gone nutty". "Uma história de futebol" também levou Paulo Machline aos finalistas do prêmio, em 2001. O curta recria passagens da infância de Pelé e de Zuza, seu companheiro de pelada na cidade de Bauru.
Foto: Charley Gallay/Getty Images
Melhor direção
Apesar do sucesso comercial no exterior, "Cidade de Deus" foi esnobado ao prêmio de filme estrangeiro em 2004. Mas o frenético retrato do crescimento do crime organizado na favela carioca teve indicações a melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Fernando Meirelles também foi indicado como melhor diretor, mas quem levou a estatueta foi Peter Jackson, por "O Senhor dos Anéis".
Foto: imago/United Archives
Melhor canção original
O primeiro brasileiro indicado ao Oscar foi o compositor Ary Barroso (foto), autor de "Aquarela do Brasil". Ele foi um dos finalistas ao prêmio pela canção "Rio de Janeiro", do filme "Brasil", em 1945 — uma produção americana. Mais de meio século depois, em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes voltaram a representar o país na categoria com "Real in Rio", parte da trilha sonora da animação "Rio".
Foto: Brasilianisches Nationalarchiv - Arquivo Nacional
Os pré-selecionados
Por anos, a seleção de inscritos na disputa pelo Oscar coube a uma comissão do Ministério da Cultura. Desde 1954, com "O cangaceiro", de Lima Barreto, foram mais de 45 títulos, mas só quatro ficaram entre os finalistas. Em 2014, "Hoje eu quero voltar sozinho" (foto), de Daniel Ribeiro, não conseguiu uma indicação. Desde 2021, a seleção passou a ser feita pela Academia Brasileira de Cinema.
Foto: D. Ribeiro
Melhor documentário
"O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Salgado, disputou o Oscar de melhor documentário em 2015. O filme retrata a história do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, pai de Juliano. O Brasil havia concorrido antes na categoria, em 2011, por "Lixo Extraordinário", que conta a história de um projeto social no aterro do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Os filmes não foram premiados.
Foto: Wim Wenders/NFP*
Candidato em 2020
"Democracia em vertigem", da diretora Petra Costa, concorreu à estatueta de melhor documentário em 2020, mas perdeu o prêmio para "Indústria americana". O filme brasileiro, incluído na lista dos melhores do ano do "New York Times", aborda a ascensão e queda do PT e a polarização entre esquerda e direita no país. Foi a última produção brasileira a ser finalista do Oscar antes de 2025.
Foto: Netlix/Divulgação
"Ainda Estou Aqui" conquista Oscar de melhor filme internacional
"Ainda Estou Aqui" já tinha feito história ao ser indicado para três categorias do Oscar. Em 2025, conquistou a estatueta de melhor filme internacional. O filme de Walter Salles, sobre a ditadura, foi é a primeira produção totalmente brasileira a disputar o prêmio de melhor filme. Anora, de Sean Baker, venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz, pelas quais o Brasil também concorria.