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Tarefa de Obama após reeleição nos Estados Unidos não será nada fácil

7 de novembro de 2012

Presidente conclama norte-americanos a um espírito suprapartidário. Porém, impasse e marasmo político em Washington são sérios desafios para o democrata.

Foto: picture-alliance/dpa

Quando ficou claro que havia perdido as eleições presidenciais nos Estados Unidos, Mitt Romney adotou um tom conciliatório. No discurso a seus eleitores em Boston, ele declarou: "Em tempos como este, não podemos nos arriscar em disputas partidárias e guerrinhas políticas". E exigiu: "Esperamos que democratas e republicanos, em todos os níveis, coloquem as pessoas na frente da política".

Também o presidente reeleito, Barack Obama, anunciou a intenção de trabalhar lado a lado com o candidato derrotado. E recordou, diante de seus admiradores em Chicago, o slogan com que, em 2004, conquistou a convenção dos democratas de Boston: "Continuamos sendo mais do que um conjunto de estados vermelhos e azuis. Somos, e seguiremos sendo por todos os tempos, os Estados Unidos da América".

Na solução das tarefas a serem executadas, observou o presidente eleito, será preciso não apenas um espírito suprapartidário, mas também o empenho dos cidadãos. Obama enumerou algumas medidas: "reduzir o déficit orçamentário, aprovar tanto a reforma fiscal quanto a das leis de imigração e tornar o país independente das importações de petróleo".

Busca de consenso?

Contudo, parece pouco provável que o profundo abismo entre democratas e republicanos venha a desaparecer da noite para o dia, e que o impasse político vá simplesmente se dissolver. Durante pelo menos dois anos, até as próximas eleições para o Congresso, Obama terá que governar com um Senado democrata e uma Câmara dos Representantes republicana.

"No entanto, será muito grande a pressão no sentido de solucionar os problemas políticos e, sobretudo, de evitar os precipícios fiscais e os cortes orçamentários que se darão automaticamente", antecipa Stephen Szabo, diretor da Academia Transatlântica, em Washington.

Aqui, será necessário um consenso, bem como no tocante às negociações pela elevação do teto para a contração de novas dívidas públicas. Durante as últimas rodadas, os republicanos haviam se oposto obstinadamente, levando o país à beira da insolvência. Michael Herz, do Center for American Progress, não acredita que os republicanos "venham a se colocar numa situação que leve a crer que estariam dispostos, pela segunda vez, a empurrar o país pelo despenhadeiro econômico abaixo, arrastando-o ao abismo".

Obama pretende se aproximar dos republicanos e encerrar fase de marasmoFoto: AP

Impasse político

Graças a sua reeleição, o presidente democrata também conseguirá impedir que seja anulada a maior iniciativa de seu mandato: a reforma do sistema de saúde. Além disso, ele estará apto a apontar quem deverá ocupar os postos liberados na Corte Suprema, o que influenciará durante anos a legislação do país.

Entretanto, em outras situações, o impasse deverá continuar. Na opinião de Szabo, o clima político dependerá dos republicanos. "Eles terão de reconhecer que, acima de tudo, perderam este pleito por defenderem uma América que vai resvalando para a insignificância, e ainda não conseguiram se aproximar da nova América, de perfil demográfico totalmente diverso, na qual acima de tudo os latinos representam um papel importante."

Werz, do Center for American Progress, explica: "Quando a gente conversa com republicanos moderados, aqui em Washington, parece, de fato, haver uma mudança de clima, indicando o desejo de voltar a colaborar intensamente com os democratas". Também Barack Obama poderá agir de forma mais "liberta" neste seu segundo mandato, assim como ocorreu com Bill Clinton.

"Presidente ineficaz"

Eleitores de Obama parecem acreditar que problemas podem ser solucionadosFoto: Getty Images

Por sua vez, Nile Gardiner, da conservadora Heritage Foundation, não crê que a derrota mudará de forma essencial os republicanos, pois estes seguem detendo o poder de bloquear os projetos de lei do presidente. A nova geração de republicanos como o senador Marco Rubio, da Flórida, é toda de conservadores, afirma.

"Você não verá os republicanos se deslocarem em direção à esquerda. Eles manterão suas posturas conservadoras fundamentais", diz ele. Também o Tea Party seguirá influente, avalia Gardiner. O integrante da Heritage Foundation diz que as próximas jogadas cabem definitivamente ao presidente, de quem dependerão possíveis coalizões suprapartidárias.

"Até agora, não há muitos indícios de que Obama pretenda atuar de forma suprapartidária", comenta o político republicano. Segundo ele, o presidente é politicamente muito de esquerda, bem mais do que seu país, mas por outro lado é um "lame duck president", ou seja, um chefe de Estado ineficaz.

Nile Gardiner tampouco crê que a reforma das leis de imigrações, pela qual Obama se empenha, venha a se efetuar. Para tal iniciativa, ele não vê "qualquer entusiasmo por parte dos republicanos".

Poucas mudanças na política externa

Em termos de política externa, Barack Obama tem maior liberdade, por não depender do Congresso. "Acredito que no conflito em torno do programa nuclear do Irã, o presidente tentará encontrar uma solução pacífica. Ele tentará colaborar com a Rússia, embora eu não veja com muito otimismo a possibilidade de grandes resultados neste sentido", projeta Stephen Szabo.

A retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão transcorrerá como planejado. Também nas relações com a Europa, nada mudará, acredita Szabo. Obama se voltará mais para a Ásia e se ocupará dos desdobramentos no Oriente Médio, prevê o diretor da Academia Transatlântica.

Michael Werz tampouco antecipa profundas mudanças de curso político. Segundo ele, será mantido o tom mais moderado que Obama trouxe à Casa Branca, sem quaisquer rupturas no tocante às relações transatlânticas.

"O perigo maior é o de que as relações permaneçam estáveis e de que o intercâmbio econômico continue forte, significativo e estreito, mas que no âmbito político apareçam certos sintomas de fadiga. E que se empregue pouca fantasia sobre como a Europa e os Estados Unidos podem se unir para enfrentar juntos os problemas em outras regiões do mundo."

Autora: Christina Bergmann, de Washington (av)
Revisão: Soraia Vilela