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Teatro alemão ameaçado de morte

av18 de dezembro de 2002

A Aliança pelo Teatro, fundada pelo presidente Johannes Rau, divulgou um relatório alarmante sobre a situação das artes cênicas no país.

Uma morte nem tão simbólicaFoto: AP

Nenhum outro país do mundo subvenciona tanto seus teatros, casas de ópera e orquestras clássicas quanto a Alemanha. A cada ano, 20 milhões de espectadores freqüentam os mais de 150 teatros e óperas públicos. Acrescentando-se os apreciadores de música erudita, chegamos à cifra de 35 milhões de pessoas em 120 mil eventos culturais, segundo os números da Associação dos Palcos Alemães. Toda esta variedade custa aos cofres públicos dois bilhões de euros por ano, o que equivale a 0,2% de todos os gastos em nível federal, estadual e municipal.

A Alemanha continua sendo um pólo de atração para jovens artistas de todo o mundo: boa parte dos grandes cantores de ópera norte-americanos da atualidade começou e construiu sua carreira nas casas nacionais e municipais alemãs. Porém a crise financeira nacional tem afetado os palcos do país nos últimos anos, levando o presidente Johannes Rau a convocar em 2001 a Aliança pelo Teatro. Rau considera esta arte um "grande patrimônio cultural" da Alemanha, que cabe salvar.

A comissão é formada por superintendentes, secretários de Cultura e representantes sindicais. Todos concordam num ponto: é preciso atrair um público maior, mas isso não elimina a necessidade de um patrocínio público mais eficaz para o setor cultural. Segundo o relatório da comissão, intitulado "Futuro da Ópera e do Teatro na Alemanha", divulgado recentemente, há muito a melhorar, pois as casas de espetáculos necessitam de maior flexibilidade administrativa e orçamentária. Para tal devem fixar novas prioridades, orçamentos pertinentes e ter condições legais básicas para a administração dos palcos.

Desde a criação da aliança, a situação dos palcos alemães continua piorando: o diretor-geral da Ópera de Stuttgart, Klaus Zehelein, considera esta a "maior crise" que as artes cênicas já viveram no país. A capital Berlim, por exemplo, possui menos casas de ópera do que seria necessário fechar somente para pagar os juros mensais de seus dívidas.

Inutilidade das mesas-redondas

Em entrevista à DW-WORLD, o diretor-geral da lendária Schaubühne de Berlim, Jürgen Schitthelm, declarou-se desapontado com o relatório da comissão convocada pelo presidente: "Eu esperava muito mais. Atualmente na arte é como em todo o resto: mesas cada vez mais redondas. Só se fala em consenso, mais uma vez ninguém sugeriu medidas concretas".

Schitthelm descreve aquilo que define como uma "situação absurda": os teatros não podem deliberar sobre suas próprias verbas, sendo apenas responsáveis pelos contratos artísticos, mas não pelo restante do pessoal.

Cabe aos governos estaduais negociar com os sindicatos os ordenados dos funcionários de teatros públicos, por exemplo do pessoal técnico ou de limpeza, com base nos acordos coletivos. Assim, os pacotes salariais para os empregados da limpeza urbana valem também para os funcionários das óperas. "Já há mais de dez anos a Associação dos Palcos reivindicou para os teatros o direito de negociar seus próprios acordos salariais, mas os sindicatos se opuseram", lembra Schitthelm.

A administração devora a arte

O resultado é que a cada ano as casas de espetáculos têm que pagar a seus funcionários os aumentos negociados em bloco pela Conferência dos Secretários Estaduais do Interior. Entretanto esses custos adicionais não são compensados, pois as subvenções ou estão estagnadas ou foram radicalmente reduzidas. Enquanto isso, os custos de pessoal crescem inexoravelmente. Até que não haja mais dinheiro para a arte.

Para Heinz-Dieter Sense, diretor-gerente da Deutsche Oper de Berlim, o problema é ainda mais fundamental: "O obstáculo é a situação legal, o direito trabalhista alemão. Enquanto não modificarmos essas bases sócio-políticas, nada irá para a frente". É certo que, em época de crise, não há como satisfazer em nível ideal as exigências de cada teatro, como nos bons e velhos tempos. Mas com 80 a 85% de custos fixos de pessoal, não será possível manter por muito tempo mais a flexibilidade de planejamento e estruturação. Sense nem se atreve a calcular quantos teatros serão vítimas da atual crise financeira.

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