Tecnologias que tornam os Jogos Olímpicos mais justos
Sarah Wiertz
7 de agosto de 2021
Em modalidades como natação e atletismo, "touchpads", sensores e até câmera que tira 10 mil fotos por segundo ajudam a monitorar o desempenho dos atletas e os juízes a decidirem quem vai para o pódio.
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São os últimos cinco metros: entre respingos de água e cabeças de nadadores que mergulham para dentro e fora da água, quase não é possível ver as mãos dos atletas. Quem chegou em primeiro? Logo depois, nadadores, treinadores e jornalistas olham para o placar como se estivessem enfeitiçados após a final dos 100 metros livres masculinos: 47,02 segundos. Caeleb Dressel, dos EUA, é o campeão olímpico de Tóquio 2020 – seis centésimos de segundo mais rápido do que o australiano Kyle Chalmers.
A decisão de quem foi o vencedor não pode ser tomada a olho nu – e sem a ajuda da tecnologia. "Não podemos cometer erros. Temos uma responsabilidade especial", diz Alain Zobrist, chefe da Swiss Timing, empresa responsável pela cronometragem desde os Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles. "Afinal, não se pode pedir aos atletas que repitam a disputa".
Como se mede o tempo nos esportes?
Na natação, há touchpads (almofadas de toque) colocadas na borda da piscina desde 1968. Os nadadores o tocam ao alcançar a chegada, parando assim, eles mesmos, a cronometragem de seu tempo. "Essa técnica, que agora também é utilizada na escalada esportiva, foi melhorada ao longo dos anos, mas ainda se baseia no mesmo princípio", explica Zobrist.
Parece curioso que seis centésimos de segundo decidam sobre medalhas, participação em próximas rodadas ou desclassificações. Em 1972, por exemplo, o americano Tim McKee perdeu para o sueco Gunnar Larsson na final dos 400 metros medley por dois milésimos de segundo, o equivalente a dois milímetros na piscina.
"Poderíamos medir até o milionésimo de segundo. No entanto, os dispositivos são calibrados de acordo com as regras de cada associação esportiva", acrescenta Zobrist. Na época, a Federação Internacional de Natação (FINA) decidiu que apenas os centésimos de segundo deveriam ser medidos.
Isso causou um fato curioso nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016: um empate triplo na segunda colocação entre os nadadores Michael Phelps, Chad Le Clos e Laszlo Cseh, após marcarem o mesmo tempo na final dos 100 metros borboleta. Nas modalidades de maior velocidade – no ciclismo, por exemplo –, a regra é que o tempo dos atletas seja exibido com três dígitos após a vírgula decimal.
Como funciona o photo finish?
Além da cronometragem do tempo, a tecnologia photo finish registra quão próximas estiveram a vitória e a derrota, e às vezes pode dar até uma resposta ainda melhor.
Na modalidade corrida de estrada dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o vencedor pôde ser claramente identificado. Mas quem ficou com o segundo lugar, o belga Wout van Aert ou o duas vezes vencedor do Tour de France Tadej Pogacar, da Eslovênia? A tecnologia photo finish fez o tira-teima e mostrou que o belga deveria ganhar a medalha de prata.
A câmera que faz o photo finish tira 10 mil fotos por segundo dos primeiros cinco milímetros da linha de chegada. Depois, as fotografias são sobrepostas para criar a imagem tira-teima que se costuma ver na televisão.
"Os tempos e as imagens da linha de chegada estão quase sempre disponíveis após 15 segundos, no máximo”, conta Zobrist. No entanto, eles são sempre verificados e aprovados pelos árbitros oficiais.
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Quando uma largada é queimada?
O progresso na tecnologia de sensores levou a mais justiça no esporte. No passado, os corredores mais próximos do juiz eram favorecidos, pois ouviam um pouco mais cedo o tiro de espoleta que dava início à corrida.
Mas, hoje, a pistola do árbitro está conectada eletronicamente a alto-falantes posicionados diretamente atrás de cada bloco de partida, e o som chega simultaneamente a todos os participantes.
A maioria dos atletas aprecia as conquistas técnicas, pois elas garantem resultados objetivos e justos. Mas, por outro lado, alguns corredores têm problemas com o desenvolvimento dos novos blocos de partida onde estão instalados sensores nos apoios dos pés, para medir o tempo de reação dos corredores.
Zobrist explica: "Quem largar mais rápido do que um décimo de segundo após o tiro é desclassificado", pois é fisicamente impossível reagir tão rápido a um som. Isso acontece com bastante frequência no atletismo: por exemplo, na final dos 100 metros rasos masculinos, que o britânico Zharnel Hughes queimou a largada e teve que abandonar prematuramente a prova.
Há um total de 350 placares nos Jogos de Tóquio, e 200 quilômetros de cabos foram instalados. Todo esse equipamento pesa 400 toneladas. Além da parafernália técnica, 530 cronometristas profissionais e 900 voluntários garantem que tudo corra bem.
O que define os Jogos Olímpicos, porém, são acima de tudo as histórias pessoais, o espírito de luta dos atletas e suas emoções inesquecíveis – e a tecnologia não pode oferecer nada disso, apenas os atletas.
As mascotes dos Jogos Olímpicos
Os Jogos tiveram mascotes a partir de 1972, em Munique. Animais e figuras reais ou fantasiosas representam cada edição e motivam atletas e espectadores.
Foto: kyodo/dpa/picture alliance
Munique 1972: cão-salsicha Waldi
A primeira mascote da história dos Jogos Olímpicos foi o dachshund (cão-salsicha) Waldi. O famoso designer alemão Otl Aicher, que o concebeu para Munique 1972, escolheu esta raça canina porque ela se caracteriza pela resistência, tenacidade e agilidade, atributos importantes dos atletas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Montreal 1976: o castor Amik
O castor preto Amik representa, para os canadenses, trabalho árduo. O nome significa castor na língua algonquin, a mais difundida entre os indígenas canadenses. A escolha pelo animal, nativo do Canadá, se deveu a características importantes para um atleta: paciência e trabalho duro para construir as barragens onde vive.
Foto: Sven Simon/imago
Moscou 1980: o urso Misha
Em 1980, os Jogos em Moscou tiveram o animal nacional da Rússia como mascote. Ele foi concebido pelo caricaturista e ilustrador de livros infantis russo Viktor Chizhikov, que alcançou fama internacional com Misha. A imagem da mascote chorando na cerimônia de encerramento emocionou o mundo.
Foto: Sven Simon/imago
Los Angeles 1984: a águia Sam
Outro animal símbolo nacional: a águia Sam. Idealizado pelo desenhista Robert Moore, dos estúdios Disney, o animal tinha um chapéu cartola e gravata borboleta nas cores da bandeira dos Estados Unidos.
Foto: Tony Duffy/Getty Images
Seul 1988: o tigre Hodori
Nos Jogos na capital da Coreia do Sul, o escolhido foi o tigre Hodori, um animal enraizado na cultura e mitologia coreanas, e que representa vigor e espírito de luta. Em sua cabeça, a mascote usa um sangmo, chapéu típico de músicos populares sul-coreanos. Seu criador foi Kim Hyun. O nome é uma mistura de horangi, que significa tigre, e dori, diminutivo de garoto.
Foto: Sven Simon/imago
Barcelona 1992: o cão pastor Cobi
A mascote espanhola idealizada pelo designer Javier Mariscal no estilo do cubismo foi uma homenagem ao pintor espanhol Pablo Picasso. O nome vem do comitê organizador dos Jogos de Barcelona.
Foto: Pressefoto Baumann/imago
Atlanta 1996: Izzy
Izzy foi a primeira mascote olímpica que não representava um animal típico do país. O designer americano John Ryan criou uma criatura puramente imaginária. O difícil era dizer do que se tratava, tanto que o nome é uma abreviação de "Whatizit", forma informal da pergunta "What’s it?" (O que é isso?, em inglês).
Foto: Michel Gangne/AFP/Getty Images
Sydney 2000: Olly, Syd e Millie
Pela primeira vez, os Jogos tiveram três mascotes numa edição. Criadas pelo designer Matthew Harton, elas representam animais nativos australianos. Olly, cujo nome vem de Olimpíada, é um pássaro kookaburra; Syd, versão reduzida de Sydney, é um ornitorrinco; e Millie, batizada em homenagem ao novo milênio, é um equidna, espécie de porco-espinho.
Foto: Arne Dedert/dpa/picture-alliance
Atenas 2004: Athena e Phevos
As mascotes dos Jogos Olímpicos de Atenas foram uma homenagem à mitologia grega. Athena e Phevos receberam os nomes de irmãos do Olimpo. Athena era a deusa da sabedoria e deu o nome à cidade onde se realizaram os Jogos. Phevos era o outro nome de Apolo, deus da luz e da música. A inspiração para o desenho, feito por S. Gogos, foi uma "aitala", boneca de terracota encontrada em escavações.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Image
Pequim 2008: Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini
Os Jogos na capital chinesa tiveram cinco mascotes, cada um numa cor dos anéis olímpicos: Beibei, um peixe; Jingjing, um panda; Huanhuan, o fogo olímpico; Yingying, um antílope tibetano; e Nini, uma andorinha. Os nomes foram derivados de "Beijing huanying ni", que significa "Pequim lhe dá as boas-vindas".
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
Londres 2012: Wenlock e Mandeville
Wenlock e Madeville – esta última mascote dos Jogos Paralímpicos – lembram gotas de aço. Elas têm na cabeça um escudo laranja que lembra os sinais luminosos sobre os táxis ingleses. O olho, uma câmera, simboliza a era digital. Um nome vem de Much Wenlock, que teria inspirado o Barão de Coubertin a criar os Jogos da Era Moderna, e o outro vem de Stoke Mandeville, berço do Movimento Paralímpico.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Rio 2016: Vinícius e Tom
A mascote Vinícius é uma mistura de macaco e gato selvagem e representa a fauna brasileira. Já a mascote paralímpica Tom combina várias plantas e representa a flora brasileira. Os nomes foram inspirados em Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Foto: Sebastiao Moreira/dpa/picture alliance
Tóquio 2020: Miraitowa e Someity
Miraitowa significa "futuro" (mirai) e "eternidade" (towa), em japonês. O projeto do artista Ryo Taniguchi foi escolhido por estudantes japoneses e combina futurismo com o tradicional estilo mangá. Já Someity, mascote dos Jogos Paralímpicos, mistura o termo "Someiyoshino", um tipo popular de flor de cerejeira, e a expressão "so mighty" (tão poderoso, em inglês).
Foto: picture-alliance/Kyodo/Maxppp
Paris 2024: os barretes Les Phryges
As mascotes dos Jogos de Paris também vêm em dupla: Les Phryges, em versão olímpica e paralímpica. Sua forma é inspirada no barrete frígio, "uma peça de vestuário que é um simbolo de liberdade, tem sido parte de nossa história há séculos e data a tempos remotos", "um símbolo de revoluções" e onipresente na França, explica o website do evento.