"Telefone de Hitler" é falso, assegura especialista
25 de fevereiro de 2017
Diretor de Museu de Comunicações de Frankfurt aponta discrepâncias quanto a suposto telefone vermelho do ditador nazista. Casa de leilões posta fotos na internet – e agrava as dúvidas sobre a autenticidade do aparelho.
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Pode ser uma fraude o telefone vermelho que supostamente pertenceu a Adolf Hilter, arrematado por 243 mil dólares (753 mil reais) em 19 de fevereiro por um comprador não identificado. Pelo menos essa é a opinião Frank Gnegel, diretor do departamento de coleções do Museu de Comunicações de Frankfurt.
"Trata-se claramente de uma falsificação", afirmou o especialista ao conceituado jornal Frankfurter Allgemeine. "O telefone em si foi produzido pela Siemens & Halske, mas o fone é de um aparelho inglês. Nunca se produziu desse modo. Ele deve ter sido posteriormente montado na Inglaterra", onde esteve durante um bom tempo, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
A casa de leilões Alexander, que vendeu o telefone nos Estados Unidos, argumenta tratar-se de uma construção especial, para que o fone não caísse do aparelho durante o transporte, feita por uma sucursal da Siemens no Reino Unido que teria cooperado estreitamente com a matriz até o início da guerra.
"Essa afirmação é bastante idiota", rebate Gnegel, pois se nota que a peça inglesa não se encaixa bem no aparelho alemão. "Por que uma firma no Reino Unido construiria um fone para Hitler? A Siemens teria certamente fabricado com prazer um novo telefone para ele."
O especialista prossegue argumentando que a Siemens teria fornecido "um exemplar condizente, de plástico tingido, em vez de pintar um telefone preto, de maneira antiprofissional".
"Tudo o que tinha a ver com Hitler era produzido com a mais alta qualidade, por que simplesmente se pintaria por cima da gravura? Além disso, era totalmente implausível Hitler ter um aparelho com dial rotativo, já que ele era sempre conectado manualmente à rede telefônica."
No museu em Frankfurt, Gnegel é responsável por uma das coleções mais importantes sobre a história da telefonia na Europa, com um total de 2 mil aparelhos datando a partir do ano 1881.
"Um telefone quebrado e uma boa história"
Em reação às ressalvas quanto à autenticidade do objeto, a casa de leilões americana postou na internet fotos do interior do aparelho. A medida, contudo, só agravou as dúvidas entre colecionadores e entusiastas de telefones.
O restaurador holandês Arwin Schaddelee, por exemplo, lista em seu blog uma série de discrepâncias. "Ele está marcado W38, uma designação empregada pelos correios alemães. Isso indica que foi originalmente fornecido por eles. Se fosse um telefone feito sob encomenda pela Siemens & Halske, ele, por definição, não seria conforme com as especificações W38."
"Alguém encontrou um interessante aparelho quebrado incompleto, o consertou, pintou e inventou uma boa história que combinasse", é a conclusão de Schaddelee sobre o objeto anunciado pelos vendedores como "arma de destruição em massa".
AV/ots
Dez olhares sobre a Segunda Guerra no cinema
Conflito mundial e suas facetas são tema de uma série de produções cinematográficas. Confira dez filmes conhecidos, de "O grande ditador" até "A queda".
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
O grande ditador
A sátira de Charles Chaplin à figura de Adolf Hitler, de 1940, foi a primeira obra sonorizada do diretor, que mais tarde diria que o filme só foi feito devido ao desconhecimento sobre o alcance do terror nazista. "Se soubesse do horror dos campos de concentração, não teria podido fazer 'O grande ditador'". Em março de 1931, Chaplin foi alvo de protestos por parte dos nazistas ao visitar Berlim.
Foto: AP
Ser ou não ser
Um dos primeiros filmes que tratam do nazismo, o longa-metragem de Ernst Lubitsch narra a história de uma trupe de atores de Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial. Sátira veemente antinazista, rodada no ano de 1942, revela, contudo, certa ingenuidade do diretor – judeu alemão vivendo nos EUA – frente ao que ocorria na Europa.
Foto: Kinowelt/Arthaus
Kanal
O filme de 1957 do polonês Andrzej Wajda, com impressionante fotografia em preto e branco, foi premiado no Festival de Cannes. O longa-metragem encena o levante no Gueto de Varsóvia durante a Segunda Guerra, embora sua força não esteja no registro do conflito, mas no olhar sobre as tragédias individuais. O título remete à canalização de esgoto da cidade por onde os combatentes fugiram.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
A infância de Ivan
O diretor russo Andrei Tarkóvski assumiu um filme em andamento, transformando a narrativa militar da direção anterior em uma obra (de 1962) sobre a guerra a partir da perspectiva infantil. Tarkóvski contrapõe o passado/sonho (a infância do protagonista antes de ter a família exterminada) ao presente/real (a Rússia invadida pelos nazistas) – prenúncio de temas que o diretor viria a retomar depois.
Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN
O ovo da serpente
O cenário deste filme do sueco Ingmar Bergman de 1977 é a Alemanha entre guerras, mais precisamente da hiperinflação de fins de 1923, mas seu tema é a gênese do nazismo no país, identificada nos anos da República de Weimar. O longa-metragem foi considerado pelo próprio Bergman seu pior filme, mas se tornou importante quando se fala em Segunda Guerra Mundial e nas raízes do regime nazista.
Foto: picture-alliance/ dpa
A trégua
Baseado no livro autobiográfico de Primo Levi, o filme de 1996 dirigido por Francesco Rosi relata a volta do escritor para a Itália após sua libertação de Auschwitz. O filme concentra-se no "retorno à vida" dos prisioneiros após a libertação dos campos de concentração, entregues à memória daquele momento atroz. Dias após ficar sabendo que seu livro seria adaptado para o cinema, Levi suicidou-se.
Foto: picture-alliance/United Archives/Impress
Moloch
Primeiro filme da tetralogia do poder do diretor russo Aleksandr Sokúrov, esta ficção de 1999 retrata Adolf Hitler e Eva Braun na mansão de descanso do ditador perto de Berchtesgaden. Com referências à iconografia romântica de Caspar David Friedrich, integrante do imaginário nazista, Sokúrov cria uma caricatura ridícula de Hitler na intimidade, expondo os medos e as misérias do ditador.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
A queda
Superprodução dirigida por Oliver Hirschbiegel em 2004, A queda concentra-se nos 12 últimos dias de um Hitler alheio à realidade, escondido em seu bunker ao lado da família Goebbels. Filme altamente polêmico, recebeu críticas por arrancar o ditador do contexto histórico do nazismo, desvencilhando-o do mundo real de uma sociedade alemã que aplaudia seus discursos antissemitas em praça pública.
Foto: picture-alliance/dpa
Os falsários
O filme dirigido em 2007 por Stefan Ruzowitzky resgata um capítulo pouco conhecido da história do nazismo: o de uma operação de falsificações de dinheiro em pleno campo de concentração de Sachsenhausen. Nos anos que antecederam o fim da Segunda Guerra, 142 prisioneiros foram obrigados a falsificar milhões de dólares e libras esterlinas, com o objetivo de provocar danos à economia dos Aliados.
Foto: picture-alliance/dpa/Beta Film
Bastardos inglórios
O filme de 2009, dirigido por Quentin Tarantino, começa com a França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Um grupo de soldados de origem judaica planeja um atentado, enquanto uma judia, que viu a família ser massacrada, planeja vingança. Para críticos, o fim do filme é a prova de que Tarantino se exime completamente de qualquer compromisso com fatos históricos autênticos.