Temendo ser o próximo, líder supremo do Irã prepara sucessão
21 de junho de 2025
O aiatolá Ali Khamenei se mudou para um bunker após ter parte do escalão militar abatido por Israel. Determinado a evitar colapso do regime, ele já teria apontado três candidatos, segundo o NYT.
Khamenei tem passado os dias escondido em um bunker, segundo o NYT, e só se comunica agora por mensageiros, por temer ser rastreadoFoto: Office of the Iranian Supreme Leader/AP Photo/picture alliance
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Enfraquecido após perder vários auxiliares e ciente de que pode ser ele mesmo vítima de um atentado em breve, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, nomeou à Assembleia dos Peritos três clérigos como candidatos à sucessão, informou o jornal americano The New York Times neste sábado (21/06).
Com isso, Khamenei, de 86 anos, quer evitar um eventual colapso do regime e assegurar uma transição rápida e ordeira caso ele seja assassinado – já que, em circunstâncias normais, o processo de escolha de um novo líder supremo pela Assembleia dos Peritos poderia levar meses.
Khamenei, que comanda os militares, o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, é também o mais alto clérigo na hierarquia dos muçulmanos xiitas. Ele conduz o país com mão de ferro desde 1989 e é o mais longevo chefe de Estado em todo o Oriente Médio.
Além de nomear os candidatos à sucessão, o aiatolá também teria designado uma série de substitutos do alto escalão militar, que foi gravemente desfalcado desde o início dos ataques israelenses, no último dia 13.
Os nomes são mantidos em segredo, por razões estratégicas, já que a inteligência israelense tem sido rápida em abater também substitutos recém-nomeados e anuncia todos os dias a morte de novas lideranças.
Em 2024, o presidente iraniano Ibrahim Raisi, que era cotado para suceder Khamenei, morreu em um acidente de helicóptero. Outro nome que já circulou no passado é o de Mojtaba, filho de Khamenei ligado à Guarda Revolucionária do Irã, mas o NYT afirma que ele não estaria na lista de candidatos apresentada pelo pai.
Filho de Ali Khamenei, Mojtaba (foto) não estaria na lista de candidatos indicados pelo pai para sucedê-loFoto: Morteza Nikoubazl/NurPhoto/picture alliance
Líder supremo escondido em um bunker
A guerra entre Israel e a República Islâmica mal completou dez dias e já causou mais danos à capital iraniana, Teerã, que em toda a guerra entre Iraque e Irã (1980-1988), último grande conflito vivido pelo país.
Khamenei tem passado os dias escondido em um bunker e, segundo o NYT, só se comunica agora por mensageiros, por temer ser rastreado. À população iraniana, ele tem se dirigido por meio de pronunciamentos gravados em vídeo.
No início da semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a pressionar o aiatolá publicamente a abdicar do poder e sugeriu que há planos de assassiná-lo.
"Sabemos exatamente onde o chamado 'líder supremo' está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá – não vamos matá-lo, pelo menos não por enquanto", disse Trump em uma publicação na rede Truth Social.
O premiê israelense Benjamin Netanyahu também sinalizou que não descartava assassinar Khamenei, argumentando que isso poria fim ao conflito.
Uma eventual sucessão de poder no Irã também estaria sendo estudada por diplomatas americanos e europeus, segundo a emissora americana CBS.
Algumas lideranças europeias têm expressado publicamente reservas à ideia de derrubar o regime do aiatolá pela força, como o presidente francês Emmanuel Macron.
"Alguém acha que o que foi feito no Iraque em 2003 [...] ou na Líbia na década passada [em 2011] foi uma boa ideia? Não", disse Macron durante viagem ao Canadá para participar da cúpula do G7.
Em ambos os casos de intervenção ocidental citados por Macron, ditaduras foram depostas, mas o que seguiu depois foi um cenário de instabilidade e conflitos sangrentos.
Há também o temor de que uma operação do tipo acabe por facilitar a ascensão ao poder de forças ainda mais radicais no Irã.
Temendo bombardeios, milhares fugiram de TeerãFoto: Atta Kenare/AFP
Temor de infiltração
A rapidez com que Israel foi capaz de abater auxiliares do altíssimo escalão do governo expôs um poder frágil, abalado por ataques organizados e realizados dentro de território iraniano mediante a colaboração de agentes infiltrados. Ainda assim, segundo o NYT, o regime ainda parece estar ideologicamente coeso.
Militares do alto escalão iraniano teriam sido instruídos a abandonar meios eletrônicos de comunicação, e a população está praticamente sem acesso à internet.
Apesar de o regime de Khamenei ser altamente impopular entre os iranianos e muitos desejarem seu fim, a guerra tem sido criticada até mesmo por aqueles que mais ferrenhamente se opuseram à República Islâmica.
"Acabem com a guerra e escolham o diálogo em vez da destruição", apelaram na segunda-feira (16/06) as ativistas iranianas Narges Mohammadi e Shirin Ebadi, detentoras do prêmio Nobel da paz, ao defender o fim do programa de enriquecimento de urânio do Irã. "Esta guerra, iniciada por Israel sob violação do direito internacional, já provoca um sofrimento imenso e ameaça descambar para um conflito maior regional e mundial."
À BBC, Mohammadi, notória opositora do regime e cujo marido está preso em Teerã, argumentou que "democracia, direitos humanos e liberdade não podem vir através de violência e guerra".
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Por que Israel e Irã estão em guerra?
Os ataques contra o Irã foram deflagrados por Israel sob a justificativa declarada de impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares – pretensão que o Irã nega ter. Teerã, que é signatário do Tratado Internacional de Não Proliferação, que veta armas nucleares, alega desenvolver a tecnologia somente para fins civis.
Israel, que não é signatária desse tratado, é o único país do Oriente Médio que, acredita-se, dispõe de tais armas – algo que Tel Aviv não nega nem confirma.
Antes de ser bombardeado por Israel, porém, o Irã foi censurado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de fiscalização nuclear da ONU, por descumprir obrigações previstas no tratado.
O país produz urânio enriquecido a 60% de pureza – muito acima do necessário para fins civis, mas ainda abaixo dos 90% que possibilitariam a produção de armas de destruição em massa.
Em 2023, a AIEA anunciou ter encontrado partículas de urânio enriquecido a um grau de 83,7% de pureza em uma dessas instalações nucleares, Fordo, fortaleza encravada nos subterrâneos de uma montanha e que, até agora, segue ilesa aos bombardeios israelenses.
Segundo a CBS, diplomatas europeus e americanos teriam avaliado nesta semana as consequências e riscos de ataques a instalações nucleares iranianas, incluindo Fordo.
Desde o início da guerra, ao menos 24 pessoas foram mortas e 592 ficaram feridas nos ataques iranianos a Israel. Já os bombardeios israelenses teriam feito mais de 430 vítimas e ferido outras 3,5 mil pessoas, segundo números oficiais do regime.
ra (Reuters, DW, AFP, dpa, ots)
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
EUA entram na guerra no Irã e atacam instalações nucleares
Nove dias após início da campanha militar israelense, o presidente Donald Trump anuncia que aviões dos EUA "obliteraram" três instalações nucleares iranianas e ameaça Teerã com mais ataques se regime não aceitar imposição de um acordo. Um dos alvos foi o complexo subterrâneo de Fordo (foto). Ataques foram confirmados pelo Irã, mas a extensão dos danos ainda é desconhecida. (22/06)
EUA enviam bombardeiros, e tensão no Oriente Médio escala
Apontados como os únicos capazes de bombardear alvos subterrâneos de difícil acesso no Irã, aviões americanos B-2 foram enviados a Guam, uma ilha no Pacífico. Embora motivo do deslocamento não estivesse claro, ele ocorreu num momento em que o presidente americano Donald Trump avaliava a possibilidade de interferir diretamente na guerra entre Israel e Irã. (21/06)
Foto: Matrixpictures/picture alliance
Parlamento britânico aprova legalização do suicídio assistido
A câmara baixa do Parlamento do Reino Unido aprovou um projeto de lei que permite a adultos com doenças terminais encerrarem voluntariamente suas vidas. A votação representa um passo rumo à legalização do suicídio assistido, sendo considerada uma das mudanças mais significativas na política social britânica em décadas. O procedimento já é legal em países como Espanha e Áustria. (20/06)
A escalada militar entre Israel e Irã se agravou no sétimo dia do conflito, quando um míssel iraniano provocou danos ao principal hospital do sul de Israel e ataques aéreos israelenses atingiram uma importante instalação nuclear iraniana. O centro médico Soroka, na cidade de Bersebá, foi atingido por um míssil balístico, deixando vários feridos. (19/06)
Foto: Tsafrir Abayov/Anadolu /picture alliance
Milhares protestam na Argentina contra prisão de Cristina Kirchner
Apoiadores da ex-presidente da Argentina saíram às ruas em defesa da líder peronista, que começou a cumprir seis anos de prisão domiciliar por corrupção. Os manifestantes se concentraram em frente à casa do governo argentino e se espalharam pelas ruas vizinhas. Em discurso, Kirchner prometeu "voltar com sabedoria", apesar de não poder mais se candidatar a cargos públicos. (18/06).
Foto: Gustavo Garello/AP Photo/picture alliance
PF indicia Carlos Bolsonaro e Ramagem por "Abin paralela"
A PF concluiu a investigação sobre esquema de espionagem ilegal de celulares na Abin e indiciou mais de 30 pessoas, incluindo o ex-diretor da agência Alexandre Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro. A investigação mira servidores e políticos que teriam monitorado telefones e computadores de desafetos de Jair Bolsonaro durante seu governo. Ele é acusado de se beneficiar do esquema (17/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos EUA sob Donald Trump. (16/06)
Foto: Florian Gaertner/IMAGO
Milhares protestam nos EUA contra Trump
Uma multidão tomou as ruas de 2 mil cidades americanas em oposição à gestão de Donald Trump, acusado de autoritário pelos manifestantes. O envio de forças federais para reprimir protestos em Los Angeles na última semana e a convocação de um desfile militar que acontece neste sábado em Washington também pautaram as críticas nos atos apelidados de "No Kings" (Sem Reis). (14/04)
Foto: Yuki Iwamura/AP/dpa/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)