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Temer admite que pode rever política de preços da Petrobras

30 de maio de 2018

Frequentes e até diários reajustes nos preços dos combustíveis estão entre os principais fatores por trás da greve dos caminhoneiros. Governo cede nas reivindicações, mas grevistas temem que medidas sejam provisórias.

Michel Temer
Temer: "Convenhamos, a Petrobras se recuperou ao longo destes dois anos"Foto: Agência Brasil/Valter Campanato

O presidente Michel Temer admitiu em entrevista à TV Brasil nesta terça-feira (29/05), que o governo pode reexaminar a política dos preços de combustíveis da Petrobras – além da redução do valor do diesel anunciada em reação ao movimento dos caminhoneiros, que completa dez dias. Segundo relatos da imprensa, conversas já estão em andamento entre o governo e a estatal petrolífera.

"Convenhamos, a Petrobras se recuperou ao longo destes dois anos. Estava em uma situação, digamos, economicamente desastrosa há muito tempo. Mas nós não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado", declarou o presidente na entrevista.

Os frequentes reajustes nos preços dos combustíveis, inclusive diários, foram um dos principais motivos da greve dos caminhoneiros. Desde julho do ano passado, a Petrobras realiza os reajustes com base no dólar e na variação internacional do preço do barril de petróleo.

Em meio à greve dos caminhoneiros e após o anunciou da redução do preço do litro do óleo diesel pelo governo, a Petrobras perdeu mais de 120 bilhões de reais em valor de mercado nos últimos dias, refletindo temores quanto a uma interferência na política de preços da estatal.

O abastecimento de combustível começou a se normalizar em algumas cidades nesta terça-feira. Ainda há bloqueios em alguns pontos e grupos seguem pressionando para que carretas parem nas estradas, em alguns casos contra a vontade de motoristas.

As distribuidoras de combustível afirmam ter cerca de 80 liminares da Justiça para operar, mas que são impedidas pelos grevistas. Caminhões-tanque estão recebendo escolta policial nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Paraíba e no Distrito Federal.

Nesta quarta-feira, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) confirmou o início de uma greve de 72 horas da categoria, apesar de o Tribunal Superior do Trabalho (TST) ter concedido uma liminar que impedia a paralisação dos petroleiros. 

Governo cede, mas caminhoneiros mantêm greve

Na quarta-feira da semana passada, em resposta à greve, a Petrobras anunciou uma redução de 10% do preço do diesel durante 15 dias, classificada pelo presidente da estatal, Pedro Parente, como uma "medida de caráter excepcional".

No domingo, numa nova tentativa de pôr fim à greve dos caminhoneiros, o governo federal anunciou a redução de 46 centavos no preço do litro do diesel por 60 dias, além da isenção de pagamento de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios. Temer prometeu usar recursos públicos para compensar perdas da Petrobras.

O presidente informou que o corte de 46 centavos se dará com a redução a zero das alíquotas do PIS-Cofins e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre o diesel.

Temer também anunciou a determinação de que 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sejam feitos por caminhoneiros autônomos. Segundo a Confederação Nacional de Transporte (CNT), 54% da frota de caminhões no país pertencem às transportadoras, os autônomos detêm 46%.

Por meio de nota, a Confederarão Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) afirmou que "entende que as propostas do governo ainda estão em desacordo com as reivindicações" das bases que optam pela continuidade do movimento.

Eles entendem que a redução no preço do litro do diesel e o fim das cobranças do PIS-Cofins são algo provisório e que em alguns meses o combustível pode voltar ao valor atual. Na terça-feira, o Senado aprovou um projeto que elimina a taxa neste combustível somente até o fim do ano. 

Além disso, os caminhoneiros paralisados acreditam que a queda de 46 centavos no litro do diesel não terá efeito prático. Para eles, a política de liberdade de preço não garante que um desconto dado nas refinarias será repassado pelo dono do posto.

"Em tempos de desabastecimento, será difícil ver algum desconto nas bombas", opina Orlando Fonte Lima Junior, coordenador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes da Unicamp, em entrevista à DW Brasil.

Segundo os caminhoneiros, o custo com diesel consome 70% do que faturam com o frete. "Quando um pneu arrebenta ou temos que fazer uma manutenção, não sobra nada", exemplifica Lima Junior.

PV/dw/ots

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