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Temer mantém velha política de loteamento de ministérios

Jean-Philip Struck13 de maio de 2016

Especialistas criticam escolhas com base em critérios políticos em detrimento de perfil técnico e afirmam que montagem parece ter sido feita para ganhar votações no Congresso.

Ministério do presidente interino Michel Temer
Foto: Agência Brasil/J. Cruz

O gabinete do presidente interino Michel Temer mal tomou posse e já levantou críticas pela sua composição. Muitos apontam a falta de diversidade e a ausência de mulheres e negros. A promessa de que os ministérios seriam ocupados por uma maioria de "notáveis" também ficou para trás.

Temer reduziu o número de ministérios de 32 para 23, mas, ao mesmo tempo, convocou vários políticos que já ocuparam pastas nos governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de acomodar novos aliados, alguns deles controversos.

O presidente interino disse que pretende fazer mudanças que impulsionem a economia, o que de fato se refletiu na escolha do economista Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. Porém, a composição do gabinete mostra que Temer não esperou para repetir o velho modelo de loteamento político de cargos em troca de apoio.

O professor de sociologia Franz Josef Brüseke, que dá aulas na Universidade Federal de Sergipe (UFS), afirma achar positivas as mudanças nas áreas econômica e de política externa (que ficou nas mãos de José Serra), mas acredita que os nomes em outras pastas terão consequências negativas.

Trecho da entrevista de Henrique Meirelles

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"Ele escolheu pessoas com reconhecida capacidade para a economia, e é possível esperar uma melhora. Também decidiu enxugar um pouco a Esplanada, algo simbólico. Mas, em outras áreas, o perfil técnico deu lugar à política. A montagem parece ter sido feita para ganhar votações no Congresso", afirmou.

"Desse jeito, ele tenta evitar a turbulência interna que Dilma enfrentou, mas frustra setores da sociedade civil que querem um Estado mais eficiente. As pessoas vão estar atentas para cada passo em falso desse governo."

Preocupação com alguns nomes

Para se aproximar do Congresso, Temer escolheu nove deputados e três senadores para o gabinete. A divisão do poder também resultou em três ministérios para o PSDB e dois para o PP. DEM, PSB, PPS, PSD, PRB e PR – siglas que tiveram papel determinante no impeachment de Dilma – levaram um ministério cada. Seis desses partidos governaram com a petista.

Temer também agraciou parte do seu "núcleo duro" com pastas. O grupo é formado por Eliseu Padilha (Casa Civil), Romero Jucá (Planejamento), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). Coincidentemente, todos ocuparam ministérios nos governos Lula e Dilma. Somente nesse alto escalão de ministros, três são alvos de investigações na Operação Lava Jato – Jucá, Alves e Lima – e agora passam a contar com foro privilegiado.

Para o especialista Thomas Manz, diretor da Fundação Friedrich Ebert no Brasil, não seria possível esperar algo diferente de Temer. "As alianças no Brasil são todas pragmáticas e não programáticas. E Temer é o mais pragmático de todos. Ele não está lá para reformar, mas para manter todo esse sistema", afirma.

Manz também critica o perfil do gabinete. "É um ministério conservador, sem mulheres e representantes de minorias, além de acomodar suspeitos de corrupção. É um gabinete que olha para o passado, e não para o futuro", afirma.

Ele também vê com preocupação a escolha de alguns nomes. O Ministério da Educação foi entregue a Mendonça Filho, do DEM, um partido que já entrou com ações na Justiça para barrar as cotas raciais em universidades. A Saúde ficou com o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que não tem experiência na área.

Para a Justiça, Temer escolheu Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo que reprimiu manifestações estudantis e foi acusado pela imprensa de maquiar estatísticas de criminalidade no Estado.

"É possível prever que a agenda social vai ficar em segundo plano nesse governo", diz Manz, que avaliou ainda que a costura política de Temer também não é à prova de turbulências. "Da forma que o sistema se encontra, é impossível atender todos os interesses dos partidos, em especial o do seu próprio, o PMDB. Ele ainda vai ter problemas", afirma.

Oportunidade para reformas

Já Beate Forbriger, diretora do Instituto Friedrich Naumann, viu como positiva a escolha de Meirelles para a Fazenda e disse que o momento é de oportunidade para promover reformas na área. "Temer mandou um bom sinal na economia. Ele quer recuperar a confiança", afirmou. "O Brasil precisa fazer muitos ajustes e agora tem uma chance."

Forbriger, no entanto, é menos otimista com o restante do gabinete. "Acho que muita gente ficou decepcionada. Temer teve o bom senso de evitar nomear um pastor para o Ministério da Ciência, mas ainda assim trouxe muitos velhos políticos. Só que também seria difícil imaginar outra forma de montar um gabinete. O sistema político atual favorece esse tipo de composição. É preciso reformar tudo isso, mas não me parece que isso vai ocorrer com as mesmas caras de sempre. Vai ser preciso esperar novas eleições", disse.

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